Do outro lado do Atlântico
a GM dava um audacioso salto ao lançar, em 1966, o Oldsmobile
Toronado com motor de 7,0 litros e 390 cv de
potência bruta
associado a tração dianteira. No ano seguinte surgiam o Cadillac
Eldorado e o Buick Riviera com essa configuração.
Mas enquanto esses dois voltavam à tração traseira em 1979, o
Toronado continuaria a ser produzido com a dianteira até 1992. 
Oldsmobile
Toronado: "o único carro grande
de tração dianteira faz sua estréia", em 1966
Já a tração traseira vem seguindo rumo firme desde o final do século
19, a maioria dos fabricantes acreditando tratar-se da melhor disposição.
A dificuldade de acionar rodas que eram também diretrizes, pela falta
de juntas articuladas eficientes, certamente pesou a favor da tração
traseira.
A falta de eficiência ia da baixa durabilidade ao peso de direção excessivo ao efetuar curvas sob tração. Isso porque na junta
universal
tradicional, inventada por Clarence Spicer em 1906, uma metade da junta acelerava-se em relação à outra, resultando na transmissão de
força desigual quatro vezes a cada rotação da roda. Essa oscilação
era sentida no volante e se acentuava com os maiores ângulos de esterço.
Coube ao americano Alfred
Rzeppa, em 1929, patentear a junta de velocidade constante, ou homocinética
(palavra formada pelos termos gregos homos e kinein, igual
velocidade). Mas há quem credite ao francês Jean Albert Grégoire a invenção da junta homocinética,
quatro anos depois. Sem entrar no mérito de
quem a inventou, o fato é que a nova junta revolucionou
completamente o cenário da tração dianteira -- e a ela pode ser
atribuída sua disseminação. |

A
junta homocinética facilitou em muito a
transmissão de torque às rodas dianteiras Não só acabavam os problema de
durabilidade, como a direção tornava-se insensível à aplicação
de potência. A rigor, hoje não se percebe mais que a tração é
dianteira.
Quando o Passat surgiu, em 1974, um sem-número de proprietários vindos
do Fusca e do Brasília não se dava conta de que a tração não era
mais atrás. Só permaneceria, em alguns casos até os dias de hoje, o
esterçamento por torque (torque steer), em que o veículo como
um todo quer mudar ligeiramente de direção nas acelerações fortes,
mas sem nenhuma manifestação no volante.
Sempre houve um consenso
de que carros de tração dianteira não poderiam ter motor de potência superior a 150 cv, sob pena de se tornar indirigíveis. A prática não mostrou isso. Já em 1986 a
Lancia adotava no sedã Thema 8.32 um motor V8 de 3,0 litros e quatro válvulas por cilindro, com 215 cv e velocidade máxima
de 240 km/h. Hoje existem carros como o Chrysler 300M e os Alfa Romeos 147 e 156 GTA, com motores V6 de 250 cv, ou o Volvo S80 T6, com um
seis-em-linha biturbo de 272 cv.
Puxar ou
empurrar, eis a questão A
idéia básica que sempre parece ter norteado a ida para a tração
dianteira foi a de carruagens a cavalo serem puxadas, não empurradas
(os franceses, aliás, referem-se à tração dianteira apenas como tração,
pois chamam a traseira de propulsão).
Se empurradas, o animal não poderia exercer plenamente
sua força,
pensava-se. Tanto que houve anúncios pelo mundo louvando a tração
dianteira justamente sob esse argumento, como um do DKW no Brasil (acima). Continua |