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Como antigamente

Apesar de toda a evolução tecnológica, os principais comandos
de um carro são acionados da mesma forma há décadas

por Fabrício Samahá

Para a maioria de nós, um automóvel sempre teve volante, alavanca de câmbio e pedais nas mesmas posições e com poucas variações de princípio de funcionamento — além da natural diferença entre caixa manual e automática e, em raros casos, de câmbios manuseados por alavanca na coluna de direção. Mas hoje, com as novas possibilidades trazidas pela tecnologia e pela eletrônica, é de se perguntar por que tudo isso se mantém dentro dos padrões estabelecidos há muitas décadas.

Os carros não surgiram com esses comandos na posição atual. Havia mecanismos diferentes para fazer virar as rodas, que aos poucos deram lugar ao volante em forma de aro que conhecemos, para que o efeito de alavanca tornasse o acionamento mais leve. No Ford Modelo T — o carro que motorizou a população americana — já havia um volante dentro dos padrões de hoje, mas o acelerador era manual (por alavanca na coluna de direção), o pé esquerdo fazia as trocas de marcha e um pedal central engatava a marcha à ré, enquanto outro pedal à direita acionava o freio. Embreagem? Usava-se para esse fim o freio de estacionamento, que já era manual.

Décadas depois do primeiro T, outros modelos adotaram novos padrões para comandos como a alavanca de câmbio. Foi o caso da caixa Wilson (projeto do major irlandês Walter Gordon Wilson, um dos inventores do tanque de guerra), do tipo pré-seletiva, em que a marcha desejada era selecionada manualmente e depois colocada em uso por um pedal à esquerda dos demais. Em alguns carros franceses dos anos 30, que usavam o câmbio Cotal — uma das várias empresas que fizeram sob licença as caixas projetadas por Wilson —, pequenos seletores junto ao painel faziam a função de engatar marchas, o mesmo acontecendo no Armstrong Siddeley inglês.

Nos Estados Unidos, na década de 1950, a alavanca de câmbio na coluna de direção (lançada em 1937 pela Pontiac, uma das divisões da General Motors) já estava consagrada quando a Chrysler propôs um novo conceito: um conjunto de teclas no painel, uma para cada posição da caixa, o chamado sistema push-button. Parece simples e funcional, mas não durou muito. A própria marca voltou à alavanca na coluna e, tempos depois, a montagem no assoalho em posição central tornou-se predominante.

Fabrício Samahá, editor

Como videogame
De lá para cá, a criatividade parece ter escasseado. Vez ou outra aparecem novas soluções em carros-conceito, mas que não chegam às ruas. No F200 Imagination da Mercedes-Benz, de 1996, não havia volante ou pedais — apenas comandos do tipo joystick no console central e no painel da porta do motorista. A função de direção era obtida movendo-se o comando para os lados; levado para frente, ele acelerava o motor; para trás, acionava os freios. Tal e qual um jogo de videogame.

Mais que dar entretenimento a garotos crescidos, a idéia da Mercedes era eliminar o volante, os pedais e suas implicações. Uma vez que os comandos mecânicos sejam descartados em favor de conexões eletrônicas — o princípio drive-by-wire, algo como condução por fios —, não há mais motivo para manter um grande aro à frente do motorista, que torna seu posto de direção menos confortável e representa um obstáculo em caso de colisão. O mesmo vale para os pedais, também fonte de risco em acidentes.

Contudo, 13 anos já se passaram sem que as inovações do F200 tenham chegado ao mercado ou, ao menos, aparecido novamente em conceitos da marca mais próximos da produção. O Imagination foi mesmo um mero exercício de imaginação.

Ao menos no que se refere à alavanca de câmbio automático, alguns fabricantes têm apostado em alternativas. Em 2001 a BMW adotou no Série 7 um seletor compacto na alavanca direita da coluna de direção. Nada da grande alavanca — nem sempre fácil de operar — dos velhos carros americanos: selecionada a posição D (drive) num comando do console, bastam pequenas pressões na alavanca para selecionar os modos de funcionamento da caixa.

Em 2007 a Jaguar foi além. No sedã XF, um botão giratório é o comando da caixa automática, com o requinte de ficar embutido no console quando o motor está desligado. Um comando de girar faz todo o sentido em caixas automáticas convencionais e nas de variação contínua (CVT), já que alavancas ou botões junto ao volante hoje permitem mudanças manuais de marcha em muitos carros. No caso das minivans C4 Picasso e Grand C4 Picasso da Citroën, lançadas em 2006 e 2007, uma diminuta alavanca acima da coluna de direção cumpre o papel de comando do câmbio automático, sem o desperdício de espaço de uma alavanca normal no console ou no painel.

De resto, a velha alavanca mecânica para o freio de estacionamento (alguns carros e muitos utilitários usam pedal) cada vez mais dá lugar a comandos manuais elétricos, que poupam espaço e deixam o aspecto interno mais "limpo". E, como o acionamento deixa de ser por um simples cabo de aço, esse freio pode contar com os mesmos auxílios eletrônicos do sistema acionado pelo pedal, o que amplia sua eficácia como freio de emergência.

Houve progressos, mas os comandos principais de um carro moderno ainda se parecem demais com os de tempos passados. Se o fator custo não é decisivo em carros muito luxuosos de centenas de milhares de reais, tudo indica que, nas pesquisas dos fabricantes, o consumidor ainda se mostre relutante em abandonar os clássicos volante e pedais. Quando teremos uma mudança nesse quadro?

Mais que dar entretenimento a garotos crescidos, a idéia da Mercedes era eliminar o volante, os pedais e suas implicações. Não há mais motivo para manter um grande aro à frente do motorista.

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Data de publicação: 28/3/09

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