Como exemplo, tomemos um
carro hipotético cujo motor tem potência máxima a 6.000 rpm, torque máximo
a 3.200 rpm e um câmbio típico de cinco marchas bem escalonado. As
quedas de rotação ao trocá-las a 6.000 rpm seriam: primeira para
segunda, 3.500 rpm; terceira, 4.000 rpm; quarta, 4.400 rpm; e quinta,
4.800 rpm. Portanto, está atingido o objetivo de vencer a resistência
do ar com intervalos cada vez menores.
Por
onde começa O
ponto de partida do escalonamento é determinar a relação de primeira
marcha para vencer rampas. Considera-se como mínima capacidade uma
rampa de 30% com veículo carregado. O cálculo leva em conta torque,
relação da primeira, relação do diferencial, raio da roda (já
determinado no início do projeto) e peso, por meio de um cálculo
relativamente simples.
A etapa seguinte é calcular que velocidade o veículo pode atingir,
tomando por base a potência do motor, o coeficiente
aerodinâmico (Cx), a área frontal e a resistência de rolamento.
Para as engenharias das fábricas isso é relativamente fácil,
principalmente com os atuais softwares específicos para esse cálculo.
É importante que se note: nesse
cálculo não entra nada de relação de marcha ou de diferencial.
Depois de saber qual a velocidade máxima, estabelece-se a relação
total da última marcha, também um cálculo simples. Nesse momento
ocorre o "casamento", quando a redução é calculada de maneira que a velocidade máxima coincida com a rotação
de potência máxima. A primeira parte do escalonamento está então
definida: sabe-se qual é a relação da primeira e a da última marcha.
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É importante saber que a
relação de cada marcha combina-se com a do eixo motriz (comumente
chamada de relação de diferencial, porque ali se encontra este par de
engrenagens). O termo correto é relação do eixo motriz. Essa
combinação dá-se por multiplicação, e não soma, como pode parecer
à primeira vista. Por exemplo, se a relação de primeira é 4,0 e a do
eixo motriz é 4,5, a redução total é 4 x 4,5, que é igual a 18
(18:1).
Haver duas reduções na transmissão é necessário por dois motivos.
Um, porque ficaria fisicamente inviável acomodar grandes reduções
dentro do limitado espaço da caixa de câmbio. Por exemplo, se a
redução total de primeira for 18:1, a engrenagem maior (conduzida)
seria muito grande, como 126 dentes, considerando sete dentes na
engrenagem menor.
O outro motivo é o esforço sobre os dentes da engrenagem menor (condutora), que aumenta muito em relações acima de 5:1. Ambas as dificuldades são contornadas dividindo a transmissão de força motriz em um sistema de duas reduções -- uma na caixa de câmbio, outra no eixo motriz.
Mas há uma terceira razão, de natureza prática, para dividir a redução total em dois sistemas de engrenagens. Fica possível alterar apenas uma delas, a do diferencial, e com isso obter efeito em todas as marchas.
A indústria automobilística usa bastante esse recurso. Por exemplo, o câmbio do Fusca 1300 trazia relação de diferencial 4,37:1; no 1500/1600, 4,12:1 (depois 3,88:1). As quatro marchas eram exatamente iguais, mas não o efeito final, que dependia da relação do eixo motriz.
Continua
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