Mais um ano encerrou-se e, como fizemos no
primeiro Editorial de 2011,
vale conferir quem vendeu mais automóveis no período. Apesar de suas
muitas imprecisões — que corrigiremos adiante —, a relação de
emplacamentos pelo Registro Nacional de Veículos Automotores
(Renavam), divulgada pela Federação Nacional da Distribuição de
Veículos Automotores (Fenabrave), é a fonte mais detalhada
disponível para essa tarefa.
Na competição entre os fabricantes, a Fiat levou a melhor mais uma
vez, mas por margem apertada, ao fechar 2011 com participação de
22,56% do mercado de automóveis, ante 22,13% da Volkswagen. A
distância aumenta um pouco caso se incluam os comerciais leves: no
cômputo geral, a italiana deteve 22,02%, e a alemã, 20,39% do
mercado.
Ainda sobre carros de passeio, de 3º a 10º lugar, a ordem é General
Motors, Ford, Renault, Honda, Peugeot, Citroën, Hyundai e Nissan. Na
comparação com 2010, a Peugeot passou à frente da sócia de grupo
Citroën, enquanto a Toyota desceu para 11ª colocada, perdendo espaço
para Hyundai e Nissan.
Entre os modelos, o Gol garantiu mais um ano de liderança, mesmo
tendo sido superado pelo Uno — em apenas 32 unidades — no volume
emplacado em dezembro. O segmento de entrada registra ainda Celta,
Palio, Ka, 207 e Clio, na ordem. O estreante Chery QQ fica atrás do
Clio, embora a Fenabrave, em suas distorções, não o considere modelo
de entrada.
Nos demais hatches pequenos, o líder permaneceu o Fox, seguido por
Fiesta, Sandero, Agile, Corsa, Punto, Citroën C3, Fit e JAC J3. Os novos Kia Picanto e Nissan March fariam a sequência em
11º e 12º, na ordem.
A Fenabrave atribui ao Punto a vitória entre os hatches médios, mas
para nosso padrão ele é pequeno. Assim, o Hyundai I30 assume a
ponta, seguido por Focus, Astra, Kia Soul, Golf, Bravo, Citroën C4, Nissan
Tiida, Peugeot 307, Vectra e Hyundai Veloster. Com substituição em
breve pelo Cruze hatch, os modelos da GM estão em decadência: em
dezembro o Astra foi 9º, e o Vectra, 10º. Entre os modelos de
prestígio da categoria, a ordem é BMW Série 1, Audi A3 e Volvo C30.
Como no ano anterior, é curioso o emplacamento de modelos fora de
produção há muitos anos: 11 Fords Escort e 13 Chevrolets Monza. A
entidade explica que se referem à troca de placas de carros antigos.
A Fenabrave continua a publicar juntas as vendas do Classic (que não
é mais Corsa há muitos anos) e as do Corsa Sedan, o que coloca o
modelo como líder entre os sedãs pequenos, à frente de Siena,
Voyage, Prisma, Logan, Fiesta nacional, 207 Passion, Fiesta
importado, Polo e J3 Turin, na ordem. Alguns desses modelos (caso do
Peugeot) estão classificados pela federação como "compactos" junto
de Focus, City e Astra, outra incoerência.
Passamos aos sedãs médios e o resultado não é novidade: Corolla à
frente com 53,1 mil unidades, uma enorme folga sobre o City (24,6
mil) e o Civic (23 mil), a ponto de os dois Hondas somados não
alcançarem o Toyota. Claro que a desaceleração do Civic às vésperas
da chegada da nova geração explica parte do fato. A sequência até o
10º lugar traz Cerato, Jetta, Linea, Vectra, Sentra, Fluence e Cruze
(o Focus é o 11º e aqui deve estar, não entre os compactos da
Fenabrave). Os resultados de dezembro apontam queda expressiva do
Kia — efeito do IPI — e bom começo para o Cruze.
Apesar do engano da federação de tirar o Fusion do setor de sedãs
grandes, colocando-o entre os médios, foi mesmo esse Ford o mais
vendido da categoria, seguido pelos Hyundais Azera e Sonata,
Mercedes-Benz Classe C, BMW Série 3, Passat, Audi A4, Chevrolet
Malibu, Volvo S60 e Kia Cadenza (os três alemães de luxo e o sueco,
de qualquer forma, ficam entre médios e grandes). As sul-coreanas
cresceram de maneira decisiva com seus dois recentes lançamentos. |
Junta daqui, separa dali
Entre os grandes de luxo, o mais vendido foi o BMW Série 5
(repetindo a vitória de 2010), seguido por Mercedes Classe E,
Porsche Panamera e Audi A7. Se a tabela da Fenabrave for
considerada, a impressão é de que o Mercedes liderou, pois a BMW é
prejudicada pela separação das vendas das versões 535i e 550i. Como
entender tal distinção pela mesma entidade que unifica Classic e
Corsa?
A Palio Weekend manteve-se à frente entre as peruas pequenas, mas
apenas 3% acima da SpaceFox quando a versão Space Cross é
considerada — nada mais justo, pois a Fenabrave não separa a Palio
Adventure das demais. Marca por marca, a VW vende mais no segmento,
pois mantém a Parati em 3º lugar, à frente da Peugeot 207 SW. A
Mégane Grand Tour lidera com folga entre as peruas médias, bem
adiante da Hyundai I30 CW. No segmento de luxo a Jetta Variant
domina, seguida por Audi A4 Avant e Passat Variant.
A Fenabrave chama sua categoria de minivans de "monocab", em
referência ao formato monovolume, e inclui ali Soul, Picanto, Doblò
e Suzuki SX4. Retirados esses modelos e o Fit (que é um hatch tanto
quanto o Fox), o resultado é a vitória da Idea, seguindo-se Meriva,
C3 Aircross, Livina e C3 Picasso. A soma das duas minivans da
Citroën, que são versões de um só modelo, não altera o resultado e
as mantém entre a Chevrolet e a Nissan. As maiores Zafira, Citroën
C4 Picasso, Xsara Picasso, JAC J6 e Peugeot 3008 — na ordem de
vendas — formam uma classe à parte.
A categoria de esportivos aponta domínio do Chevrolet Camaro, que
vendeu 160% a mais que o 2º colocado, o Mercedes SLK. A sequência
até 10º traz Ford Mustang (embora só seja importado por empresas
independentes, o que dá ideia de quantos a Ford poderia vender
oficialmente), BMW Z4, Porsche Boxster, Audi TT, Peugeot RCZ,
Porsche 911, Nissan 370Z e Mercedes SLS. Não se pode levar a sério a
inclusão pela entidade do BMW X6 como carro esporte.
O Strada conservou ampla vantagem entre os picapes pequenos, à
frente de Saveiro, Montana, Courier e Hoggar, na ordem. A classe dos
médios viu mais uma vitória do S10, seguido por Hilux, L200
(incluídas ambas as gerações), Ranger, Frontier e Amarok.
Finalmente, 53 modelos são listados como utilitários esporte pela
Fenabrave, o que requer uma segmentação pelo critério de faixa de
preços, usado em nossa Eleição dos Melhores Carros.
Líder geral no ano, o EcoSport abre a Classe 1 (embora superado em
novembro e dezembro pelo Renault Duster). Seguem-se Hyundai Tucson,
Mitsubishi ASX, Duster, Kia Sportage e Chery Tiggo. Onde fica o
Pajero TR4? A entidade insiste em publicar dados com toda a gama
Pajero somada, o que inclui os maiores Sport, Dakar e Full. Assim, o
Best Cars prefere não considerar os modelos.
Dos utilitários de nossa Classe 2, o Honda CR-V é o líder, adiante
de Hyundai IX35, Chevrolet Captiva, Kia Sorento, Toyota Hilux SW4,
Hyundai Santa Fe e VW Tiguan. Da Classe 3 que definimos, o destaque
é o BMW X1, seguido por Volvo XC60 e Land Rover Discovery. E na
Classe 4 tem-se a liderança do Range Rover, à frente de Porsche
Cayenne, Mercedes Classe M, BMW X6, X5 e Audi Q7.
Toda essa informação permite algumas conclusões. Uma, que os
recentes lançamentos — Cruze e Duster são exemplos — mostram
potencial para alterar bastante o quadro até 2012 terminar, embora
certamente enfrentem novos concorrentes no ano que acaba de começar.
Outra, que na maioria dos segmentos o brasileiro continua a confiar
em marcas e modelos tradicionais, sem dar muita chance aos
recém-chegados.
E terceira, que mais uma vez a Fenabrave mostrou não entender nada
de automóvel ao transformar os índices de vendas em algo tão
desorganizado e cheio de erros, mas que nos dá oportunidade de
passar tudo a limpo a cada janeiro. |
A BMW é
prejudicada pela separação das versões. Como entender tal distinção
pela mesma entidade que unifica Classic e Corsa? |