Os musculosos do hemisfério sul

A partir do comportado Valiant, a Chrysler australiana fez
versões de alto desempenho e um Charger diferenciado

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Existe mais em comum entre o Ford Falcon e o Valiant da Chrysler do que o fato de terem surgido nos Estados Unidos quase juntos, em 1959, para disputar com o Chevrolet Corvair o segmento de carros compactos. Se na Austrália o modelo da Ford teve uma longa sobrevida — é produzido lá ainda hoje, várias gerações depois — , o Valiant também conseguiu naquele país-continente uma longevidade maior que em sua terra natal. E com versões bem mais interessantes.

A Chrysler chegou ao mercado australiano ainda na década de 1920, a mesma de sua fundação nos EUA. Em 1935 era formada a Chrysler-Dodge-De Soto Distributors Pty Ltd., uma associação de 18 revendedores independentes para trabalhar com as marcas do grupo. Logo adquiriam a fábrica de carrocerias T. J. Richards & Sons, que em 1937 produziria o primeiro sedã australiano todo em aço. Depois de fabricar apenas munições e componentes para aviões durante a Segunda Guerra Mundial, em 1951 a empresa passava às mãos do grupo americano, sendo renomeada Chrysler Australia Ltd. Começava ali a fabricação local de automóveis e utilitários, com conteúdo 90% nacionalizado.

O modelo americano, ao lado, foi pouco modificado para a montagem na Austrália: ganhou o motor de 3,7 litros, opcional nos EUA, e o necessário volante à direita

Ao final daquela década, porém, o mercado australiano exigia carros menores que os grandes sedãs com motor V8. A Holden — subsidiária local da General Motors — fazia o sedã da série FB e a Ford preparava o lançamento do Falcon, mas tudo o que a Chrysler tinha a oferecer eram os modelos da Simca francesa, da qual o grupo americano detinha 30% desde 1958. Assim, a estréia do Valiant nos EUA indicou o caminho ideal a ser trilhado pela marca no país dos cangurus.

A decisão de produzi-lo na Austrália foi tomada no início de 1961. Os componentes de 1.000 unidades americanas foram importados para montagem local na fábrica de Mile End, em Adelaide, de modo a apressar o lançamento para janeiro de 1962. Seu desenho era um tanto polêmico, com formas angulosas e rebuscadas, grade dianteira alta e volumosa e vincos pronunciados nos pára-lamas. A tampa do porta-malas trazia um falso alojamento de estepe, que na verdade estava sob o assoalho.

Em apenas dois meses o Valiant já passava à segunda série, com câmbio na coluna de direção e tampa do porta-malas sem o falso estepe

O único motor disponível era o Slant Six (seis inclinado) de seis cilindros em linha, 225 pol³ (3,7 litros) e comando de válvulas no bloco, que fornecia potência de 145 cv e torque de 29,8 m.kgf (valores brutos, padrão neste artigo), o bastante para velocidade máxima de 145 km/h. O nome justificava-se por ter sido o motor concebido para montagem inclinada em 30° à direita, não se tratando de mero recurso no momento da instalação. Assim, permitia um capô e um centro de gravidade mais baixos e um desenho otimizado dos coletores de admissão e escapamento. Continua

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Data de publicação: 5/8/06

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