Último DKW alemão, o F102 tinha estrutura monobloco e motor de 1,2 litro; ao receber um de quatro tempos, foi renomeado Audi e seguiu em produção

A perua (ou camioneta) DKW-Vemag, primeiro carro nacional pelos padrões do Geia: três portas, motor de 900 cm3 e conteúdo brasileiro inicial de 54%

A Vemag   Distribuidora de Automóveis Studebaker Ltda. era como se chamava de início, em 1945, a empresa que se tornaria fabricante do DKW no Brasil. Instalada no bairro do Ipiranga, em São Paulo, importava modelos da americana Studebaker. Seis anos depois passava a montar caminhões da Scania Vabis e, em 1954, tratores Massey-Harris e Ferguson. O nome Vemag, forma abreviada de Veículos e Máquinas Agrícolas S.A., vinha em 1952 com a fusão da empresa à Elit Equipamentos para Lavoura e Máquinas Agrícolas.

Com a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia) pelo presidente Juscelino Kubitschek, em 16 de junho de 1956, a Vemag foi a primeira a aproveitar os incentivos do governo à implantação de fábricas nacionais de automóveis. Em 19 de novembro do mesmo ano era apresentada a perua, ou camioneta, DKW-Vemag Universal. Foi o primeiro carro nacional pelos critérios do Geia, que não incluíam o Romi-Isetta por exigir mínimo de duas portas e quatro lugares para ser considerado automóvel.

A perua era igual à F91 alemã, com a grade de cinco frisos que lhe rendeu o apelido de "risadinha". Apenas o pára-choque dianteiro com reforço a diferenciava. As duas portas abriam-se para trás, tipo conhecido por "suicida" aqui e no exterior, pela possibilidade de abertura involuntária em caso de colisão frontal e por não impedir, nessa situação, que o ocupante fosse atirado para fora do carro. O acesso à bagagem era feito por duas tampas articuladas nas laterais. O motor de 896 cm³, com potência bruta de 38 cv (líquida de 34 cv) e torque de 7 m.kgf, também não tinha alterações em relação ao do mercado europeu. O conteúdo nacionalizado era de 54% em peso.

Esse período foi um ensaio até que começassem a sair da linha os novos DKWs, em 1958. O primeiro foi o Jipe (derivado do Munga e depois chamado de Candango), em junho, seguido em julho pelo sedã de quatro portas (chamado de Grande DKW-Vemag) e a perua baseados na série F94, com carroceria mais longa e larga e grade dianteira ovalada. A perua vinha também com janelas laterais corrediças. O lançamento com toda a pompa no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, foi precedido de um desfile com 50 sedãs, 10 peruas e 10 jipes em São Paulo.

Todos contavam com alto conteúdo nacional, o que incluía o motor, o primeiro com bloco de ferro fundido no Brasil para automóveis. A unidade de 896 cm³ era substituída já no fim do ano seguinte pela de 980 cm³, com 50 cv brutos (44 líquidos) e torque de 8 m.kgf. O mercado já lhe opunha grande concorrência, com o Volkswagen Sedan, até então apenas montado aqui, e o Renault Dauphine da Willys-Overland. A linha DKW tinha as vantagens de maior espaço interno e melhor desempenho — o sedã acelerava de 0 a 100 km/h em 30 segundos e chegava a 120 km/h. Continua

O recordista na Alemanha
Na Alemanha e no Brasil, a mecânica DKW deu origem a carros esporte com o objetivo de bater recordes. Aqui houve o Carcará. Na Europa, diante das vitórias conquistadas pelo sedã 3=6 em 1954 e 1955, os pilotos Günther Ahrens e Albrecht Wolf Mantzel decidiram projetar uma carroceria mais leve, baixa e aerodinâmica para uso em competição sobre o chassi original. O material escolhido foi plástico reforçado com fibra-de-vidro, ainda raro na produção mundial, embora fosse usado desde 1953 pela General Motors no Corvette.

Mantzel notabilizou-se pela preparação de motores a dois tempos, sobretudo DKW, sendo considerado um mago a seu tempo. Tinha uma empresa de preparação, a Obering. A. W, Mantzel & Sohn, em Ingolstadt, e era, capaz de extrair potências extraordinárias do singular motor.

Três empresas produziram as carrocerias do cupê: de início a Dannenhauer & Stauss em Stuttgart, depois a Massholder de Heidelberg e enfim a Robert Schenk, também de Stuttgart. Com peso muito reduzido — 780 kg, ou 115 a menos que o sedã — e excelente penetração no ar, o esportivo acelerava de 0 a 100 km/h em 20 segundos e atingia velocidade máxima de mais de 140 km/h, ante 31 s e 125 km/h do sedã de mesmo motor. O carro não demorou a ganhar o nome Monza, em alusão aos cinco recordes que bateu no circuito italiano de mesmo nome.
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Com dois pilotos alemães e dois suíços alternando-se, rodou por 72 horas em velocidade máxima, em dezembro de 1956, pela classe G da FIA (Federação Internacional do Automóvel), terminando a prova com média de 140 km/h.

O número de unidades produzidas não é consenso, mas fontes citam entre 230 e 240 carros. Mas com o lançamento do 1000 Sp, em 1958, a Auto Union desinteressou-se em fornecer chassis e a produção do Monza foi encerrada.

Nas telas
Vater sein dagegen sehr   Klein aber Mein
A Girl Called Rosemary   Further Than the Moon, Sea of Silence
A linha DKW teve diversas participações no cinema, mas várias foram de modelos que são secundários para nós, como o F12 e os furgões F89 e F1000. Da família que deu origem aos Vemags nacionais, vale registrar o conversível branco da série 3=6 (F93) em Vater sein dagegen sehr, filme alemão de 1957; o cupê Auto Union 1000 S 1958 em Funkstreife Isar 12, série germânica que passou de 1961 a 1963; outro desses cupês no sueco Mannekäng i rött (Mannequin in Red), de 1958; e o F89 conversível preto de 1950 em Klein aber Mein, de 1980.

Vemos DKWs também em Eye of the Needle (O Buraco na Agulha, 1981), um Munga 1957; em Das Mädchen Rosemarie (A Girl Called Rosemary, 1996), um 3=6 branco; em Verder dan de maan (Further Than the Moon, Sea of Silence, 2003), um simpático F93 conversível creme; e em Les Chinois à Paris (Chinese in Paris, 1974), outro jipe Munga. Um sedã F94 de polícia, como nosso Belcar, aparece em Stahlnetz - E 605, filme alemão de 1960.
 

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