![](../carros/homens/earl-3.jpg)
![](../carros/homens/earl-1927-lasalle-earl-volante-fischer-lado.jpg)
As criações de Earl (ao volante)
na encarroçadora do pai chamaram atenção de Fischer, ao lado do LaSalle
-- seu primeiro trabalho na GM
![](../carros/homens/earl-1927-lasalle-3.jpg)
![](../carros/homens/earl-1934-lasalle-esbocos.jpg)
O modelo 1927 do LaSalle foi o
primeiro carro com estilo elaborado na própria fábrica; embaixo,
desenhos de Earl para a linha 1934 da marca
![](../carros/homens/earl-1938-yjob-2.jpg)
![](../carros/homens/earl-1940s-depto-estilo.jpg)
Harley ao lado do Buick Y-Job, o
primeiro "carro de sonho"; embaixo, seu departamento nos anos 40; no
alto, a bordo do Buick Le Sabre 1951 |
No início do século passado, o comprador de automóveis optava entre dois
caminhos. Uma opção, reservada aos endinheirados, era encomendar a
carroceria de sua preferência a uma empresa especializada — uma
encarroçadora — para ser aplicada sobre o chassi e a mecânica fornecidos
pelo fabricante do carro. A outra, mais comum, era conformar-se em já
ser um privilegiado (automóveis eram caros e raros) e receber o veículo
com o desenho simples e sem inspiração elaborado pela fábrica, em geral
uma caixa com para-lamas e estribos, um par de faróis pendurados no
radiador e uma capota por cima da cabine. Quem começou a mudar esse
quadro, dando a todos os compradores o direito de ter um carro bonito,
foi Harley J. Earl.
Earl nasceu em 22 de novembro de 1893 em Hollywood, na Califórnia, oeste
dos Estados Unidos. Seu pai, J. W. Earl, nascido em Detroit, havia
começado quatro anos antes a construção de carrocerias para carruagens
de tração animal, trabalho que evoluiu para veículos motorizados e o
levou à fundação da Earl Automobile Works em 1908. Harley chegou a
estudar na Universidade de Stanford, mas abandonou o curso para
trabalhar com o pai. A empresa dos Earls foi adquirida em 1919 por Don
Lee, um concessionário Cadillac, que manteve o jovem como diretor da
divisão de carrocerias especiais, um mercado expressivo naquele tempo —
sobretudo em uma cidade como Hollywood, com suas estrelas do cinema
desejosas de desfilar com carros de linhas únicas. Celebridades como o
diretor Cecil B. De Mille e os atores Roscoe "Fatty" Arbunkle e Tom Mix
estavam entre seus especiais clientes. Harley usava técnicas inovadoras
na atividade como o emprego de argila (clay) para modelar as formas das
carrocerias. Seu trabalho chamou atenção de Lawrence P. Fisher, gerente
geral da Cadillac, que vinha visitando concessionárias dessa divisão da
General Motors por todo o país.
Não demorou para que Fisher — que havia começado sua carreira justamente
na encarroçadora Fisher Body, fundada por sua família em Detroit em 1908
— convidasse Earl para desenhar um carro para a GM: o
LaSalle, que inauguraria em
1927 uma divisão de apelo mais jovial vinculada à Cadillac. O êxito do
LaSalle incentivou o gerente a sugerir ao presidente da corporação,
Alfred P. Sloan, que levasse o talentoso desenhista para trabalhar na
"capital do automóvel" de forma permanente, o que acontecia ainda
naquele ano. Foi então criada a divisão Art and Color (arte e cor) da GM
com Earl no cargo de diretor. Pela primeira vez na história do
automóvel, um fabricante tinha um departamento voltado a dar estilo e
beleza aos carros produzidos pela própria marca, sem recorrer a empresas
especializadas. Segundo Sloan, a seção tinha a incumbência de "não
apenas atrair o consumidor afluente e interessado em estilo dos anos 20,
mas também provocar uma mudança na rotina dos procedimentos da
corporação". Em três anos o californiano se tornava Vice-Presidente de
Estilo.
A primeira providência de Earl nos novos projetos foi suavizar as
formas. Propôs que para-lamas e grade do radiador fossem integrados à
carroceria, a grade se tornasse mais arredondada ou assumisse a forma de
"V", os faróis fossem estilizados e mais tarde viessem nos para-lamas,
os estribos fossem descartados, o estepe desaparecesse da vista externa
e os bagageiros aplicados à traseira dessem lugar a porta-malas
embutidos no corpo do carro. Lançou tendências como para-brisa levemente
inclinado para evitar reflexos ao motorista, calotas cromadas cobrindo
as rodas, suportes de placa nos para-choques, volantes de dois e três
raios, painel com os instrumentos reunidos à frente do motorista, rádio
e tela para o alto-falante incorporados ao painel, velocímetro com
ponteiro do tipo agulha, para-sóis internos (antes eram comuns os
externos ao para-brisa), limpadores montados abaixo do vidro (acabando
com a duplicidade de soluções vigente até então na marca), bocal de
abastecimento do radiador sob o capô e cupês com um banco traseiro
compacto por dentro da cabine, no lugar do "banco da sogra" externo. Ao
colocar o compartimento de passageiros em posição mais baixa e à frente,
Harley pôde reduzir a altura total do automóvel e obter um rodar mais
confortável, pois os ocupantes do banco traseiro agora sentavam-se à
frente do eixo e não praticamente sobre ele.
Earl era um homem de grande porte, com 1,95 metro de altura e mais de
100 kg, considerado intimidador por alguns. Vestia-se de maneira
impecável e mantinha sempre um traje no escritório para se trocar caso
tivesse um evento logo após o expediente. Em seu departamento, no décimo
andar do edifício da GM em Detroit, apenas 10 dos 50 funcionários eram
realmente projetistas — ainda não havia formação específica em desenho
de automóveis, o que o levou a contratar arquitetos, ilustradores e
desenhistas de interiores. Ele também implantou na GM seu sistema de
modelagem em argila. Assim apresentava os projetos de modo
tridimensional à diretoria, que podia analisar as formas com maior
fidelidade. Antes as propostas eram construídas em madeira e metal e
cada alteração demandava muito mais tempo e trabalho. Ele costumava
dizer que "uma imagem vale por mil palavras; um modelo, por outro lado,
vale por mil imagens". A divisão Art and Color era renomeada como
departamento de Estilo em 1937, quando se abriam seções independentes
para cada divisão da GM com o objetivo de criar identidades próprias que
as diferenciassem no mercado. Nessa época Earl trabalhava no que seria
conhecido como o primeiro "carro de sonho" — denominação da época para
os carros-conceito de hoje — da indústria, o
Buick Y-Job de 1938.
Continua
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