Alfa Romeo 145 Quadrifoglio e Citroën Xsara VTS recorrem a estilos bem
diferentes, mas têm muito em comum: motor de 2 litros e 16 válvulas de
alto rendimento, suspensões firmes, comportamento dinâmico de legítimos
esportivos -- e um estilo que atrai atenções por onde passam. Essa
similaridade, aliada a preços próximos, levou o Best Cars a
compará-los numa dupla Avaliação Completa, por cerca de 1.100
quilômetros com o Alfa e quase 2.300 com o Xsara.
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Marcas européias conhecidas pelo perfil
esportivo confrontam-se agora no Brasil;
escudo Alfa do 145 é apenas decorativo e não funciona como grade
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Lançado na Europa em 1994 e no Brasil dois anos depois, o 145 deriva da
plataforma que daria origem aos Fiats Bravo, Brava e Marea. É mais um
representante da tendência dos clones (clique aqui para saber mais), mas obtém personalidade ímpar que o diferencia
claramente dos irmãos de grupo. O capô em cunha acentuada traz em
destaque o escudo Alfa, apenas decorativo -- não admite ar -- e ladeado
por belos faróis, com refletores superelipsoidais para o facho baixo.
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Personalidade marca as
linhas do 145, com perfil em cunha acentuado e janelas ascendentes
Os vincos laterais bem definidos, a ascensão das janelas rumo à
traseira, as lanternas bastante estreitas e o vidro traseiro com base em
"V" marcam o caráter do 145. O ponto discutível é a terceira janela
lateral, que lhe confere certo ar de perua, uma opção a colunas
excessivamente largas que comprometeriam a visibilidade. A versão
Quadrifoglio distingue-se da básica, de motor 1,8-litro, por saias
laterais mais pronunciadas, menor altura de rodagem e rodas de 15 pol.
com pneus 195/55, em vez de 14 pol. e 195/60.
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Xsara
é mais arredondado e convencional, mas impressiona pela baixa altura e
linhas fluidas
Bem mais recente -- foi lançado em janeiro de 1998 na Europa e meses
depois aqui --, o Xsara três-portas, impropriamente denominado Coupé
pois se trata de um sedã, segue escola diversa. A suavidade das formas
predomina, com destaque para os faróis afilados com lentes em
policarbonato (em vidro no 145) e as laterais lisas, sem vincos. O
hatch (porta traseira) é mais inclinado e há um meio-volume como no
Escort. A nota agressiva fica por conta das particularidades da versão
VTS: altura de rodagem bem menor, rodas de 15 pol. de belo desenho e
discreto spoiler traseiro. A aparência de "carro rebaixado" soma-se à
cor amarela Naissant da unidade avaliada para compor um conjunto que não
passa despercebido nas ruas -- muito pelo contrário.
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Terceira janela
lateral dá ar de perua ao Alfa; lanternas traseiras estreitas são
típicas da marca
As diferenças continuam no interior. O painel do 145 impressiona pelo
console esportivo, com práticos difusores de ar redondos (podem ser
girados em qualquer direção), e pelo recuo à frente do passageiro que
cria agradável sensação de amplitude. O mesmo ocupante dispõe de
assoalho inclinado, conveniente em situações de grande desaceleração...
Volante -- de três raios, típico Alfa -- e pomo do câmbio trazem
revestimento em couro com costura em vermelho, mas os bancos vêm em
tecido. O acabamento geral é algo pobre, sobretudo os painéis de porta,
e o quadro de instrumentos similar ao dos Fiats quebra a esportividade,
numa economia injustificada.
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Discreto
spoiler identifica de traseira a versão VTS do Citroën, um sedã chamado
pela marca de Coupé
No Xsara tudo é mais convencional e muito próximo das versões GLX e
Exclusive, mas o posto de "pilotagem" agrada bastante. Volante, pomo do
câmbio e também os bancos são revestidos em couro, mas não os painéis de
porta, falha imperdoável. Os instrumentos harmonizam-se ao painel e
incluem termômetro de óleo que indica seu nível por alguns segundos,
dispensando a verificação por vareta. Hodômetros digitais equipam ambos,
mas o Citroën tem dois parciais, marcador de temperatura externa e
indicador da quilometragem que falta para a próxima revisão. O volante
de quatro raios não é esportivo, mas tem boa empunhadura e incorpora
comandos do sistema de áudio.
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Rodas de 15 pol. com pneus 195/55 são
exclusivas das versões esportivas, que
trazem logotipos (o do Quadrifoglio é o trevo) nos pára-lamas traseiros
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Acomodado nos bancos esportivos, com bom apoio lateral, o
motorista percebe novas distinções. Agrada no Xsara a posição obtida com
banco e volante mais baixos, criando agradável sensação de esportividade
(além de ganho discreto em centro de gravidade mais baixo) sem
dificultar o uso dos comandos, pedais inclusive. Acelerador e freio
bastante próximos buscam facilitar o punta-tacco, acionamento
simultâneo dos dois pedais. No uso normal, até se acostumar, o motorista
pressiona um pouco o acelerador ao frear, mas sem riscos.
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Interior do 145 tem
personalidade, mas acabamento é modesto e a posição de dirigir muito
alta
No 145 senta-se mais alto: mesmo na posição mais baixa ainda se está
como num Fiat, para ampla visão do trânsito, restando o toque esportivo
na posição quase vertical do volante. Este tem ajuste em altura em ambos
-- também em profundidade no Xsara, muito conveniente. Não convence,
porém, a posição da alavanca de ajuste no Alfa, muito baixa e próxima à
trava do capô. A Fiat alega desestimular o uso da regulagem com o
veículo em movimento. Por outro lado, a regulagem de encosto do Xsara
três-portas utiliza alavanca (não roldana milimétrica) e os bancos não
podem ser reclinados, inconveniente que há anos não se via.
Ar-condicionado tem controle automático de temperatura nos dois, mais
eficiente no Alfa. E o sistema de ventilação do VTS só funciona com o
motor ligado.
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Xsara
tem bancos mais baixos e revestidos em couro, que -- surpreendente --
não podem ser reclinados
Poderia ser menos confuso em ambos ligar faróis e lanternas, mas só o
Alfa conta com botão para abertura interna do porta-malas (não funciona
com motor ligado por segurança) e indicador de portas malfechadas
individual (geral no concorrente). O Citroën insiste na buzina acionada
pela alavanca à esquerda no volante, mania francesa que exige hábito,
mas não permite a descortesia de ligar os faróis já em facho alto,
possível no Alfa. Controles elétricos de vidros estão nas portas do 145
e no painel do Xsara, ambos com um-toque para a descida do motorista e
(economia, sempre ela!) sem temporizador. Bons detalhes que os dois
oferecem são regulagem elétrica da altura dos faróis e comando à
distância da trava das portas.
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Bons painéis e volantes, este com ajuste de
profundidade no VTS; rádio do
Quadrifoglio fica pouco acessível enquanto o concorrente tem controles
no volante
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É incômodo controlar o rádio/toca-fitas Alpine do Quadrifoglio, muito
baixo e com botões minúsculos, enquanto o VTS oferece práticos controles
no volante. Os alfistas alegam que o som do motor dispensa sistema de
áudio, mas nem todos precisam concordar. O do Xsara recebe sinais
digitais das emissoras, com nome e mensagens (no 145 é possível
denominá-las manualmente), mas não possui entrada para disqueteira, o
que exige substituição do aparelho e inutilização dos tais controles...
Realmente lamentável que carros deste valor ainda não possuam toca-CD de
fábrica. Só no 145 há painel removível e alarme por ultrassom, com
acionamento bastante discreto que deveria ser imitado pela escandalosa
linha Palio.
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Assentos correm à
frente para facilitar acesso em ambos, mas no Xsara o couro do encosto
esfrega-se na estrutura do banco, revelando descuido inadmissível
Maçanetas cromadas facilitam localização noturna no carro italiano. O
francês responde com ajuste de altura também dos cintos traseiros
externos, porta-luvas com chave, luz de cortesia temporizada de
apagamento gradual, luzes de leitura traseiras e espelho no pára-sol
esquerdo -- só no direito no 145, mas em ambos sem iluminação. Os dois
mantêm o facho baixo dos faróis quando se acende o alto. No entanto,
deixam a desejar na posição do extintor, escondido sob o banco do
passageiro, e na ausência de pára-brisa degradê.
As enormes janelas dianteiras fazem do interior do Alfa uma vitrine.
Mesmo com os vidros traseiros mais afilados, a visibilidade para trás
supera em muito a do Xsara, em que as manobras exigem especial atenção
pela pouca altura do vidro. Mas o Citroën se torna referência nos
retrovisores, com o esquerdo biconvexo (dois raios de convexidade)
permitindo ótima visão nas mudanças de pista, os dois externos dotados
de desembaçador e o interno com dupla articulação. Além disso oferece
limpadores de pára-brisa com controle automático de velocidade e
frequência, de funcionamento irrepreensível -- elimina mais um trabalho
do motorista moderno. No 145 os espelhos externos são azulados como no
concorrente, para reduzir o ofuscamento, mas o esquerdo plano limita o
campo de visão.
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continua
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