Debaixo do capô que abria para frente, preso no lado mais estreito da peça, o sedã de duas portas era movido pelo B4B, um motor de quatro cilindros em linha, 1.414 cm³ e válvulas no cabeçote (mas comando no bloco), uma inovação para o fabricante. Com carburação simples, não prometia grandes descargas de adrenalina, desenvolvendo 40 cv a 3.800 rpm.

Um marco na história da Volvo, o PV444 era simples, robusto, seguro e econômico, com seu motor de 1,4 litro e 40 cv

O PV tinha 2,40 metros entre eixos e 990 kg de peso. A tração era traseira, com suspensão dianteira independente e traseira de eixo rígido; o câmbio de três marchas tinha a alavanca no assoalho e atuava diretamente na caixa; por isso era comprida e inclinada. Freios hidráulicos a tambor eram o que havia de melhor na época. Mas sua maior inovação foi o pára-brisa de vidro laminado, o primeiro no mundo, o que comprova como é antiga a preocupação da Volvo com segurança.

Com o fim da guerra na Europa, em maio de 1945, tudo parecia pronto para que o pequeno sueco tomasse de assalto as ruas e estradas locais. Porém, uma greve dos metalúrgicos adiou tais planos por tempo indeterminado. Só duas unidades chegaram a ser finalizadas, o que permitiu os testes pré-produção necessários. Mesmo com a gasolina racionada, a Volvo rodou 30 mil quilômetros com os dois, atraindo o público que conhecia o PV444 pela publicidade como "o belo do mundo automobilístico".
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Ecos da América
A inspiração para o estilo do PV444 foi admitidamente o estilo streamline americano da virada dos anos 1930 para 1940. O conceito desse tipo de desenho era criar carrocerias aerodinâmicas que se aproximassem do formato de uma gota — e teve seu grande divulgador o Chrysler/De Soto Airflow.

Há carros americanos da época que pareciam ter servido de molde para o Volvo, como os Ford e Mercury de 1939, este último o modelo inaugural da marca. Além da traseira semelhante a um besouro, o Mercury (acima) tinha até a janela dividida ao meio, como o PV.

Por toda a fase sem guerra dos anos 1940, viam-se sósias em tamanho maior do PV444 na América. Eram modelos Nash, Dodge, Plymouth, Packard e de todas as divisões da GM. Acima, o 1946 da Ford.

O desenho do sueco tinha um capô mais aplainado, o que o ajudou a se sair bem por toda a década de 1950, quando a estética streamline já tinha dado espaço aos pavões do asfalto americanos da época, cheios de cromados e barbatanas. Na mais discreta Europa, ele não fez feio até sua saída de cena em meados dos anos 1960.

Um PV444 que custou pouco
Por volta de 1955, quando eu tinha 13 anos, um tio comprou um PV444. A circunstância da compra foi muito curiosa. Havia no Rio um estelionatário de nome Felipe que aplicou um golpe na praça, logo chamado de "filipeta". Ele comprava um carro de alguém em três ou quatro pagamentos, por um valor bem acima do que o carro valia no mercado, motivo para o vendedor não se incomodar em dar recibo de quitação, e logo vendia o carro para um terceiro — à vista, mas por preço muito mais baixo do que o valor real.

Durante alguns meses ele fez isso, obteve bom dinheiro e depois desapareceu, é claro. Muito perderam dinheiro e muitos lucraram com o golpe. O tio Jeff foi um dos que saíram ganhando, feliz da vida com seu PV444 1952 pouco rodado.

Lembro-me bem de eu, o primo Billy de 18 anos e meu irmão Rony de 15 fazendo a maior "lenha" nas ruas, num tempo em que praticamente não havia tráfego e fiscalização menos ainda. Nossa grande diversão era fazer o Circuito da Gávea (várias vezes no dia), quando a favela — hoje bairro — da Rocinha nem pensava em existir.
O Volvo era uma delícia, bom de curva, o som rasgado do escapamento (original) era pura música e o desempenho geral, dos melhores em sua época. O câmbio de três marchas não atrapalhava em nada (continuo a achar seis marchas num carro normal de rua um exagero).

O PV passava grande sensação de solidez, de bem-construído, embora naquele tempo eu ainda não tivesse noção exata do que era um monobloco. As indicações do painel eram todas em sueco. Sob o interruptor de luz, por exemplo, vinha escrito ljus, que ninguém tinha idéia como se pronunciava (deve ser lius). No manômetro de óleo, olja, certamente olia.

Anos depois meu tio comprou uma perua Volvo, parcialmente fabricada pela Carbrasa carioca, mas já não era a mesma coisa. A suspensão traseira era por feixes de mola semi-elíticas longitudinais (em vez das molas helicoidais do sedã), era um pouco mais alta e mais pesada atrás. Mas tanto um como outro deixaram-me uma impressão das melhores, cujas sensações guardo até hoje.

Bob Sharp

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