Técnica de vanguarda

Foto: Bonhams

Notável pelas soluções mecânicas pioneiras, a francesa Panhard
seguiu propostas de aerodinâmica com o Dynamic dos anos 30

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Três dos primeiros modelos da Panhard et Levassor, revelados entre 1890 e 1895: o último já tinha volante e a transmissão que seria padrão

De cima para baixo, o modelo 12 HP de 1900, um de carroceria fechada de 1904 e o Panoramique 1934, com motor seis-cilindros sem válvulas

Em 1876, dez anos antes que Karl Benz apresentasse aquele que é considerado o primeiro automóvel — o Benz Patent-Motorwagen —, René Panhard e Émile Levassor construíam o primeiro motor a combustão interna da França. Mas seria preciso esperar mais 14 anos até que, em 1890, ficasse pronto o primeiro carro desses pioneiros franceses, cuja empresa seria uma das mais notáveis do setor no país durante o período anterior à Segunda Guerra Mundial.

O automóvel que inaugurou a Panhard et Levassor era uma "carruagem sem cavalos" com motorista e passageiro à frente, o motor no centro (uma unidade de dois cilindros em "V" feita sob licença de Gottlieb Daimler) e mais dois lugares na parte traseira, voltados para trás. A direção era comandada por uma longa alavanca, antes que se adotasse o volante como conhecemos, e as rodas traseiras eram bem maiores que as dianteiras. Essa curiosa disposição não duraria muito: já no ano seguinte, depois de testar sem sucesso a posição traseira do motor, os franceses revelariam o primeiro carro com uma arquitetura que seria usada pela indústria por pelo menos 80 anos.

Nesse segundo Panhard et Levassor, o motor vinha na frente, seguido pela embreagem acionada por pedal, a caixa de câmbio com quatro marchas e ré (ainda de engrenagens expostas) e a transmissão às rodas de trás (então por meio de corrente central), enquanto os dois ocupantes se sentavam praticamente sobre o eixo posterior. Com dois cilindros, 1.060 cm³ e potência de 4 cv, alcançava perto de 20 km/h. Não era fácil dirigi-lo, por motivos como a direção sem nenhum efeito de autoalinhamento e a existência de três comandos para frear. O uso de pneus de borracha maciça exigia molas bastante flexíveis e, como não havia amortecedores, o carro sacolejava todo o tempo nas precárias estradas da época.

Um modelo maior, já com as quatro rodas do mesmo tamanho, vinha em 1892 com um banco mais elevado atrás dos assentos dianteiros. Três anos depois, a Panhard adotava volante de direção e introduzia o tipo de transmissão que se tornaria um padrão da indústria até a adoção de sincronização pela Cadillac em 1928. Outro pioneirismo da marca foi a barra Panhard, que contribuía para melhor posicionamento do eixo rígido: essa solução simples para suspensões atravessou o século XX e chegou aos carros de nossos dias.

Em um tempo em que confiabilidade era incomum nos automóveis, um modelo da marca fez a viagem de Paris a Versailles sem problemas mecânicos e, mais tarde, cumpriu 225 quilômetros entre a capital francesa e Étretat. De Paris a Bordeaux, ida e volta, naquela considerada a primeira corrida de carros do mundo em 1895, dois Panhards foram primeiro e segundo colocados — o piloto vencedor era o próprio Levassor. Modificado para maior desempenho, o carro que ganhou a prova atingia a rotação de 1.250 rpm, um avanço para o período. Esse sócio falecia três anos mais tarde, em um acidente de carro na prova Paris-Marselha, mas a empresa seguia adiante.

Naquele fim de século, em que os modelos de rua passavam a ter carroceria fechada e os de corrida venciam 15 das 22 provas de que participaram, a técnica continuava a avançar, com o emprego de pneus com ar em 1898 e radiador tubular adiante do motor no ano seguinte. A configuração do Panhard da época estabelecia o padrão pelo qual várias empresas fabricariam carros por algum tempo, com chassi de madeira, caixa de câmbio fechada, transmissão final a cargo de correntes laterais e comandos cilíndricos no volante. O motor de um dos modelos, com quatro cilindros e 2,4 litros, obtinha 12 cv e permitia rodar a quase 50 km/h.

Em competições, a marca usava grandes motores de até 15,4 litros e transmissão com cardã, este um recurso que chegaria a seus modelos de rua em 1908. Foi o ano em que René passou o negócio a seus filhos Paul e Hippolyte, pouco antes de morrer. Dali em diante, algumas tradições foram rapidamente abandonadas pelos novos patrões: os carros passaram a ter chassi de aço prensado em vez de madeira, ignição por magneto e câmbio com o padrão que a Mercedes vinha usando havia nove anos, no lugar do complexo sistema com as marchas em quadrante, que exigia especial habilidade no uso.

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Data de publicação: 2/6/12

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