


Nos desenhos, a interessante
suspensão: a roda dianteira e a traseira do mesmo lado eram ligadas para
se obter um efeito de compensação |
Uns
riam, outros estavam admirados, as reações eram diversas. De fato, não
se tinha notícia de nada mais feio na indústria automobilística. Mas
chegava a ser simpático se visto com bons olhos — e os fiéis à marca
aplaudiram. Com a frente mais baixa que a traseira, tinha cara de
zangado. O tom de cinza da carroceria não agradava muito e as rodas eram
pintadas no mesmo tom. A economia estava exposta também por dentro, onde
acomodava bem quatro pessoas de estatura normal em bancos de lona com
estrutura metálica à mostra. O 2CV media 3,78 metros de comprimento,
1,48 m de largura, 1,60 m de altura e 2,40 m de entreeixos. Seu peso era
de apenas 490 kg.
Simples
por fora e por dentro
No salão de outubro de
1949, no mesmo local, três unidades do também chamado Deuche estavam
presentes, agora completas. Portas, capô e tampa do porta-malas estavam
abertos para que o visitante pudesse inspecionar tudo. No lugar da
manivela havia partida elétrica e o estepe ficava na traseira, deitado
sobre a chapa do chassi sem nenhum tipo de forração.
Por dentro a simplicidade era a nota dominante. O volante de metal tinha
dois raios e o botão de buzina ao centro. A posição de dirigir não
permitia maiores ajustes. O minúsculo painel com apenas dois mostradores
— não muito maior que um telefone celular — tinha velocímetro graduado
até 100 km/h junto de hodômetro total e, abaixo, marcador de nível do
tanque. Detalhe interessante era que os bancos dianteiros e traseiros
eram idênticos. Tinham apoio de metal em forma tubular na parte mais
alta do encosto: na hora de uma frenagem brusca, bastava se segurar
nele. Havia muito espaço para objetos e, particularidade interessante, a
movimentação do limpador de pára-brisa era acionada pelo cabo do
velocímetro. Liberava-se a partir de um botão no painel e à medida que a
velocidade do 2CV ia aumentando, o vai-e-vem dos limpadores também.
Simples e funcional.
Seu motor era dianteiro e refrigerado a ar, com dois cilindros
opostos e 375 cm³ (quadrado, 62 x 62
mm), que resultavam em modesta potência de 9 cv a 3.500 rpm. Era
alimentado por um carburador de corpo simples da marca Solex em posição
invertida. A tração era dianteira, padrão na marca desde o Traction, e a
caixa de quatro marchas não tinha a primeira
sincronizada. Sua alavanca que saía do centro do painel,
perpendicular a este, era um tanto curiosa e a embreagem era centrífuga.
Se o desempenho singelo — velocidade máxima de 70 km/h — atendia bem aos
franceses do pós-guerra, o consumo em torno de 20 km/l fazia parecer
grande o tanque de gasolina de 20 litros.
A suspensão independente nas quatro rodas era muito moderna para a
categoria e até para as superiores. Usava uma interconexão lateral entre
cada roda dianteira e a traseira correspondente, cada uma com um
braço avançado ou arrastado. Quando a da frente passava por uma
ondulação que a fazia subir, isso resultava em pressão para baixo na de
trás do mesmo lado, e vice-versa quando esta chegasse ao mesmo
obstáculo. Os amortecedores funcionavam por fricção e por inércia.
Continua
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