Uma estrada para poucos

Dividindo com a Ford o segmento de picapes derivados de carros de
passeio, o Chevrolet El Camino associava estilo a versatilidade

Texto: Thiago Mariz - Fotos: divulgação

Com chassi e desenho derivados da linha Impala, o primeiro El Camino oferecia três motores, sendo um V8 de 5,7 litros o mais potente da linha

Para-brisa panorâmico era destaque no estilo, assim como aletas nos para-lamas; o modelo destinava-se tanto ao trabalho quanto ao lazer

O modelo 1960 teve alterações de estilo, que ganhou discrição, mas as baixas vendas nos dois anos levaram a GM a cancelar o "sedã picape"

Picapes derivados de automóveis não são novidade para os brasileiros. Eles estão em cena desde 1978, quando a Fiat lançou a versão de caçamba do 147, e hoje oferecem uma farta gama de opções que chegou ao ápice com o lançamento da versão de cabine dupla do Strada, também pela Fiat. Mas nos Estados Unidos, berço dos grandes sedãs com motor V8, esse tipo de veículo é incomum — e era ainda mais em meados do século passado. Quando a Ford apresentou ao mercado o Ranchero, em 1957, a Chevrolet se viu obrigada a dividir a carga que o consumidor transportaria dali para frente. O caminho foi aberto pelo El Camino.
 
Foi o grande Impala quem cedeu a plataforma inicial e o desenho da parte dianteira ao novo produto de Detroit. Lançado em 1959, dois anos depois do rival, o El Camino (o caminho, em espanhol) poderia ser considerado um risco para a General Motors, pois sua proposta era inédita na corporação norte-americana, embora algo similar já existisse na Austrália pelas mãos da subsidiária Holden. Considerado por alguns um "sedã picape", o El Camino distinguia-se de utilitários dos anos 30 e 40 produzidos pela Studebaker, a Hudson e a própria Chevrolet por ter a caçamba integrada à cabine, não independente como nos picapes tradicionais. A combinação tinha qualidades, já que não deixava o conforto de um sedã de lado — importante para o consumidor da época — e ainda aplicava uma razoável capacidade de carga.
 
A ideia do El Camino já era conhecida desde o início da década dentro da GM. Um jovem estilista da divisão de caminhões e picapes e um dos grandes entusiastas na empresa — Charles M. "Chuck" Jordan, que em 1992 sairia da GM como o quarto vice-presidente de Estilo — já havia rascunhado traços que uniam um chassi de automóvel de passeio à particularidade dos picapes. O tempo amadureceu a proposta. E por que a Ford foi dois anos mais rápida? Uma das possíveis razões é que ela já produzia desde 1952 uma perua de duas portas e carroceria toda em aço — o que a GM teria só três anos mais tarde —, base ideal para o desenvolvimento do picape. Além disso, na época em que o Ranchero chegou ao mercado, o departamento de utilitários da Chevrolet tinha como prioridade desenvolver os modelos pesados com laterais de caçamba lisas (fleetside).
 
O estilo do El Camino era feliz e contava com as formas vultosas típicas da década. A frente longa, larga e baixa contava com um par de faróis de cada lado e esguias entradas de ar no capô. Nas laterais, as caixas de roda não eram circulares e davam ideia de movimento, assim como o para-brisa curvo, que criava colunas dianteiras invertidas e uma visão panorâmica para quem estava dentro. Da porta para trás, a carroceria era aberta e nem as aletas nos para-lamas escapavam — em posição quase horizontal, elas tinham o apelido de "convés de porta-aviões" e terminavam na tampa da caçamba, sobre as lanternas em forma de gota.

Por dentro o ambiente ainda era familiar aos demais modelos da marca; o volante era grande, de dois raios e com o tradicional aro de buzina. Logo atrás ficavam os quatro mostradores circulares e independentes, sendo que o do meio, o velocímetro, era maior. O painel era limpo e simples, assim como o banco inteiriço. Painéis das portas também tinham apenas o essencial. Elaborado sobre o chassi da perua de duas portas Brookwood — com estrutura em "X" e separado da carroceria, como nos sedãs da linha —, o picape media generosos 3,02 metros no entre-eixos e o comprimento total era de 5,30 m. Carga pesada não era com ele: dependendo da mecânica, podia levar entre 295 e 520 kg de carga (ocupantes incluídos) e trazia uma caçamba com capacidade de 934 litros.
 
A mecânica continuava a do modelo do qual o El Camino derivava, com suspensão dianteira independente e traseira por eixo rígido, ambas com molas helicoidais — ao contrário do Ranchero, que usava feixes de molas semi-elíticas atrás. Os motores disponíveis começavam com o seis-cilindros em linha de 235 pol³ (3,9 litros) e avançavam com os V8 de 283 pol³ (4,6 litros) com bloco pequeno e de 348 pol³ (5,7 litros) com bloco grande. O seis-cilindros era da mesma série que equipara o Corvette nos primeiros anos e que, com 261 pol³ (4,2 litros), chegaria aos picapes Chevrolet brasileiros. O 283 era o intermediário no bloco pequeno da marca, que começava em 265 pol³ (4,3 litros), enquanto o grande 348 vinha da linha W, lançada no ano anterior. Todos usavam bloco e cabeçote em ferro fundido e comando de válvulas no bloco. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 21/11/09

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade