

"Billy" Durant a bordo de um
Buick 1906 (no alto), durante sua atuação na marca, e com a esposa no
navio SS Majestic, já na década de 1920


O piloto Louis Chevrolet -- que
nas fotos dirige Buicks do começo do século passado -- foi sócio de
Durant na criação da Chevrolet em 1911 |
Boa parte dos grandes pioneiros da indústria automobilística teve seu
nome imortalizado como marca das empresas que fundaram. Ford, Chrysler,
Dodge, Benz, Citroën, Renault e Peugeot são alguns. No entanto, o
fundador daquela que foi, por quase oito décadas, a maior empresa
fabricante de automóveis do mundo é uma incógnita para a grande maioria
dos compradores de seus carros. Pois das mais de 30 diferentes marcas de
veículos que a General Motors teve em sua história, nenhuma levou o nome
de seu criador, William Crapo "Billy" Durant, pioneiro no sistema de
empresas multimarca com diferentes linhas de carros. Durant também
concebeu o moderno sistema de franquias de concessionárias.
Ele nasceu em 8 de dezembro de 1861 em Boston, Massachusetts. Era o neto
do governador de Michigan, Henry H. Crapo. Abandonou a escola para
trabalhar na madeireira de seu avô e depois passou a vender charutos em
Flint, Michigan. Após um tempo mudou sua atividade para a venda de
carruagens. Em 1885, em parceria com Josias Dort, criou a Coldwater Cart
Road Company, uma fábrica de carruagens. No ano seguinte fundava outra
empresa do mesmo ramo, a Flint Road Cart Company. Em 15 anos, acabou
transformando os US$ 2 mil de capital inicial em um negócio de US$ 2
milhões, à época uma enorme fortuna. Isso foi feito pela venda para
diversas localidades do mundo, conseguidas em infindáveis viagens de
negócios. Na década de 1890, o conglomerado Durant-Dort Carriage Company
tinha se tornado o principal fabricante de veículos tracionados a cavalo
do mundo.
Tendo alcançado fama como grande empreendedor, Durant foi contratado em
1904 por James H. Whiting para ser gerente geral da fábrica de
automóveis Buick. Whiting havia adquirido tal empresa de David Dunbar
Buick, que a havia fundado no ano anterior. O primeiro carro de produção
da marca, o Modelo B, usava um motor de dois cilindros opostos (boxer)
em posição central e válvulas sobre o cabeçote. Durant pensou em como
melhorar o Buick, um carro feito para o mercado local e que, com poucas
vendas, levou a empresa a somar grandes dívidas. Após testar um deles
sobre vias esburacadas de Flint e na lama do campo, e verificar quais
melhorias deveriam ser feitas, ele aceitou o desafio de construir a
indústria quase do zero. Inscreveu a Buick no Salão de Nova York e
voltou para casa com encomendas para 1.108 carros — nada mal,
considerando que apenas 37 unidades haviam sido vendidas até então. Em
1908, após apenas quatro anos fazendo carros, ele tinha o carro mais
vendido do mercado, superando até mesmo a Ford por algum tempo, embora
ao fim do ano esta ficasse à frente. William logo tornou-se presidente
da empresa automobilística.
Em 16 de setembro de 1908, Durant fundava a General Motors. Ele
organizou a incorporação e ações rapidamente foram vendidas. Com o
dinheiro que entrou, iniciou as aquisições de outras companhias.
Primeiro a Oldsmobile, depois Oakland, Elmore e Cadillac. Também
adquiriu companhias fabricantes de peças em curto espaço de tempo,
buscando o processo que se chama verticalização da produção. As fábricas
de autopeças foram reunidas em outra empresa, de nome United Motors
Company, sob a presidência de Alfred P. Sloan. Suas principais
aquisições neste setor foram a Hyatt Roller Bearing, fabricante de
rolamentos, e a Dayton Laboratories, que deu origem à Delco Electronics
Corporation. Ao fim, havia consolidado 13 fabricantes de carros e 10 de
autopeças e acessórios.
O fato de Durant ter formado a maior fábrica de automóveis do mundo
seria impensável apenas alguns anos antes, pois ele tinha o pensamento
de que carros eram fedorentos, barulhentos e perigosos. Sua convicção
era tamanha que se recusava a deixar sua filha sair em um deles. Mas,
assim como seu principal rival, Henry Ford, percebeu que o carro se
tornaria um item de produção em massa. Para Ford, no entanto, o
pensamento era de que sua empresa deveria se concentrar em construir um
único modelo, simples e com baixo preço, sem recursos extras que o
encarecessem: sua ideia era o que se tornou o
Modelo T.
Seu pensamento ficou eternizado com a frase "Qualquer cliente pode ter
um carro pintado em qualquer cor que ele quiser, contanto que seja
preto" — uma ironia atribuída a ele por seus opositores, já que o Modelo
T por algum tempo usou essa única cor, cuja tinta era de a mais rápida
secagem. Durant, com a experiência de seus anos no negócio de
transporte, pensava diferente: para brigar pela liderança do mercado
precisava de diversos tipos de veículos atendendo a rendas e gostos
diferentes. Por isso a diversificação de marcas, para diferentes
mercados, que se tornou estratégia da GM. Dessa maneira, desde a base,
que consumia carros simples, até o topo, que comprava Cadillac, todo o
público seria suprido pela empresa.
Continua
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