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O D8 trazia um suave
oito-cilindros e três entre-eixos; acima, a versão S de 1933 com
carrocerias De Villars (em branco) e Freestone & Webb


Esses D8 esbanjavam elegância em
carrocerias desenhadas por Henri Chapron (modelo de 1936, em cima) e Letourneur & Marchand (de 1937)


O D6-70 de 1938 já era produzido
pela Delahaye, compradora da marca; embaixo o D6 de corridas, que
venceu mais provas no fim dos anos 40 |
Fotos: RM Auctions

Tal modelo foi bastante elogiado por Laurence Pomeroy,
que em The Grand Prix Car 1906–1939 escreveu que
"representa um 'tour de force' técnico, seja em projeto ou em
construção", e Karl Ludvigsen, que em Classic Racing Engines considerou-o
"o melhor carro de corridas de 1,5 litro da Europa". Na
temporada de 1925, o V12 também ganhava compressor para chegar a 205 cv.
Contudo, a crise financeira levava a empresa a abandonar as pistas.
O D8, talvez o mais conhecido Delage de rua, era apresentado no Salão de Paris
de 1929 com três opções de entre-eixos e mecânica elaborada pelo projetista
chefe Maurice Gaultier. O motor de oito cilindros em linha e 4,1 litros, com 105
cv, brilhava pela suavidade e permitia 140 km/h. Empresas como Henri Chapron,
Kellner, Franay e Labourdette construíam carrocerias com o desenho desejado pelo
cliente. Até a inglesa Freestone & Webb, mais habituada a "vestir" carros da
Bentley e da Rolls-Royce, fez um elegante cupê a ser leiloado em breve pela
empresa RM Auctions.
No caso do D8 S, lançado em 1931 apenas com o entre-eixos curto, o motor vinha
com taxa de compressão mais alta e comando de
válvulas "bravo", para render 120 cv, e a altura de rodagem era reduzida para
maior estabilidade. Teste da revista inglesa Autocar indicou máxima
de 160 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 15 segundos, mais rápido que um
Bentley dotado de compressor.
O D6-11 de seis cilindros e 2,1 litros aparecia em 1932 e um D8-15 de menor
cilindrada era a novidade para o ano seguinte: com motor de oito cilindros e 2,7
litros, trazia suspensão dianteira independente por braços sobrepostos, feita
sob licença da Studebaker norte-americana. Outro recurso técnico interessante
era o comando hidráulico de freios, em vez do habitual mecânico. Como em todo
fabricante de carros acima de certo patamar, porém, as vendas da marca sofreram
com a Grande Depressão, o que agravou sua situação financeira.
Colocada em liquidação voluntária, a Delage era adquirida em 1935 pela
Delahaye, empresa que então passou a se
destacar em competições — por mérito da marca absorvida, pois desde 1898 a
compradora não obtinha qualquer feito digno de nota nas pistas. Louis,
resistindo à ideia de ver sua marca desaparecer do mercado, firmava um acordo
com o investidor Walter Watney para criar a Société Nouvelle des Automobiles
Delage (SAFAD), que venderia carros com seu logotipo produzidos pela Delahaye.
Assim, foram mantidos no mercado modelos de quatro cilindros (DI-12), seis
cilindros (D6-70) e de oito cilindros — o D8-85 de 3,6 litros, o D8-100 de 4,3
litros e o D8-120, lançado em 1939, com uma unidade de 4,75 litros e a renomada
caixa de câmbio eletromagnética Cotal. Contudo, com a eclosão da Segunda Guerra,
o inglês Watney teve de deixar Paris e a direção da SAFAD acabou passando à
Delahaye em 1940.
A Delage também não abandonou as pistas com a mudança de mãos. Embora um potente
V12 destinado a Le Mans não tenha alcançado seu intuito — destruiu-se em um
incêndio em outra prova, em Brooklands —, com modelos de 3,0 litros a marca
venceu em Donington Park em 1938 e ficou em segundo lugar em Le Mans no ano
seguinte. Após a guerra, a Delage foi segunda colocada mais duas vezes nessa
prova francesa, em 1948 e 1949, e no GP de Paris do mesmo ano, as últimas
corridas em que seus carros se destacaram.
A produção de automóveis de rua ainda teve seguimento após o fim do conflito,
mas em quantidade ínfima. O Delage D6 mantinha o tradicional seis-cilindros de
3,0 litros e recebia carrocerias de empresas como Chapron, Guilloré e Letourner
& Marchand, com opções de sedãs, cupês e conversíveis. Um modelo grande e
potente, o D180, chegou a ter um protótipo apresentado no Salão de Paris de
1946, mas nunca chegou ao mercado. Louis Delage, que vivia na pobreza e
praticamente isolado desde que a SAFAD passara à Delahaye, morria em
dezembro de 1947 aos 73 anos.
Se o mercado já não era promissor para carros de certo luxo no período
pós-guerra, o expressivo aumento de impostos na França para modelos com
cilindrada acima de 2,0 litros, em 1948, trazia mais um sério abalo à já
combalida Delage. As vendas minguavam a cada ano e, em 1953, a marca que
anunciava seus carros como "La Belle Voiture Française" passava à história. |