Apontar os pontos positivos e negativos de cada automóvel, a fim de
orientar a compra do leitor, é algo que fazemos desde o início do
Best Cars, há mais de 13 anos. Compará-los em confrontos
detalhados, dar espaço aos leitores para opinar sobre seu convívio
com o carro no Teste do Leitor e analisar as opções do
mercado de usados, por meio do Guia de Compra, são outras
tarefas que desempenhamos para que você possa escolher melhor. No
entanto, existem dicas que independem do modelo e que, cada dia
mais, fazem diferença na hora de comprar.
Não é de hoje que fabricantes e redes de concessionárias lançam
promoções para atrair clientes, mas a impressão é de que essa
prática tornou-se bem mais comum nos últimos anos. Basta assistir à
TV em horário nobre para ver com que frequência aparecem anúncios de
varejo, aqueles que falam em preços, ofertas, itens "grátis" e taxas
de juros, mas não dos automóveis em si.
Órgãos de defesa do consumidor têm procurado combater estratégias
comerciais condenáveis, como expor uma versão equipada do modelo e
divulgar um preço que, na verdade, se refere à opção mais simples
(hoje é obrigatória a menção de que o carro "possui versões a partir
de" determinado preço). Mas é pouco: ainda há muitas armadilhas para
enganar os menos cuidadosos.
Tome-se como exemplo a prática dos feirões, hoje tão consagrada.
Ainda está para aparecer quem me prove que o preço pago pelo carro
nesse tipo de venda — muitas vezes debaixo de um sol escaldante e
ocupando um tempo precioso de lazer no fim de semana — foi menor do
que o obtido, após negociação, no conforto de um saguão de
concessionária.
Os feirões proliferam porque são um ótimo negócio... mas não para
quem compra. E por várias razões: uma, por atraírem público
prometendo condições especiais que, em geral, já são praticadas;
outra, pelo convencimento do comprador de que aquela oferta
"imperdível" não se repetirá se ele deixar para pensar até
segunda-feira; e terceira, porque incentivam muita gente a levar
toda a família, um convite para fechar o negócio por impulso.
Seja no feirão, seja na concessionária, há outros pontos a serem
observados. Certa vez eu escrevia um artigo sobre financiamento e
fui conversar com um amigo, vendedor de carros novos, para colher
dicas sobre taxas de juros e coisas do gênero. O conselho do amigo
foi: esqueça as taxas de juros! Desista de entender seu complexo
funcionamento e não compre aqui ou ali, ou esse modelo ou aquele, só
porque sua taxa anunciada é mais baixa.
Compare na prática: escolha modelo, versão, cor e opcionais, defina
o prazo de financiamento — ou o valor máximo da parcela — de sua
preferência e, então, confronte os orçamentos de uma loja e outra.
Se o fizer dessa forma, você se surpreenderá com prestações
diferentes para uma mesma taxa divulgada, ou até com uma parcela
mais barata (no mesmo prazo) em uma loja que anunciava taxa de juros
mais alta. Tudo depende da negociação. |
Almoço grátis
E quando a taxa é zero, não raro anunciada pelo próprio
fabricante? Como se diz, não existe almoço grátis: se realmente o
carro puder ser comprado a prazo pelo preço sugerido, sem acréscimo,
é evidente que você pode adquiri-lo à vista com um bom desconto. Não
pode pagar de uma só vez? Sem problemas: só tenha esse fato em mente
para negociar o financiamento a partir de um valor mais baixo.
Afinal, se estão vendendo à vista por 90% do preço sugerido, por que
você deve sair contente pagando 100% a prazo?
Caso semelhante é o da oferta de equipamentos como câmbio automático
ou ar-condicionado sem custo adicional ou por preço muito abaixo do
usual. Se uma caixa automática custa R$ 5.000, mas lhe permitem
comprar o carro com ela pelo preço do câmbio manual, isso significa
que o fabricante ou a concessionária pratica um bom desconto no
modelo e que, caso prefira o câmbio manual, você pode pagar bem
menos.
Ainda sobre equipamentos e compras a prazo, uma prática
relativamente comum é o vendedor — incentivado pela comissão que
recebe da financeira — tentar convencer o cliente a parcelar o maior
valor possível. Mesmo que proponha pagar à vista, ele ouvirá a
sugestão de acrescentar opcionais ou passar a uma versão superior e
financiar a diferença. Fique de olho: defina suas necessidades e
desejos antes de ir às compras e recuse o que não estiver nessa
lista.
Em muitos casos, a compra de um carro — novo ou usado — envolve a
entrega do veículo atual como parte do pagamento. É mais um cuidado
a ser considerado. Já ouvi muita gente contar que mudou de marca,
até levando um modelo que não queria a princípio, porque "pagaram
mais" por seu automóvel usado na troca. Pode acontecer, mas... será
mesmo?
Se os carros novos não são do mesmo modelo, sua cotação no mercado
também varia — há os que estão com boa procura, vendidos até acima
do preço sugerido, e outros que estão "encalhados" no mercado, sendo
vendidos com desconto. Assim, a avaliação do usado por alguns
milhares de reais a mais não garante que o negócio seja melhor: é
preciso saber na prática quando vale o carro a ser comprado. E a
única forma é tentando obter o melhor preço no novo automóvel para,
só depois, incluir o usado na troca e negociar a diferença.
Um último conselho para comprar bem: jamais pense que o negócio que
está à sua vista é o último. A não ser que esteja comprando uma
raríssima unidade de um modelo que já saiu de produção, sempre
haverá um carro zero-quilômetro igual em outras lojas, com oferta
tão boa quanto — se não melhor. |
Se realmente o
carro puder ser comprado a prazo pelo preço sugerido, sem acréscimo,
é evidente que você pode adquiri-lo à vista com um bom desconto |