Em 1986 a Audi viu-se em problemas nos EUA. Proprietários
reclamavam que o 5000 com câmbio automático mantinha-se muito
acelerado com o câmbio na posição D (drive, à frente) ou
R (reverse, ré), tendendo a arrancar mesmo com o
acionamento do freio. Relatavam-se cerca de 250 acidentes, um
deles com morte — uma mulher atropelou o filho de três anos ao
não segurar o carro dando ré.
A questão rendeu uma grande polêmica no programa de TV 60
Minutes, uma das maiores audiências lá, e até serviços de
manobristas passaram a se recusar a estacionar o modelo. Chegou
a ser fundada uma associação de classe, a Rede de Vítimas do
Audi (AVN), iniciativa de Alice Weinstein, que afirmara ter tido
dois acidentes do tipo com seu Audi.
Cogitou-se de um defeito mecânico, mas três estudos
governamentais, realizados pelos EUA, Canadá e Japão, concluíram
que a falha era humana. Provavelmente os pedais de freio e
acelerador, mais próximos que o habitual nos carros americanos,
estivessem causando confusão e fazendo o motorista menos atento
acelerar enquanto freava — ou em vez de frear. |
Para minorar o problema, a Audi convocou os cerca de 250 mil
5000 em circulação para aumentar a separação entre os pedais. A
culpa era mais do freio muito para a esquerda.
Houve também problema na válvula de estabilização da
marcha-lenta, que por defeito fazia a rotação subir bastante —
houve casos de chegar a 3.900 rpm — a ponto de, ao se engatar
drive ou ré, o carro arrancar com violência. Nesses casos o
vácuo de admissão reduz-se e o servofreio perde eficiência, o
que exige mais força para deter o veículo.
Ocorreu outra convocação para instalar um interbloqueio que
permitia o movimento da alavanca de câmbio da posição P (parking,
estacionamento) para R ou D somente com o freio de serviço
acionado, solução logo tornada obrigatória nos EUA. Mesmo que a
marcha-lenta estivesse disparada, o carro estaria freado.
Mas a causa final, no frigir dos ovos, era falha humana,
conjugada com pouca experiência no veículo: 36,6% dos casos
ocorreram com quem tinha menos de 6.400 km com o carro, segundo
o New York Public Interest Research Group. |