Rebelde sem causa

O 550 Spyder, o Porsche de James Dean, teve vida curta
como o ator para se tornar uma lenda eterna de liberdade

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Era mais um dia de sol naquele 30 de setembro de 1955. Em Los Angeles, um Porsche 550 Spyder identificado com o número 130 estava pronto para participar de uma corrida em Salinas, Califórnia, para onde seria levado numa plataforma. Seu dono, um piloto amador, preferiu guiá-lo até lá ao lado de seu mecânico Rolf Wütherich. Ele havia trocado seu Porsche 356 (leia história) pelo mais esportivo 550, que vinha se consagrando campeão em algumas das mais prestigiadas corridas. Em Blackwells Corner fez uma última parada.

Aproximando-se do cruzamento das rodovias 46 e 41, o estudante universitário Donald Turnupseed dirigia um Ford Custom Tudor 1950 no sentido contrário ao do Porsche, com a luz forte do crepúsculo incidindo diretamente em seus olhos. A colisão destruiu o roadster alemão completamente. Enquanto o estudante só cortou a testa e machucou o nariz, Wütherich foi arremessado do Spyder, mas sobreviveu, apesar de ferido. Para o motorista do carro o acidente foi fatal. Em meio ao cenário de morte, nasciam ali dois mitos.

O "pequeno bastardo" da Porsche: um chassi tubular com o motor de 1,5 litro do 356 e algumas soluções que este perdera entre o protótipo e o modelo definitivo

Um deles é quem estava ao volante do Porsche, o ator James Dean, de apenas 24 anos. Após rodar meros três filmes — Juventude Transviada (Rebel Without a Cause), Vidas Amargas (East of Eden), Assim Caminha a Humanidade (Giant) — e umas poucas pequenas participações, Dean era um astro de cinema em meteórica ascensão. Tinha forte empatia junto ao público jovem da época, com declarações como “viva rápido, morra jovem e deixe um belo cadáver para trás”. Mal sabia ele como seria profético.

O outro mito é o próprio 550/1500 RS Spyder, o primeiro e vitorioso Porsche desenvolvido para as pistas, que herdou do ator toda a aura de rebeldia e intensidade que ele havia criado. Dean apelidou seu 550 de little bastard (pequeno bastardo). Tal brincadeira vale pelo bom-humor, mas esconde toda a excelência técnica por trás da concepção desse legítimo Porsche. O projeto de Wilhelm Hild uniu o motor de 1,5 litro do 356, primeiro carro da marca, a um chassi tubular. Retomava conceitos apresentados no protótipo do 356 que não chegaram em 1948 à versão final desse modelo.

Os 78 cv do motor para competição parecem pouco, mas lidavam com um peso de apenas 550 kg -- que não era a origem do nome do carro, porém

Tanto o chassi tubular de alumínio, bastante rígido, quanto o motor central logo à frente do eixo traseiro não foram mantidos no 356 de série por ser muito caros. Estrutura monobloco de aço e motor traseiro o diferiam do protótipo e, em 1950, ele ainda teria a carroceria em alumínio trocada por uma de aço. Porém, para as corridas essa configuração deixava a desejar, pelo peso e excessiva flexibilidade. Para o primeiro carro de corrida Porsche, a configuração do pioneiro estava de volta. Iniciado ainda em 1952, o projeto já estava pronto no segundo trimestre de 1953.

Usava uma estrutura de desenho simples, em forma de escada, suspensão independente com barras de torção e o motor Super 1500, de quatro cilindros opostos (boxer),
derivado do Volkswagen. Mas só foram feitos dois com esse propulsor: o resto saiu com o 547 Fuhrman de duplo comando de válvulas. Seus incríveis 550 kg muito colaboraram para um histórico invejável no automobilismo. Não, o peso não foi a razão do nome: 550 era o número do projeto, assim como 356. Com o piloto no carro, a distribuição de peso entre os eixos era de quase 50%. Os comedidos 78 cv do motor (70 cv na versão de rua) não prometiam grandes conquistas — ledo engano. Continua

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Data de publicação: 13/7/04

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