Suburbana imensidão

Idealizado a partir de furgões de entregas, o enorme Suburban
da Chevrolet trocou a carga pelos passageiros e lançou moda

Texto: Thiago Mariz - Fotos: divulgação

O modelo 1936 já tinha carroceria toda de aço, embora com estrutura do teto em madeira; o interior espartano acomodava até oito pessoas

O modelo 1941, em vermelho, adotava as linhas mais encorpadas que voltariam no pós-guerra, até que em 1947 aparecesse outra carroceria

Quando o assunto é automóvel, o mercado norte-americano é exagerado: carros grandes, motores maiores ainda, consumo elevado de gasolina. Um dos ícones da cultura da terra do Tio Sam, os utilitários esporte não fogem à regra: em teoria voltados ao fora-de-estrada, esses gradalhões tomaram conta das cidades e das garagens das famílias que buscam espaço de sobra. E quem pensa que essa paixão é recente se engana. A Chevrolet, de pernas bambas na atual crise sem precedentes da General Motors, atua no segmento desde a década de 1930. E um dos mais longevos modelos da classe no mundo leva a gravatinha dourada na frente: o Suburban.

Como seria transformar um tradicional furgão de carga em um carro de passageiros? Foi assim que começou a se estruturar a história do Suburban. Baseado num típico panel van da GM (carroceria fechada, sem janelas) sobre o chassi do picape da marca, o modelo apareceu em 1933 trocando o compartimento de cargas por mais duas fileiras de bancos, em total de três, com capacidade para oito pessoas. Possuía apenas duas portas laterais e mais duas na traseira, uma de cada lado. O conforto e o acabamento eram básicos e o luxo estava fora de cogitação. Seu propósito era transportar pessoas.

As linhas seguiam a tendência de uma época onde os carros pareciam sempre iguais: frente longa e estreita, faróis separados dos para-lamas, estribos, para-brisa vertical, lanterna pequena e única na traseira. Tudo isso fazia parte do Suburban, além, é claro, do clássico uso da carroceria de madeira. Era o típico carro para quem queria fugir dos sedãs e peruas com algo diferente. Seu nome vinha de veículos usados no começo do século para levar viajantes que chegavam de trem, carruagens motorizadas e com uma plataforma para carga. Diversos fabricantes usaram suburban como um nome genérico do tipo de veículo — a GM só o patentearia em 1988. Vale notar que nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, quem mora nos subúrbios são as classes médias e altas.

A ideia da General Motors era fornecer o novo tipo de veículo à Guarda Nacional e a corporações civis. Para isso a carroceria passou, em 1936, a ser toda produzida em aço, embora o teto ainda usasse estrutura de madeira. Com duas portas para acesso dos ocupantes, a fileira do meio tinha dois lugares, e as restantes, três. O motor era de seis cilindros em linha, comando de válvulas no bloco e 206 pol³ (3,4 litros), com carburador de corpo simples, que entregava a potência bruta — padrão neste artigo até 1971 — de 79 cv e razoável torque em baixa rotação. Em 1937 ganhava as ruas uma versão da GMC, o braço mais utilitário da corporação.

Até 1940 pouca coisa mudava, mas no ano seguinte o visual do Suburban estava mais caprichado e encorpado. Na frente o destaque era a grande grade cromada de frisos verticais. No capô aparecia outra, menor e de frisos horizontais. Os faróis vinham redesenhados, ganhando um formato de gota. A lateral era discreta, com três janelas, e a traseira vertical trazia lanternas diminutas. Apenas na versão GMC, o motor de 228 pol³ (3,75 litros), desenvolvido a partir do Chevrolet "Stovebolt" de 216 pol³ (3,6 litros), produzia 93 cv. Por dentro, o ambiente austero podia receber os mesmos oito ocupantes. Como todos os fabricantes do país, a GM interrompeu a produção de carros entre 1942 e 1945 por conta da Segunda Guerra Mundial, período em que as fábricas produziram apenas armamento bélico.

Quando a produção foi retomada, em 1946, os clientes da marca encontraram um Suburban parado no tempo: era o mesmo modelo disponível em 1942, o que não fugia à regra das outras marcas. Só em 1947 uma nova carroceria estreava. Bem mais encorpada, os volumes estavam mais unidos. O capô ficava mais largo e os para-lamas vinham mais altos e integrados ao desenho. Os faróis circulares, um de cada lado, não estavam mais separados da carroceria. Continua

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Data de publicação: 23/5/09

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