Consultório de Preparação


por Iran Cartaxo


Mudanças desnecessárias na Parati 1,8 turbo


Possuo uma Parati 94 com 55.000 km e pretendo aumentar seu desempenho com a adição de um turbocompressor. Quando procurei um preparador ele me passou uma relação de peças a ser compradas e gostaria de saber desta conceituada revista se realmente tudo isto é necessário: carburação Weber 40 com coletor especial; turbina de grande capacidade, numeração AR 60; velas de competição (quais?), cabos de vela e bobina especiais (quais?); módulo de ignição MSD; sistema de embreagem de cerâmica; nova caixa de câmbio e diferencial (quais?); pneus e rodas de outras medidas (quais?); intercooler e radiador de óleo. Ele também recomendou a conversão do motor (AP 1.8) de gasolina para álcool. Com todas essas mudanças e trabalhando com 0,8 kg de pressão e 1,6 kg no booster, o motor ainda seria confiável sem a troca de pistões e bielas?

Humberto N. Gozi
hk@riopreto.com.br
São José do Rio Preto, SP


A maior questão em sua consulta, Humberto, é o uso do booster. O objetivo desse ajustador de pressão de superalimentação (clique aqui para saber mais) é justamente oferecer a opção de se ter mais potência, sem que o motor e o carro tenham que ser preparados para tal. Por isso o usuário deve ter cautela com seu uso, recorrendo a ele por curtos períodos de tempo e em situações que necessitem de uma potência adicional.

Para justificar o uso do booster em seu carro, o motor deve ser preparado para usar 0,8 kg/cm² de pressão. Se o fosse para 1,6 kg/cm², com todos os reforços e reajustes que se fariam necessários, então não haveria a necessidade do uso do booster -- ou ele poderia ser ajustado para uma pressão máxima de 2,2 kg/cm², por exemplo. A não ser que você queira o booster para esconder no porta-luvas e assim poder emprestar o carro ao cunhado ou ao irmão mais novo... Nesse caso, não se esqueça de baixar a pressão para 0,8 kg/cm² antes de entregar a chave!

As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para a Parati original (em azul), com turbo a 0,8 kg/cm2 (em verde) e com o booster acionado para 1,6 kg/cm2 (em vermelho)

Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas


Na lista que você forneceu existem muitos itens só necessários se a pressão de operação, e não a de booster, for 1,6 kg/cm² -- logo, são dispensáveis para a configuração que você citou. É o caso dos cabos de velas, bobina e módulo de ignição para o MSD, que só trariam vantagem com pressão de operação em 1,6 kg/cm² e de booster em 2,2 kg/cm². Nessa hipótese a centelha já teria dificuldades para iniciar a queima com perfeição, o que justificaria uma bobina mais potente, com cabos de velas e módulo de ignição apropriados. A embreagem de cerâmica também é muito reforçada para 0,8 kg/cm². Basta usar uma embreagem mais reforçada que a original: assim ela estará protegida contra a queima do revestimento e seu acionamento não ficará tão pesado, trazendo maior conforto.

A conversão para álcool é desnecessária: para a pressão escolhida pode-se manter a gasolina como combustível e reduzir a taxa de compressão (clique aqui para saber mais). Se o booster for usado com freqüência e/ou por períodos prolongados, porém, deve-se optar por converter o carro para álcool e aumentar a taxa. Não recomendamos usar álcool com a taxa de compressão original e a pressão de 0,8 kg/cm², pois o carro ficará muito lento e com alto consumo quando o booster não estiver acionado.

Muitas das modificações sugeridas não são necessárias para obter um bom desempenho e durabilidade da Parati com turbo


A turbina de grande capacidade justifica-se para reduzir o desgaste do turbo. Uma turbina pequena teria de girar muito para produzir alta pressão quando o booster estivesse acionado, o que resultaria em desgaste acentuado das pás do compressor. A turbina maior aumenta o efeito de turbo-lag (retardo da entrada do turbo em operação), mas é o preço a se pagar pela durabilidade. Pode-se usar uma turbina menor, mas ciente de que ela durará menos.

O uso do intercooler é muito recomendado para esta configuração: traz ganho em torque e potência e ainda ajuda na proteção do motor contra detonação. Quanto ao radiador de óleo, não é imprescindível para este caso, mas ajudaria a refrigerar o óleo e o motor, o que permitiria o uso intenso do carro em dias quentes com maior tranqüilidade. Trocar o carburador original pelo Weber 40 é uma opção sua, Arioto, pois seu uso independe do turbo. Com o Weber o motor pro