Modernização soviética

Enquanto a Perestróica re-estruturava a economia, a Lada aderia
a novos conceitos com o Samara, produzido por 20 anos

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O modelo inicial do Samara: um carro atualizado, com bom espaço e motores de 1,1 a 1,5 litro, cuja simplicidade era aceitável por seu preço

Acessórios de aparência e conforto eram adicionados por importadores

O sedã Forma chegava em 1990 com linhas tradicionais e a nova grade

Logo que o mercado nacional foi aberto aos importados, em 1990, chegou com alarde por aqui uma marca praticamente desconhecida até então: a russa Lada. Ao lado do antiquado Laika em versões sedã e perua (derivados do Fiat 124 dos anos 60) e do jipe Niva, estava um modelo mais contemporâneo e algo parecido com nosso antigo Passat: o Samara.

A AutoVAZ, em que a sigla significa Volzhsky Automobilny Zavod ou Fábrica de Automóveis do Volga, foi fundada em 1966 em uma cooperação entre soviéticos e italianos. A cidade de Tolyatti foi erguida junto à fábrica, que sempre se caracterizou pela produção verticalizada, isto é, grande parte dos componentes dos carros são feitos ali mesmo e não por fornecedores externos. O VAZ-2101 e suas derivações — que aqui chamaríamos de Laika, mas que os europeus compraram como Riva — foram os únicos modelos da marca Lada até o Niva de 1977.

Na década de 1980, porém, a AutoVAZ mostrava confiança para dar novos passos e desenvolver carros de passeio sem a participação da Fiat, como já acontecera de certa forma com o utilitário Niva. Para explorar mercados mais desenvolvidos, o projeto deveria adotar soluções atuais de estilo e mecânica, como motor transversal e tração dianteira. O formato tradicional de três volumes do Laika deu lugar ao de dois volumes com três ou cinco portas. Em 1984 era apresentado o VAZ-2108. O nome Sputnik foi cogitado, mas logo deu lugar a Samara (de uma cidade russa) para fins de exportação.

Seu desenho simples refletia tendências já um pouco superadas, com linhas retas e excesso de vincos, enquanto alguns europeus da época — o Kadett é caso típico — já passavam a formas arredondadas. Mas era atual na ampla área envidraçada, na frente baixa, nos parachoques plásticos envolventes e na versatilidade da grande porta de acesso à bagagem. Suas dimensões eram de um carro médio, com 4,01 metros de comprimento, 1,63 m de largura, 1,37 m de altura e 2,47 m de distância entre eixos. A versão 1,3 pesava 920 kg.

Um ponto criticado era a grade dianteira, de aparência estranha, que com frequência era substituída por modelos do mercado de acessórios — até mesmo pelas concessionárias Lada de outros países antes da venda. O interior também não agradava pelo acabamento com plásticos e revestimento de aspecto pobre, mas esse fato era aceito pelo público a que ele se destinava nos mercados de exportação: o que buscava um carro simples, econômico e robusto por um preço acessível, mas não antiquado como o Riva/Laika. Esse segmento contava com competidores como o checo Skoda Favorit, o iugoslavo Yugo Sana, o sul-coreano Hyundai Pony/Excel e o malaio Proton Aeroback.

Para o tornar mais atraente, os importadores adotavam equipamentos de estética e conveniência, como teto solar, sistema de áudio de boa qualidade, novo revestimento para os bancos, rodas de alumínio, parachoques na cor da carroceria e conjuntos aerodinâmicos. Além disso, antes de ser colocados à venda, em países como a Inglaterra os carros eram submetidos a cuidadosas verificações de suspensão, freios, acabamento e emissões poluentes e, não raro, recebiam reparos, um meio de compensar a baixa qualidade de fabricação. Houve também transformações pós-venda, caso do conversível.

O Samara oferecia três motores: de 1,1 litro, apenas para exportação, com potência de 53 cv e velocidade máxima de 140 km/h; de 1,3 litro com 67 cv, para 150 km/h; e de 1,5 litro com 71 cv, capaz de 155 km/h. Todas as unidades eram atuais, com comando de válvulas no cabeçote, câmaras de combustão desenhadas com consultoria da Porsche e alimentação por um carburador de corpo duplo. O câmbio tinha cinco marchas, embora tenha saído com quatro em algumas versões até 1987, e a tração era dianteira. A suspensão seguia conceitos contemporâneos, McPherson à frente e eixo de torção na traseira, e os pneus radiais tinham a medida 165/70 R 13. Embora elogiado pela estabilidade, o carro tinha rodar um tanto desconfortável. E havia problemas crônicos de carburação, ignição eletrônica e acabamento. Continua

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Data de publicação: 17/3/09

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