Esportivo na aparência

Escort RS mantém a mecânica das outras versões,
mas agrada pelo conforto e o desempenho do motor Zetec

Texto e fotos: Fabrício Samahá
Versão de topo da linha Escort e única hoje disponível com três portas (o GL nesta configuração durou poucos meses, revelando a rejeição do mercado a esse tipo de veículo), o RS tem uma tradição a honrar: os 12 anos de sucesso do XR3, versão legitimamente esportiva da Ford que conquistou um público fiel desde o lançamento do primeiro modelo, em 1983.

Quem espera do RS um carro agressivo, de pilotagem emocionante e efetivamente personalizado vai se decepcionar. Seguindo uma tendência do mercado, a Ford optou por equipar a aparência e manter quase inalterada a mecânica do Escort, criando um falso esportivo que cativa por outras qualidades.

A identidade visual desta versão limita-se às saias laterais (entre eixos e no pára-choque traseiro, estas de gosto discutível), ao aerofólio sobre o porta-malas e às rodas de desenho exclusivo, mas em medida idêntica às das demais versões. A grade "colméia", com motivos hexagonais, é agora utilizada no Escort GL -- o GLX ganhou na linha '99 a de contorno cromado, antes vendida como acessório. É pouco para conferir ao RS a aparência de um verdadeiro esportivo: suspensão e pneus são muito altos e faltam teto solar (não mais disponível) e spoiler dianteiro, além de os faróis serem pequenos e discretos para o padrão atual. O desenho da versão três-portas agrada pela suavidade, mas lembra bastante os Escorts até 1996. Um pormenor interessante é a saída de ar no pára-choque traseiro, similar à do Mondeo, que cria alguma agressividade nessa região do veículo.

Sem grande apelo esportivo, o RS firma-se como boa opção de carro
médio-pequeno para quem gosta de andar rápido


No interior do RS o toque esportivo fica por conta do painel, com instrumentos de fundo branco, e do bom volante revestido de couro. Os bancos são convencionais e não contam com regulagem de altura, o que impede uma posição mais baixa, ao gosto dos "pilotos de rua". O volante não oferece o ajuste em profundidade da versão GLX e o espaço traseiro é apenas regular. Retrovisores são convexos, para maior campo de visão, mas poderiam ser maiores. A visibilidade traseira também se prejudica um pouco pelo aerofólio.

Tecido de acabamento de ótimo padrão e predomínio de cores claras criam uma sensação de bem-estar, comprometida por algumas falhas imperdoáveis: parafusos aparentes nas colunas dianteiras, parte posterior dos bancos não revestida em tecido, porta-luvas sem chave e iluminação. Não há luzes de leitura nem temporizador da luz central; só o pára-sol direito possui espelho e não iluminado. Apesar das amplas bolsas nas portas, o espaço para objetos no console central é mínimo. Não se justifica também a falta de pára-brisa degradê e de temporizador dos controles elétricos dos vidros -- um-toque só para a descida do motorista.

O painel de fácil leitura traz características Ford, como conta-giros sem faixa vermelha (há corte de injeção a 6.800 rpm), mostrador de nível de combustível sempre ligado (positivo) e hodômetro total de apenas cinco dígitos, que zera aos 100 mil quilômetros (negativo). Nesta versão é de série o computador de bordo, operado por apenas duas teclas e com seis funções: relógio, cronômetro, distância percorrida, velocidade média, consumo médio e autonomia. À esquerda do volante fica o comando da luz traseira de neblina, algo que todo carro deveria ter como os repetidores laterais das luzes de direção.

O RS vem ainda com toca-CD, de painel removível compacto, que se desliga com a ignição e pode ser religado. Mas esperávamos ver sanados a incoerência do assento traseiro inteiriço -- só o encosto é bipartido, impedindo o rebatimento parcial do banco -- e o mau acabamento do interior do porta-malas, onde se expõem a chapa da carroceria, os fios e soquetes das lanternas e até o cabo de comando da abertura interna da tampa. E a trava das portas à distância deveria emitir sinal sonoro ou luminoso. Como é hoje, deixa dúvida sobre sua atuação e pode exigir uma checagem pelo motorista, inutilizando o recurso...

Interior com cores clares e painel de fundo branco agradam, mas a Ford deveria sanar algumas falhas de acabamento; computador de bordo é de série


Como tem sido comum, o Escort "esportivo" conserva a mecânica das demais versões: o mesmo motor Zetec de 1,8 litro, 16 válvulas e 115 cv, as mesmas relações de marcha e diferencial, os mesmos freios -- sem opção de antitravamento ABS, uma falha. Apenas a suspensão é recalibrada para um comportamento mais firme e preciso. Apesar das críticas feitas pela imprensa, o mínimo que se pode dizer desse conjunto é que satisfaz plenamente aos que gostam de dirigir rápido. A suavidade de funcionamento e disposição para subir de giros do Zetec são cativantes, aliadas ao ronco mais grave do escapamento do RS.

O câmbio, igual ao dos antigos Escorts de motor CHT (foi abandonado o Volkswagen de comando por cabo, 1993-96, que sucedeu a outro VW, acionado por varões e igual ao do Golf), permite trocas rápidas e precisas e engate muito fácil da ré, sem travas desnecessárias. Mas caberia um rescalonamento das marchas: as relações atuais, além de não deixarem o carro "esperto" como apreciam os compradores de esportivos, impedem que a quinta longa encha o motor em velocidade máxima. São menos de 5.000 rpm na final declarada, 196 km/h, enquanto a potência máxima é atingida com 5.750 rpm. A vantagem dessa configuração é um regime de giros bastante baixo em estradas, permitindo viajar bem acima do limite legal com pouco consumo e ruído.

O que deveria melhorar no RS é o comportamento dinâmico. Ao acelerar forte ainda se percebe algum esterçamento por torque (torque steer), que árvores de transmissão de mesmo comprimento, como no Fiesta, evitariam. Além disso, sai de frente de modo acentuado nas curvas rápidas, tendência de fácil correção pelo motorista médio mas que o torna desinteressante aos iniciados. Concorrem para isso o alto perfil dos pneus (série 65, mais conservadora que a de modelos sóbrios como Corsa Sedan e Polo) e a altura algo excessiva da carroceria.

O contraponto é uma elogiável absorção de irregularidades, para o que contribui o subchassi dianteiro empregado desde 1997, e a capacidade de transpor lombadas sem ruídos ou risco de raspar o fundo. Seus freios, de esquema simples -- com tambores atrás, e não discos como no antigo XR3 --, trabalham a contento e são fáceis de modular, sem a assistência excessiva verificada nos Escort de segunda geração, em 1993. A embreagem mostrou-se macia no carro avaliado, novo, mas certamente se tornará mais dura com o desgaste: é difícil entender por que o acionamento hidráulico, que ainda filtra melhor as vibrações vindas do motor, não é adotado no Escort como nos populares Ka e Fiesta.

O RS não tem tudo o que se espera de uma versão esportiva, mas não custa muito: R$ 25 mil em pacote completo (
clique aqui para saber mais), ao qual se pode adicionar apenas bolsa inflável do motorista. Se o fã-clube do XR3 pode ter perdido sua idolatria pelo mais jovem dos Escorts, os que procuram um médio-pequeno rápido e agradável de dirigir têm nesta versão uma grande alternativa.


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