As vendas, passadas a limpo

Com as devidas correções, a tabela da Fenabrave permite apontar
os carros mais vendidos do ano passado em cada categoria

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Mais um ano encerrou-se e, como fizemos no primeiro Editorial de 2011, vale conferir quem vendeu mais automóveis no período. Apesar de suas muitas imprecisões — que corrigiremos adiante —, a relação de emplacamentos pelo Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), divulgada pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), é a fonte mais detalhada disponível para essa tarefa.

Na competição entre os fabricantes, a Fiat levou a melhor mais uma vez, mas por margem apertada, ao fechar 2011 com participação de 22,56% do mercado de automóveis, ante 22,13% da Volkswagen. A distância aumenta um pouco caso se incluam os comerciais leves: no cômputo geral, a italiana deteve 22,02%, e a alemã, 20,39% do mercado.

Ainda sobre carros de passeio, de 3º a 10º lugar, a ordem é General Motors, Ford, Renault, Honda, Peugeot, Citroën, Hyundai e Nissan. Na comparação com 2010, a Peugeot passou à frente da sócia de grupo Citroën, enquanto a Toyota desceu para 11ª colocada, perdendo espaço para Hyundai e Nissan.

Entre os modelos, o Gol garantiu mais um ano de liderança, mesmo tendo sido superado pelo Uno — em apenas 32 unidades — no volume emplacado em dezembro. O segmento de entrada registra ainda Celta, Palio, Ka, 207 e Clio, na ordem. O estreante Chery QQ fica atrás do Clio, embora a Fenabrave, em suas distorções, não o considere modelo de entrada.

Nos demais hatches pequenos, o líder permaneceu o Fox, seguido por Fiesta, Sandero, Agile, Corsa, Punto, Citroën C3, Fit e JAC J3. Os novos Kia Picanto e Nissan March fariam a sequência em 11º e 12º, na ordem.

A Fenabrave atribui ao Punto a vitória entre os hatches médios, mas para nosso padrão ele é pequeno. Assim, o Hyundai I30 assume a ponta, seguido por Focus, Astra, Kia Soul, Golf, Bravo, Citroën C4, Nissan Tiida, Peugeot 307, Vectra e Hyundai Veloster. Com substituição em breve pelo Cruze hatch, os modelos da GM estão em decadência: em dezembro o Astra foi 9º, e o Vectra, 10º. Entre os modelos de prestígio da categoria, a ordem é BMW Série 1, Audi A3 e Volvo C30.

Como no ano anterior, é curioso o emplacamento de modelos fora de produção há muitos anos: 11 Fords Escort e 13 Chevrolets Monza. A entidade explica que se referem à troca de placas de carros antigos.

A Fenabrave continua a publicar juntas as vendas do Classic (que não é mais Corsa há muitos anos) e as do Corsa Sedan, o que coloca o modelo como líder entre os sedãs pequenos, à frente de Siena, Voyage, Prisma, Logan, Fiesta nacional, 207 Passion, Fiesta importado, Polo e J3 Turin, na ordem. Alguns desses modelos (caso do Peugeot) estão classificados pela federação como "compactos" junto de Focus, City e Astra, outra incoerência.

Passamos aos sedãs médios e o resultado não é novidade: Corolla à frente com 53,1 mil unidades, uma enorme folga sobre o City (24,6 mil) e o Civic (23 mil), a ponto de os dois Hondas somados não alcançarem o Toyota. Claro que a desaceleração do Civic às vésperas da chegada da nova geração explica parte do fato. A sequência até o 10º lugar traz Cerato, Jetta, Linea, Vectra, Sentra, Fluence e Cruze (o Focus é o 11º e aqui deve estar, não entre os compactos da Fenabrave). Os resultados de dezembro apontam queda expressiva do Kia — efeito do IPI — e bom começo para o Cruze.

Apesar do engano da federação de tirar o Fusion do setor de sedãs grandes, colocando-o entre os médios, foi mesmo esse Ford o mais vendido da categoria, seguido pelos Hyundais Azera e Sonata, Mercedes-Benz Classe C, BMW Série 3, Passat, Audi A4, Chevrolet Malibu, Volvo S60 e Kia Cadenza (os três alemães de luxo e o sueco, de qualquer forma, ficam entre médios e grandes). As sul-coreanas cresceram de maneira decisiva com seus dois recentes lançamentos.

Junta daqui, separa dali
Entre os grandes de luxo, o mais vendido foi o BMW Série 5 (repetindo a vitória de 2010), seguido por Mercedes Classe E, Porsche Panamera e Audi A7. Se a tabela da Fenabrave for considerada, a impressão é de que o Mercedes liderou, pois a BMW é prejudicada pela separação das vendas das versões 535i e 550i. Como entender tal distinção pela mesma entidade que unifica Classic e Corsa?

A Palio Weekend manteve-se à frente entre as peruas pequenas, mas apenas 3% acima da SpaceFox quando a versão Space Cross é considerada — nada mais justo, pois a Fenabrave não separa a Palio Adventure das demais. Marca por marca, a VW vende mais no segmento, pois mantém a Parati em 3º lugar, à frente da Peugeot 207 SW. A Mégane Grand Tour lidera com folga entre as peruas médias, bem adiante da Hyundai I30 CW. No segmento de luxo a Jetta Variant domina, seguida por Audi A4 Avant e Passat Variant.

A Fenabrave chama sua categoria de minivans de "monocab", em referência ao formato monovolume, e inclui ali Soul, Picanto, Doblò e Suzuki SX4. Retirados esses modelos e o Fit (que é um hatch tanto quanto o Fox), o resultado é a vitória da Idea, seguindo-se Meriva, C3 Aircross, Livina e C3 Picasso. A soma das duas minivans da Citroën, que são versões de um só modelo, não altera o resultado e as mantém entre a Chevrolet e a Nissan. As maiores Zafira, Citroën C4 Picasso, Xsara Picasso, JAC J6 e Peugeot 3008 — na ordem de vendas — formam uma classe à parte.

A categoria de esportivos aponta domínio do Chevrolet Camaro, que vendeu 160% a mais que o 2º colocado, o Mercedes SLK. A sequência até 10º traz Ford Mustang (embora só seja importado por empresas independentes, o que dá ideia de quantos a Ford poderia vender oficialmente), BMW Z4, Porsche Boxster, Audi TT, Peugeot RCZ, Porsche 911, Nissan 370Z e Mercedes SLS. Não se pode levar a sério a inclusão pela entidade do BMW X6 como carro esporte.

O Strada conservou ampla vantagem entre os picapes pequenos, à frente de Saveiro, Montana, Courier e Hoggar, na ordem. A classe dos médios viu mais uma vitória do S10, seguido por Hilux, L200 (incluídas ambas as gerações), Ranger, Frontier e Amarok.

Finalmente, 53 modelos são listados como utilitários esporte pela Fenabrave, o que requer uma segmentação pelo critério de faixa de preços, usado em nossa Eleição dos Melhores Carros.

Líder geral no ano, o EcoSport abre a Classe 1 (embora superado em novembro e dezembro pelo Renault Duster). Seguem-se Hyundai Tucson, Mitsubishi ASX, Duster, Kia Sportage e Chery Tiggo. Onde fica o Pajero TR4? A entidade insiste em publicar dados com toda a gama Pajero somada, o que inclui os maiores Sport, Dakar e Full. Assim, o Best Cars prefere não considerar os modelos.

Dos utilitários de nossa Classe 2, o Honda CR-V é o líder, adiante de Hyundai IX35, Chevrolet Captiva, Kia Sorento, Toyota Hilux SW4, Hyundai Santa Fe e VW Tiguan. Da Classe 3 que definimos, o destaque é o BMW X1, seguido por Volvo XC60 e Land Rover Discovery. E na Classe 4 tem-se a liderança do Range Rover, à frente de Porsche Cayenne, Mercedes Classe M, BMW X6, X5 e Audi Q7.

Toda essa informação permite algumas conclusões. Uma, que os recentes lançamentos — Cruze e Duster são exemplos — mostram potencial para alterar bastante o quadro até 2012 terminar, embora certamente enfrentem novos concorrentes no ano que acaba de começar. Outra, que na maioria dos segmentos o brasileiro continua a confiar em marcas e modelos tradicionais, sem dar muita chance aos recém-chegados.

E terceira, que mais uma vez a Fenabrave mostrou não entender nada de automóvel ao transformar os índices de vendas em algo tão desorganizado e cheio de erros, mas que nos dá oportunidade de passar tudo a limpo a cada janeiro.

A BMW é prejudicada pela separação das versões. Como entender tal distinção pela mesma entidade que unifica Classic e Corsa?



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Data de publicação: 14/1/12

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