Uma das invenções de Gurgel para a produção do Delta: uma linha de montagem circular, aqui vista com o BR-800

João Gurgel ao volante do Ipanema e junto aos X-12, já nos anos 80

Em 1º de março era decretada a falência da Gurgel. A empresa interpôs recurso e conseguiu voltar à concordata, mas era tarde demais. O governo federal não concedeu o empréstimo e funcionários da Gurgel, que haviam aceitado receber os salários atrasados de forma parcelada, entraram com ações trabalhistas contra ela. No fim de 1994 a fábrica fechava as portas em definitivo e a marca Gurgel passava à história.

Retornaria em 2004, mas pela manobra questionável de um empresário, Paulo Campos, que aproveitou o encerramento do registro da marca para registrá-la. Hoje vende utilitários chineses com o carismático logotipo que fez fama em mais de 40 países.

Alzheimer   Pouco depois da falência, João Gurgel passou a apresentar comportamento estranho. "Respondia perguntas de maneira truncada, sem muita lógica. Achamos que era sinal de depressão, que estava fugindo dos assuntos que o chateavam", contou sua filha Maria Cristina ao jornal O Estado de S. Paulo em matéria publicada em 2005.

"Demorou para associarmos esse comportamento ao Alzheimer", doença degenerativa incurável e terminal, descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer. Seu sintoma mais comum é a perda de memória, mas com o agravar da doença o paciente tende a se desligar da realidade e a perder suas funções motoras. "Hoje, aos 79 anos", contava Maria Cristina em 2005, "meu pai não fala, não anda, não reconhece ninguém. No começo atribuímos o aparecimento do distúrbio ao golpe que recebeu. Mas o pai dele teve Alzheimer e dois irmãos mais novos também manifestaram os sintomas. Estava predestinado à doença".

As complicações da doença nos levaram João Gurgel, aos 82 anos, mas os sonhos desse notável brasileiro ficarão para sempre registrados.

Outros que ficaram nos sonhos
Além dos que chegaram às ruas, João Gurgel desenvolveu muitos outros veículos. Alguns não passaram da fase de protótipo; outros tiveram poucas unidades vendidas. Eis uma coletânea desses casos.

BR-Van
Em um conceito próximo ao das microvans japonesas e coreanas, das quais a Asia Towner seria a mais conhecida no Brasil, a Gurgel expôs na Feira Nacional do Transporte (Transpo) de 1989 esta versão monovolume do BR-800, a BR-Van. De linhas simpáticas, seria uma opção 100% brasileira em um segmento inédito, inferior ao da Kombi e que só seria explorado na década seguinte por modelos importados. A mecânica era a mesma do carrinho, com dois cilindros e 800 cm³. A Van, contudo, não passou da fase de protótipo.

Elétricos
Gurgel desenvolveu o primeiro carro nacional movido a energia elétrica em 1974. O projeto evoluiu para o Itaipu de 1975 (acima).

A proposta de um carro urbano elétrico estava em sintonia com muitos estrangeiros que seriam apresentados nos anos 90, mas a Gurgel só obteve certa viabilidade desse tipo de motorização em utilitários: o E-250, versão picape elétrica do pequeno Xef, e o furgão E-400, que vendeu poucas unidades e serviu de base para o G-800 a gasolina.

GTA
Um catálogo da Gurgel em 1979 mostrava o protótipo de "um novo conceito em transporte". GTA era sigla para Gran Turismo Articulado, isto é, um carro de três lugares com linhas esportivas ao qual podia ser atrelado um reboque com grande capacidade de bagagem. Assim, seria possível rodar na cidade com menores dimensões e peso e recorrer ao módulo adicional apenas quando necessário.

Cruiser
Um furgão G-800 foi bastante alongado para se tornar um utilitário de transporte executivo, com até oito lugares ou um interior luxuoso para menos passageiros. A distância entre eixos cresceu 90 cm, passando as 3,10 metros, e havia duas portas laterais traseiras apenas no lado direito. Precário era o desempenho com motor Volkswagen "a ar" de 1,6 litro.

Supermíni 1995
Com o relativo sucesso do Supermíni, a empresa fez evoluções e atualizações no modelo, previstas para a linha 1995. Como mostra a foto deste protótipo, a traseira seria mais vertical para ganho em espaço de bagagem, haveria um amplo teto solar (a ventilação interna era um de seus problemas) e barras como as de um bagageiro de teto. Consta que apenas três unidades foram construídas, pois a empresa faliu antes de seu lançamento.

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