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Câmbio de seis marchas em um motor de enorme torque, como o V10 de 8,3 litros do Dodge Viper SRT-10: mera estratégia de marketing

De volta ao escalonamento, entre a primeira e a última marchas definidas haverá tantas quantas forem necessárias em função das características do motor. Isso em teoria, no caso dos carros de rua: a elasticidade dos motores atuais torna mais do que cinco marchas um exagero, só admissível por razões de marketing ou mero capricho do fabricante. É por esse motivo que os câmbios de cinco marchas imperam há tantos anos.

Não há razão nenhuma para que, por exemplo, os avantajados motores V8 de 5,7 litros do Chevrolet Corvette, de 4,5 litros do BMW 745i ou o V10 de 8,3 litros do Dodge Viper sejam combinados a seis marchas (no caso do carro alemão, em uma caixa automática). A rigor, seis ou sete marchas só se justificam em carros de competição ou em motocicletas, cujos motores são projetados e desenvolvidos para potências específicas elevadas e, por isso mesmo, possuem faixa de operação útil muito estreita.

Ora, mas qual o inconveniente de ter marchas a mais? O primeiro: precisar trocar demais de marcha é desagradável, sobretudo no transito urbano. Só mesmo na condição de aceleração vigorosa é que alguns motoristas podem apreciar essa necessidade, por gostar de ouvir o motor a cada mudança. Para esses, é bom saber um segundo inconveniente:
muitas trocas podem atrapalhar a aceleração, pois cada uma representa perda de tempo, algo próximo a 0,8 segundo.

Exemplo recente de inadequação para o uso normal foi o Fiat Siena 1,0-litro de seis marchas. Por exemplo, estando a 90 km/h, que marcha se deveria passar para uma ultrapassagem? A terceira estava fora de questão, pois atingia apenas 80 km/h. Tinha-se de decidir -- segundos antes de ultrapassar -- pela quarta, que só ia a 104 km/h, ou pela quinta, que chegava a 131 km/h.

Claro que a marcha recomendável seria a quinta, para evitar uma troca durante a manobra. Mas quem pensaria nessa marcha a 90 km/h?

Há quarenta e poucos anos, quando o Renault Dauphine (845 cm3) foi lançado, houve muita crítica pelo fato de o câmbio trazer apenas três marchas -- afinal, o líder do mercado, o Fusca, tinha quatro. Entretanto, quem o dirigia notava que as três marchas davam conta do recado muito bem, pela extraordinária elasticidade do pequeno motor de 26 cv. Quando surgiu o Gordini, de maior potência (32 cv) com a mesma cilindrada (portanto, maior potência específica), a elasticidade diminuiu e foi preciso partir para a caixa de quatro marchas.

Questão de conceito   Como mostramos, o número de marchas deve ser definido em função das características do motor. O mesmo vale para o escalonamento aberto ou fechado, para um mesmo número de marchas.

Como os próprios nomes indicam, as diferenças numéricas entre as relações são maiores no primeiro caso e menores no segundo. Conceitualmente, motores mais elásticos, de faixa de funcionamento mais ampla, aceitam bem escalonamento aberto. Já os de menor elasticidade, de temperamento esportivo, pedem escalonamento fechado.

É por isso que muitos carros de seis cilindros funcionam bem com apenas quatro marchas, tanto em caixa manual quanto em automática -- mas não todos. O Alfa Romeo 156 V6, com um 2,5-litros de alta potência específica (77 cv/l) que atinge a potência máxima a 6.300 rpm e o torque máximo a 5.000 rpm, é um exemplo: as quatro velocidades da caixa automática Q-System estão espaçadas demais para as características esportivas do motor.
Continua

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