O compatriota sem fama

Enquanto o Trabant virou celebridade com a unificação das
Alemanhas, seu conterrâneo Wartburg caiu no esquecimento

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

A queda do Muro de Berlim, em 1989, deu fama no lado ocidental da Alemanha — e em boa parte do mundo — ao Trabant, o fumacento carrinho com motor a dois tempos que por décadas motorizou os alemães-orientais. No entanto, um outro modelo que caiu no esquecimento teve importância não menos expressiva no cenário da DDR, a Deutsche Demokratische Republik ou República Democrática Alemã: o Wartburg.

Sua história começa na Segunda Guerra Mundial, quando a fábrica da BMW em Eisenach, no lado oriental, foi ocupada pelos militares soviéticos. A produção foi mantida, com o modelo 340 de seis cilindros que ainda ostentava o emblema da marca de Munique. Mas, diante de protestos da BMW, em 1952 o nome era alterado para Eisenach Motoren Werke, ou EMW. Quatro anos mais tarde, esta linha era abandonada (assim como a produção dos modelos F8 e F9 da DKW) em favor da marca Wartburg, iniciada pelo modelo 311.

O 311, primeiro modelo da Wartburg, em versão quatro-portas: linhas arredondadas, boa qualidade de construção, tração dianteira

Era um sedã de três volumes e quatro portas com linhas contemporâneas, em que a pintura em dois tons destacava o capô mais elevado e os pára-lamas traseiros salientes. Media 4,30 metros de comprimento e 2,45 m de distância entre eixos. Logo eram oferecidos também as peruas de três e cinco portas (esta última, chamada Camping, tinha vidros laterais curvos na parte superior e porta traseira com abertura para o lado) e o conversível de 2+2 lugares, com produção bem reduzida e que tinha certo charme. Um cupê 2+2, o 313 S, viria mais tarde.

A base mecânica ainda era o DKW F8/F9, mas com maior entreeixos, cabine mais espaçosa, portas de abertura convencional (não mais as dianteiras "suicidas") e melhores características de rodagem. O motor de três cilindros, dois tempos e 900 cm³ do sedã e da perua era derivado do usado no DKW, com potência de 38 cv a 4.000 rpm e torque máximo de 8,3 m.kgf a 2.200 rpm, câmbio manual de três marchas e tração dianteira. Os pneus eram 5,90-15, o sistema elétrico de seis volts e o peso ficava entre 920 e 1.050 kg, conforme a carroceria. A velocidade máxima de 115 km/h estava adequada à proposta do carro.

Das duas versões da perua, a Camping de cinco portas tinha interessantes vidros laterais curvos e tampa traseira que se abria para o lado
O cupê (ao lado) e o conversível, com 2+2 lugares, usavam uma versão de 1,0 litro do mesmo motor de origem DKW

O cupê e o conversível tinham 1.000 cm³, 50 cv e caixa de quatro marchas, conjunto que em 1962 seria adotado nos demais modelos, embora com 45 cv. Ao mesmo tempo eram melhorados o sistema de arrefecimento e a transmissão. No ano seguinte a produção da empresa já chegava a 30 mil unidades anuais, mas a demanda do governo comunista era cinco vezes maior, pois cabia basicamente ao Wartburg e ao Trabant o transporte pessoal de todo o país.

A esse tempo o carro ainda denotava construção bem-feita e robusta, típica dos produtos alemães (e um dos motivos do sucesso mundial do Volkswagen). Algo que se perderia com o passar do tempo, à medida em que os soviéticos impusessem reduções de custos e aumentos no volume de produção. Acabamento de couro e apliques de madeira eram usados, assim como componentes de alumínio. A fábrica podia oferecer versões de estilo esportivo, como o conversível com teto rígido 313-2 HS, e chegou a estudar o chamado Bellevue, em que a parte traseira da capota podia ser recolhida e a dianteira, fixa, era envidraçada. Requintes que deixariam saudades nos tempos que viriam. Continua

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Data de publicação: 6/6/06

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