O outro guia de compra

Escolhido o carro que você quer, saiba como fazer um bom negócio
e escapar das armadilhas na aquisição de um zero-quilômetro

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Apontar os pontos positivos e negativos de cada automóvel, a fim de orientar a compra do leitor, é algo que fazemos desde o início do Best Cars, há mais de 13 anos. Compará-los em confrontos detalhados, dar espaço aos leitores para opinar sobre seu convívio com o carro no Teste do Leitor e analisar as opções do mercado de usados, por meio do Guia de Compra, são outras tarefas que desempenhamos para que você possa escolher melhor. No entanto, existem dicas que independem do modelo e que, cada dia mais, fazem diferença na hora de comprar.

Não é de hoje que fabricantes e redes de concessionárias lançam promoções para atrair clientes, mas a impressão é de que essa prática tornou-se bem mais comum nos últimos anos. Basta assistir à TV em horário nobre para ver com que frequência aparecem anúncios de varejo, aqueles que falam em preços, ofertas, itens "grátis" e taxas de juros, mas não dos automóveis em si.

Órgãos de defesa do consumidor têm procurado combater estratégias comerciais condenáveis, como expor uma versão equipada do modelo e divulgar um preço que, na verdade, se refere à opção mais simples (hoje é obrigatória a menção de que o carro "possui versões a partir de" determinado preço). Mas é pouco: ainda há muitas armadilhas para enganar os menos cuidadosos.

Tome-se como exemplo a prática dos feirões, hoje tão consagrada. Ainda está para aparecer quem me prove que o preço pago pelo carro nesse tipo de venda — muitas vezes debaixo de um sol escaldante e ocupando um tempo precioso de lazer no fim de semana — foi menor do que o obtido, após negociação, no conforto de um saguão de concessionária.

Os feirões proliferam porque são um ótimo negócio... mas não para quem compra. E por várias razões: uma, por atraírem público prometendo condições especiais que, em geral, já são praticadas; outra, pelo convencimento do comprador de que aquela oferta "imperdível" não se repetirá se ele deixar para pensar até segunda-feira; e terceira, porque incentivam muita gente a levar toda a família, um convite para fechar o negócio por impulso.

Seja no feirão, seja na concessionária, há outros pontos a serem observados. Certa vez eu escrevia um artigo sobre financiamento e fui conversar com um amigo, vendedor de carros novos, para colher dicas sobre taxas de juros e coisas do gênero. O conselho do amigo foi: esqueça as taxas de juros! Desista de entender seu complexo funcionamento e não compre aqui ou ali, ou esse modelo ou aquele, só porque sua taxa anunciada é mais baixa.

Compare na prática: escolha modelo, versão, cor e opcionais, defina o prazo de financiamento — ou o valor máximo da parcela — de sua preferência e, então, confronte os orçamentos de uma loja e outra. Se o fizer dessa forma, você se surpreenderá com prestações diferentes para uma mesma taxa divulgada, ou até com uma parcela mais barata (no mesmo prazo) em uma loja que anunciava taxa de juros mais alta. Tudo depende da negociação.

Almoço grátis
E quando a taxa é zero, não raro anunciada pelo próprio fabricante? Como se diz, não existe almoço grátis: se realmente o carro puder ser comprado a prazo pelo preço sugerido, sem acréscimo, é evidente que você pode adquiri-lo à vista com um bom desconto. Não pode pagar de uma só vez? Sem problemas: só tenha esse fato em mente para negociar o financiamento a partir de um valor mais baixo. Afinal, se estão vendendo à vista por 90% do preço sugerido, por que você deve sair contente pagando 100% a prazo?

Caso semelhante é o da oferta de equipamentos como câmbio automático ou ar-condicionado sem custo adicional ou por preço muito abaixo do usual. Se uma caixa automática custa R$ 5.000, mas lhe permitem comprar o carro com ela pelo preço do câmbio manual, isso significa que o fabricante ou a concessionária pratica um bom desconto no modelo e que, caso prefira o câmbio manual, você pode pagar bem menos.

Ainda sobre equipamentos e compras a prazo, uma prática relativamente comum é o vendedor — incentivado pela comissão que recebe da financeira — tentar convencer o cliente a parcelar o maior valor possível. Mesmo que proponha pagar à vista, ele ouvirá a sugestão de acrescentar opcionais ou passar a uma versão superior e financiar a diferença. Fique de olho: defina suas necessidades e desejos antes de ir às compras e recuse o que não estiver nessa lista.

Em muitos casos, a compra de um carro — novo ou usado — envolve a entrega do veículo atual como parte do pagamento. É mais um cuidado a ser considerado. Já ouvi muita gente contar que mudou de marca, até levando um modelo que não queria a princípio, porque "pagaram mais" por seu automóvel usado na troca. Pode acontecer, mas... será mesmo?

Se os carros novos não são do mesmo modelo, sua cotação no mercado também varia — há os que estão com boa procura, vendidos até acima do preço sugerido, e outros que estão "encalhados" no mercado, sendo vendidos com desconto. Assim, a avaliação do usado por alguns milhares de reais a mais não garante que o negócio seja melhor: é preciso saber na prática quando vale o carro a ser comprado. E a única forma é tentando obter o melhor preço no novo automóvel para, só depois, incluir o usado na troca e negociar a diferença.

Um último conselho para comprar bem: jamais pense que o negócio que está à sua vista é o último. A não ser que esteja comprando uma raríssima unidade de um modelo que já saiu de produção, sempre haverá um carro zero-quilômetro igual em outras lojas, com oferta tão boa quanto — se não melhor.

Se realmente o carro puder ser comprado a prazo pelo preço sugerido, sem acréscimo, é evidente que você pode adquiri-lo à vista com um bom desconto

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Data de publicação: 18/6/11

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