Consultório de Preparação


por Iran Cartaxo


Gol GTI turbo: cuidados trazem durabilidade


Admiro a excelência técnica dos consultores deste site. Não acreditava encontrar essa qualidade disponível com tal atenção aos leitores, honestidade e imparcialidade, além da linguagem incrivelmente acessível e rica em detalhes para os leigos no assunto. Gostaria de preparar meu Gol GTI 97 com 16.000 km rodados, de modo a reduzir o mínimo possível a vida útil do motor, atingir algo em torno de 8 segundos de 0-100 km/h e andar mais (bem mais) que o Escort 16V e o Gol GTI 16V. Por que o comando mais bravo pode desgastar mais o motor do que uma turbina? De que modo mantenho o desgaste o mais próximo possível do original (que tipo de óleo, gasolina, reforço, manutenção)? Fui informado de um produto da Loctite o qual substituiria as juntas de modo mais eficaz e duradouro. Está correto? É verdade que após certos preparos deve-se utilizar o álcool como combustível em vez da gasolina? Um amigo foi obrigado a colocar uma chave liga-desliga para a ventoinha. O turbo incomoda a esse ponto para rodagem normal em cidade? Gosto do ruído de escape do ar em carros turbo. Isto afeta de algum modo a durabilidade? Como saber se a montagem está correta de modo a não haver falha na injeção provocada pela vazão do ar?

Renato Minucci de Moura Leite
minucci@tba.com.br

Brasília, DF


A preparação do Gol GTi não traz dificuldade para um bom preparador, pela grande experiência que já se possui com este motor. Mas com taxa de compressão elevada (10:1) qualquer erro na preparação pode resultar em detonação, que causa grandes prejuízos ao motor. Por isso o cuidado que se deve ter começa pela escolha uma loja de preparação de renome, bem conceituada no mercado e que dê garantia do serviço.

Preparações turbo para superar o desempenho dos carros citados foram simuladas e descritas em consulta anterior do Gol GTI (clique aqui para ler). Como se trata do modelo antigo do Gol, estime uma ligeira melhora em velocidade final por conta da melhor aerodinâmica de seu carro. Uma preparação aspirada para atingir em torno de 8 segundos de aceleração de 0 a 100 envolve a troca do comando de válvulas por um de 288o, retrabalho no cabeçote para alojar válvulas de 2 mm a mais de diâmetro e uso de um bom coletor de escape dimensionado. Com o devido reajuste no sistema de injeção e ignição, esse veneno vai permitir desenvolver 140 cv a 5.950 rpm e um torque de 16,1 mkgf a 3.400 rpm. Aceleração e velocidade final serão semelhantes às do GTI 16V e bem superiores às do Escort, mas será perceptível a queda de torque em baixa rotação.

Não existe uma regra que determine qual veneno desgasta mais o motor, pois o uso dado ao carro é o fator de maior influência no desgaste. De forma genérica, para carros submetidos à mesma exigência, uma preparação na qual seja preciso atingir maior rotação para desenvolver potência -- caso dos comandos mais bravos -- desgasta mais o motor. Mas as preparações turbo são em geral bem mais fortes que as aspiradas, e por isso podem submeter o motor a um esforço maior e a um desgaste também mais acentuado. Venenos que alterem bruscamente o comportamento do motor, como injeção de óxido nitroso ou um turbo de entrada muito violenta, também são pouco recomendadas quando se busca durabilidade. De qualquer forma, pode-se reforçar o motor preparado com peças forjadas, bronzinas mais duráveis e até virabrequim roletado, de modo a atingir durabilidade igual ou superior à do motor original.

Motores de alto rendimento exigem gasolina de boa qualidade e óleo de primeiro nível. Utilize sempre gasolina aditivada (clique aqui para saber mais) e fuja de promoções "milagrosas", que podem-se traduzir em combustível adulterado. Lubrificantes sintéticos (clique aqui para saber mais) são uma boa opção para motores turbo, mas você pode obter bons resultados utilizando um óleo mineral de última geração e trocando-o em intervalos mais curtos, como a cada 5.000 km. Quanto à manutenção do turbocompressor, clique aqui para saber mais.

O produto citado da Loctite não é destinado à substituição pura e simples das juntas, mas sim para usos em que as juntas não podem ser aplicadas, por não existir uma apropriada ou pelas novas características do motor. Esta cola tem a vantagem de reduzir o espaço entre o cabeçote e o bloco, o que permite aumentar um pouco a taxa de compressão sem necessidade de usinagem. Além disso, em condições adversas de pressão e temperatura da câmara de combustão, este espaço reduzido -- e portanto menor contato da cola com tais condições do que uma junta -- pode tornar seu uso recomendável. Mas há juntas desenvolvidas especialmente para o motor AP-2000 que servem a todas as ocasiões e não têm os inconvenientes da cola: com ela é difícil garantir uma junção perfeita, sem bolhas ou fissuras, e é preciso refazê-la a cada reaperto ou remoção do cabeçote.

Utiliza-se o álcool em substituição à gasolina quando não é possível evitar a detonação (pré-ignição ou "batida de pino") através de regulagem, mas se o serviço não for feito com critério trará desvantagens como menor potência e maiores consumo e emissão de poluentes. Em caso de preparação turbo só é recomendada para altas pressões (clique aqui para saber mais), e em preparação aspirada, para taxa de compressão superior a 11:1 no uso em rua. Quanto ao ruído emitido pelo motor turbo em desacelerações e mudanças de marcha, é resultado da liberação de ar pela válvula de prioridade (nem sempre utilizada) e não representa qualquer prejuízo à durabilidade.

O uso de chave liga-desliga para ventoinha é desnecessário. O radiador já possui um termostato que aciona o dispositivo quando preciso e por tempo suficiente para o arrefecimento. A capacidade de refrigeração do sistema não é otimizada por um controle manual da ventoinha e sim pelo aumento da área de refrigeração, ou seja, do radiador. Uma preparação que transfira o controle da temperatura do motor ao motorista parece-nos um serviço de péssima qualidade, já que além do risco inerente a tal procedimento, qualquer preparação bem-feita mantém os parâmetros de temperatura originais do motor, não exigindo que ele trabalhe mais frio ou mais quente.

O modo mais simples, e ao alcance do leigo, de verificar se uma preparação foi bem efetuada é observar o comportamento do motor. Se em acelerações bruscas, reduções fortes e situações adversas de funcionamento, como retomadas usando marchas longas, o motor não apresentar falhas de funcionamento ou barulhos estranhos, tudo indica que o serviço foi correto. Observe também a qualidade visual da preparação: trabalhos de má qualidade em geral aparentam inferioridade, com cabos, fios e mangueiras desorganizados. O fato de um carro ter uma preparação forte não significa que seja bem-preparado. Fazer um carro forte é fácil; o que revela um bom preparador são receitas equilibradas, limpas, econômicas e duráveis.

Carros potentes que ficam mais na oficina do que rodando, consumo excessivo de combustível ou muitas (e caras) alterações no carro sem o devido retorno em desempenho são indicadores de uma preparacão mal-feita. Um carro preparado deve seguir uma receita parecida com o que a fábrica faria: deixar o dono tranquilo, custar pouco e ainda render muito, com o carro consumindo e poluindo o mínimo possível. Como se pode observar, não é tarefa para qualquer um -- por isso deve-se pesquisar bem antes de escolher a loja e confiar a ela seu carro e seu dinheiro.



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