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por Iran Cartaxo

Xsara VTS: um hot-hatch de 300 cv!


Gostaria de saber como melhorar o desempenho (já muito bom) de um Citroën Xsara VTS 2.0. Poderia melhorar em giro baixo apenas se colocar um filtro de melhor vazão e chip?

Márcio Kierulff da Costa
mkierulf.bh@zaz.com.br
Belo Horizonte, MG

Novamente temos no Consultório de Preparação um veículo importado, o que sempre implica maior dificuldade em implementar a preparação. Não são muitos os preparadores com conhecimentos e equipamentos suficientes para preparar um carro importado, além da maior dificuldade para encontrar peças e kits. Mas essas dificuldades têm se reduzido, principalmente nos grandes centros.

O motor do Xsara VTS já é originalmente bastante otimizado, o que fica patente pelos 83,5 cv/l -- potência específica bem alta para um motor original, mesmo se tratando de um 16V. Essa elevada potência normalmente tem um preço: resulta na elevação de regimes de torque, fazendo com que se sinta a força do motor apenas em elevadas rotações, o que causa desconforto quando dirigindo em trânsito mais pesado.

As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Xsara VTS 2-litros original (em azul); com remapeamento, filtro esportivo e coletor dimensionado (em verde); e com álcool, turbo a 0,8 kg/cm² e intercooler (em vermelho)
Embora o torque do Xsara VTS em baixos e médios regimes não seja baixo -- pelo contrário, foi bastante destacado em nossa avaliação --, o ponto máximo, 20,1 kgf.m, é obtido a elevados 5.500 rpm. Existem muitas formas, porém, de evitar a falta de torque em baixa em uma preparação, envolvendo diversos patamares de custos e diversas soluções.

Visando melhorar o torque em regime de baixa rotação, podem-se optar, entre outras soluções, por aumento do cilindrada, alteração na geometria do motor, utilização de compressor acionado mecanicamente, aumento de taxa de compressão. Mas todas são de difícil implementação nesse motor, pois ou são bastante caras, como o compressor; ou irreversíveis, como alteração na cilindrada ou geometria; ou impossíveis de aplicar devido às características do motor, como o aumento da taxa, que já é bastante elevada para o combustível nacional.

Uma solução para alcançar os resultados desejados, sendo mais simples e de custo reduzido, passa pelo remapeamento, a reprogramação dos parâmetros contidos no chip da injeção de forma a aumentar um pouco o volume de combustível injetado e o avanço do ponto de ignição, permitindo obter uma pequena melhora, mais sensível nos regimes de baixa e média rotação.

Melhores resultados são obtidos quando se alia o remapeamento a otimizações leves na aspiração e exaustão do motor, obtidas com o uso de coletor de escapamento dimensionado (que deve ser de excelente qualidade, sob pena de prejudicar o desempenho em vez de melhorá-lo) e filtro de ar de maior vazão, o conhecido filtro esportivo. Pode-se ainda aumentar o diâmetro do corpo de borboleta, mas essa solução costuma ser desproporcionalmente cara para o resultado que obtém (saiba mais).

Já bem desenvolvido de fábrica, o motor do VTS devidamente preparado pode tornar o carro um foguete

Tanto o remapeamento quanto o dimensionado e o filtro esportivo obtêm parcos resultados quando aplicados separadamente (principalmente o filtro), mas combinados podem chegar a uma otimização de 10% a 15% de potência e torque, sem elevar demasiadamente o consumo e mantendo o baixo custo da preparação. O aumento do diâmetro do corpo de borboletas pode adicionar a esse ganho ainda cerca de 3%, mas cabe ao proprietário pesar se a relação custo-benefício vale a pena. Como se vê, é a união de diversas pequenas otimizações que dá força e faz valer esse veneno leve.

O remapeamento deve ser feito de forma dedicada, ou seja, o preparador testa o carro munido de um computador portátil ou equipamento semelhante, e programa o chip na hora, em exaustivos testes. Assim a programação levará em conta o combustível, estilo de direção do motorista, clima e altitude da região, além das outras pequenas otimizações conseguidas com o dimensionado, filtro etc. Pode-se, é claro, comprar um chip previamente programado, mas o ganho será menor -- em alguns casos imperceptível --, além do risco da ocorrência de detonação causada por fatores não previstos na programação deste chip, o que pode chegar a destruir o motor.

Outra solução para aumentar o desempenho deste carro, que pode ser encontrada no Brasil sem grande dificuldade, é a aplicação de um turbo. Apesar de o turbo melhorar principalmente os regimes de média e alta rotações, uma unidade de baixa inércia pode obter bons resultados em termos de dirigibilidade. Além disso, os resultados obtidos com o turbo na melhora de desempenho são muito mais expressivos que os de uma preparação leve.

Como esse motor já possui alta taxa de compressão, o uso do turbo se limitaria a pressões mais baixas, caso seja usada gasolina como combustível ou seja mantida a taxa de 10,8:1. Uma boa alternativa é passar a utilizar álcool como combustível, mantendo a taxa de compressão -- e a reversibilidade da preparação --, podendo-se utilizar pressão de sobrealimentação mais alta.

Como a taxa é alta, o motor não ficará fraco em baixas rotações, podendo a perda de força ser facilmente revertida com um pequeno adiantamento do ponto de ignição nas rotações em que o turbo ainda não estiver pressurizando.

Simularam-se duas preparações. Uma envolve o remapeamento aliado a um filtro de ar esportivo e um coletor de escapamento dimensionado, com o devido redimensionamento do sistema de escapamento, refeito com o diâmetro 2 cm maior que o original, neste caso. A outra preparação envolve conversão para o álcool, uso de turbo de baixa inércia, pressão de 0,8 kg/cm² e intercooler, com o devido redimensionamento do sistema de escapamento. Para adequar o sistema de injeção ao turbo podem-se lançar mão de remapeamento, de caixa de gerenciamento ou de uma injeção adicional.

Observe o desempenho simulado para ambas as preparações:

  Original Remapeamento e dimensionado Turbo a 0,8 kg/cm²
Potência máxima 167 cv 181 cv 303 cv
Rotação de potência máxima 6.500 rpm 6.800 rpm 6.500 rpm
Velocidade máxima 216 km/h 222 km/h 264 km/h
Rotação à velocidade máxima 6.300 rpm 6.500 rpm 7.700 rpm
Aceleração de 0 a 100 km/h 8,6 s 8,1 s 5,5 s
Torque máximo 20,1 kgf.m 20,6 kgf.m 36,5 kgf.m
Rotação de torque máximo 5.500 rpm 5.600 rpm 5.500 rpm
Aceleração longitudinal no interior do veículo 0,72 g 0,77 g 1,13 g
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão.
Algoritmo de simulação de preparação de motores desenvolvido pelo consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF.
A preparação mais leve obtém bons resultados, melhorando de forma perceptível o desempenho e concentrando seu foco de melhorias nos regimes de médias rotações, como se pode observar nas curvas de torque e potência. Mas não deixa de ser tentadora a idéia de transformar o Xsara VTS em um superesportivo, para fazer frente a carros muito mais caros. O custo e complexidade desta preparação turbo não chegam a ser impeditivos ou desestimulantes -- de forma alguma.

Para a preparação mais leve, sistemas de freios, câmbio, suspensão, rodas e pneus podem ser mantidos originais. Para a preparação turbo, visando manter a segurança do carro e resistência dos outros sistemas, devem ser redimensionados os freios, adotando (na medida do possível) discos de freio maiores, pastilhas mais macias e pinças de freio mais potentes. No câmbio deve-se adotar uma embreagem mais forte e resistente e ter cuidados na direção para poupar as engrenagens, evitando trocá-las por outras mais resistentes, que são difíceis de encontrar para carros importados.

Na suspensão é difícil mexer, pois vem bem baixa e firme no VTS de fábrica. O fundamental é mantê-la sempre em perfeitas condições, pois qualquer economia ou negligência na manutenção pode sair caro. Nas rodas e pneus podem-se usar medidas 225/40 e aro 16, mais apropriados às novas condições. Se possível, mantenha a marca Michelin, de ótima qualidade e sempre utilizada nos estáveis Citroën.

Agora resta escolher qual o nível de desempenho que se deseja ter, sabendo que as dificuldades e custos estão diretamente ligados ao resultado obtido. O que já está hoje muito acima da média pode ficar simplesmente insuperável!


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