Consultório de Preparação
por Iran Cartaxo
Escort 2-litros: receitas
de 127 a 328 cv!
Parabéns pela página, ela é muito
boa. Tenho um Escort 2.0i XR3 ano 93 e gostaria de saber o que
fazer para melhorar seu desempenho gastando pouco, e sobre a
comparação de injeção de nitro e turbo.
Henrique Salgado Esteves
hsalgado@unix.horizontes.com.br
Possuo um Escort 2.000 com carburação 3E, ignição MSD,
pistões de motor a gasolina rodando com álcool, cabeçote
trabalhado e motor balanceado. Gostaria de saber com quantos
cavalos estou rodando, pois uso turbo no limite do motor (1,9
kg/cm2 de pressão), o que acho muito para um carro
com bielas originais.
Fabiano Garcia Campos
fabiano.campos@gp.sul2.com.br
A preparação do motor dois-litros do Escort é muito fácil,
pois trata-se praticamente do mesmo motor do Gol GTI, da linha VW
AP, bem conhecida dos preparadores. Como opções baratas de
preparação pode-se lançar mão de um remapeamento da
injeção, aliada à troca do coletor de escape por um
dimensionado. Por cerca de R$ 450 obtêm-se resultados
expressivos, com o motor mais solto e respondendo mais rápido.
As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Escort 2.0i original (em azul), com remapeamento e coletor dimensionado (em marrom), com óxido nitroso (em rosa), com turbo a 0,6 kg/cm2 (em verde) e com turbo a 1,9 kg/cm2, carburador 3E e uso de álcool (em vermelho)
Clique aqui para ver as curvas de potência e torque ampliadas
O óxido nitroso e o turbo são ambos uma forma de
sobrealimentação, mas produzem comportamentos diferentes no
motor, O chamado "nitro" consiste em injetar óxido
nitroso e combustível adicional nos cilindros. Tem as vantagens
do baixo risco de detonação, pelo resfriamento da mistura; da
simplicidade do equipamento; e do controle que o motorista exerce
sobre o momento em que a potência extra estará disponível.
Como desvantagens tem a baixa autonomia, o alto custo da recarga
e o maior desgaste a que submete o motor, se comparado ao turbo.
O turbocompressor comprime um volume maior de mistura para os
cilindros, o que aumenta a eficiência volumétrica -- é como se
o motor tivesse maior cilindrada, sem o ônus do maior peso que
esta traria. Tem as vantagens do funcionamento constante (não
necessita de recarga) e do menor consumo de combustível. Seu
maior problema é o turbo-lag, a demora na entrada do
turbo em operação, que pode porém ser reduzido com certas
técnicas (clique aqui para saber mais
sobre estes tipos de preparação).
A substituição da gasolina pelo álcool como combustível é um
recurso muito utilizado na adaptação do turbo, para evitar o
risco de detonação e permitir o uso de pressões de
sobrealimentação mais altas. O álcool é um combustível menos
volátil (de mais difícil queima) que a gasolina, daí o menor
risco de que ocorra a detonação. Contudo, seu poder calorífico
é menor: produz menos energia durante a queima. Por isso é
preciso muito critério na alteração de combustível, pois
pode-se acabar com um carro que gasta muito e rende pouca
potência. Para um carro preparado que funcione originalmente a
gasolina, deve-se:
- Para pressões baixas (até 0,6 kg/cm2):
utilizar gasolina e manter a taxa de compressão original,
contornando o problema da detonação com o reajuste da curva de
ponto de ignição e da quantidade de combustível injetado.
Resfriar ao máximo o ar admitido, por meio de um intercooler,
também é importante.
- Para pressões médias (até 1,2 kg/cm2):
optar pela gasolina e reduzir a taxa de compressão original,
reajustando também a curva de ponto de ignição, a quantidade
de combustível injetado e resfriando ao máximo o ar admitido.
- Para pressões altas (até 2 kg/cm2): optar pelo álcool e manter a taxa de compressão original, reajustando a curva de ponto de ignição, a quantidade de combustível injetado e resfriando o ar admitido.
- Para pressões altíssimas
(acima de 2 kg/cm2): utilizar álcool, reduzir a taxa
de compressão, reajustar a curva de ponto de ignição, a
quantidade de combustível injetado e resfriar o ar admitido.
Os valores de pressão citados acima dependem da configuração
original do motor e da experiência do preparador, e não devem
ser tomados como parâmetros fixos.
Simulamos as seguintes preparações:
- aspirada leve, com remapeamento e coletor de
escape dimensionado;
- óxido nitroso com 4 injetores de óxido nitroso de 0,015 pol. e 4 injetores extras de combustível de 0,020 pol., um par para cada cilindro;
- turbo com pressão de 0,6 kg/cm2 e intercooler;
- turbo a 1,9 kg/cm2,
substituição da injeção por um carburador 3E, preparação no
cabeçote e uso de álcool, como já efetuou o Fabiano.
Observe o desempenho estimado:
Original | Aspirado leve | Óxido nitroso | Turbo a 0,6 kg/cm2 | Turbo e álcool | |
Potência máxima | 116 cv | 127 cv | 186 cv | 193 cv | 276 cv |
Rotação de potência máxima | 5600 rpm | 5900 rpm | 5600 rpm | 5600 rpm | 4850 rpm |
Velocidade máxima | 185 km/h | 191 km/h | 217 km/h | 220 km/h | 247 km/h |
Rotação à velocidade máxima | 5635 rpm | 5815 rpm | 6590 rpm | 6680 rpm | 7530 rpm |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,4 s | 9,5 s | 6,5 s | 6,2 s | 5,4 s |
Torque máximo | 17,7 mkgf | 19,4 mkgf | 28,3 mkgf | 29,5 mkgf | 50,0 mkgf |
Rotação de torque máximo | 3200 rpm | 3350 rpm | 3200 rpm | 3200 rpm | 2800 rpm |
Alteração recomendada na relação de transmissão | 0,6
% mais longo |
0,9
% mais curto |
17,7
% mais longo |
19,3
% mais longo |
55,2
% mais longo |
Aumento recomendado na injeção de combustível | - | - | 50,0 % | 50,0 % | 158,3 % |
Aceleração longitudinal no interior do veículo | 0,60 g | 0,66 g | 0,95 g | 0,99 g | 1,42 g |
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão. |
Algoritmo de
simulação de preparação de motores desenvolvido pelo
consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF. |
Embora seja uma prática comum, não recomendamos substituir a
injeção pelo carburador. Por maior que seja o grau de
preparação do motor, a injeção é sempre um sistema mais
confiável, estável, eficiente e com mais recursos disponíveis
para a proteção do motor. Não há ajuste que não possa ser
feito em um sistema de injeção, nem acessório que não possa
ser adaptado. Basta que se use tecnologia, conhecimento e os
recursos já disponíveis no mercado, como remapeamento, caixas
de gerenciamento paralelas ou bicos injetores adicionais. Com
estes recursos e uma boa injeção multiponto é possível obter
mais potência com menor risco para o motor.
A tabela a seguir traz a simulação do resultado que seria
obtido com a manutenção da injeção e os reajustes que ela
permitiria. Traz também outra opção de preparação
interessante, que mantém a injeção eletrônica e reduz a taxa
de compressão, mas usa gasolina como combustível. O resultado
é semelhante ao da preparação feita pelo Fabiano, mas requer
uma pressão menor, que a turbina leva menos tempo para atingir.
Carburador
3E, 1,9 kg/cm2, álcool |
Injeção, 1,2 kg/cm2, gasolina |
Injeção, 1,9 kg/cm2, álcool |
|
Potência máxima | 276 cv | 274 cv | 328 cv |
Rotação de potência máxima | 4850 rpm | 5500 rpm | 5300 rpm |
Velocidade máxima | 247 km/h | 247 km/h | 262 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 5,4 s | 5,4 s | 4,7 s |
Torque máximo | 50,0 mkgf | 41,8 mkgf | 50,0 mkgf |
Rotação de torque máximo | 2800 rpm | 3100 rpm | 3000 rpm |
Aumento recomendado na injeção de combustível | 158,3 % | 108,3% | 158,3 % |
Aceleração longitudinal no interior do veículo | 1,42 g | 1,41 g | 1,69 g |
Com estas preparações e os reajustes de freios, pneus e
suspensão necessários nos casos de veneno mais pesado -- que
acreditamos já ter sido realizados pelo Fabiano --, consegue-se
um Escort capaz de superar muitos esportivos importados e, na
preparação de 328 cv, até mesmo o badalado Escort RS Cosworth
que a Ford inglesa produziu anos atrás!
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