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A preocupação em formar

Não basta trazer informação: é preciso que o jornalista respeite os
conceitos corretos e as normas do idioma ao passar sua mensagem

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Que escrever bem não é uma habilidade de muitos brasileiros, já se sabe há tempo. Conhecemos histórias de erros graves cometidos por vestibulandos e vemos no dia-a-dia exemplos de redações malfeitas, falhas de ortografia e de gramática em peças publicitárias. Mas há outra atividade em que especial atenção precisa ser dada a esse quesito: a jornalística.

Há seis meses falei aqui das revistas de preparação e personalização — tuning, para usar o desnecessário inglês — e seu texto cheio de gírias que agride o bom gosto (leia Editorial da edição 181). Só que o problema está longe de se limitar a essas publicações voltadas ao público jovem e irreverente: afeta também aquelas que se julgam sérias e preocupadas com o bom português.

Por estes dias conversava com o colunista Bob Sharp, que ganhou da filha no Natal o ótimo livro Ayrton, de Ernesto Rodrigues. Bob conta que por todo lado da obra se lê cilindradas como unidade de medida, como em "kart de 100 cilindradas", quando o correto é 100 cm³ de cilindrada. Há mais: motohome (e não motorhome), kombi (com inicial minúscula, mesmo erro que se lê muito em relação ao Fusca) e uma sucessão de "a Ferrari", "a Williams" e similares, ao se referir ao veículo e não à equipe — será que alguém diz "minha carro"?

Erros conceituais também acontecem em grandes mídias. Na tabela de preços do jornal A Folha de S.Paulo consta que o Citroën C3 é um notchback, definição que se aplica a sedãs de três volumes, não a hatchbacks como esse. O próprio termo notchback, mesmo que fosse aplicado aos modelos corretos, não se justifica por haver expressões em português consagradas pelo mercado e de conhecimento geral.

A Folha pode alegar que não precisa (não mesmo?) entender a fundo de automóvel, pois não é especializada no tema. Mas ler que a suspensão do Koeniggsegg é do tipo wishbone, na mais conhecida revista do setor, é mesmo de doer. Double wishbone é como se define em inglês o sistema de braços sobrepostos — uma tradução simples e fácil de entender, que não à toa é utilizada no BCWS. Mas é bem mais simples copiar o que diz a informação do fabricante...

O inadequado termo "montadora" já nem precisa ser comentado: fiz isso no Editorial da longínqua edição 111, há mais de três anos. Infelizmente, o impróprio uso parece só se ter generalizado desde então. É montadora pra cá, montadora pra lá, em tudo o que é imprensa, incluindo a dita especializada. Decidi há pouco que passaria a usar juntadora de peças — sinônimo de montadora, certo? — em conversas informais, para chamar atenção para o erro. Quem sabe as pessoas se toquem e passem a usar um termo adequado, como fabricante.

Outro hábito arraigado na imprensa, que não constitui erro mas em nada ajuda o leitor, é empregar siglas para definir equipamentos ou sistemas. Muitos podem saber o que são freios ABS (com sistema antitravamento), mas quantos conhecem o que significam ESP (controle de estabilidade), BAS ou AFU (assistência adicional de frenagem, nas siglas em inglês e em francês), ou ainda BCM (sigla da GM para central elétrica integrada)? Fora dos departamentos de engenharia seu uso não se justifica. A intenção parece ser apenas a de criar jargões que só os iniciados na área conhecem, como em uma conversa entre médicos ou uma peça jurídica.

Quando leio tudo isso, a impressão é de que alguns colegas jornalistas parecem não perceber sua responsabilidade de — tanto quanto informar — formar os leitores. Em um país que pouco lê livros, consome músicas mal escritas e sofre, dia após dia, o ataque de programas medíocres de rádio e TV, uma redação esmerada no jornal, site ou revista pode ajudar em muito a instaurar os conceitos e a grafia corretos do que se lê.

De uma coisa o leitor pode ter certeza: o BCWS nunca abrirá mão dessa missão.



A equipe agradece e retribui os votos de Boas Festas recebidos de: Agência HP Press, Agência MSV Press, Alfapress, Audi, Bridgestone Firestone, Daniel Landi, DKW.com.br, Estela Craveiro, Fiat (Itália), Fundação Volkswagen, Honda, JLV Consultoria, Local da Comunicação, Lucky Assessoria, Mastermidia Marketing, Maxpress, McCann, Nobel, Peugeot, Porsche, PR Newswire, Renault, Roberto Pol Imprensa, SD&Press Consultoria, SIG Comunicação, Sindirações, Stuttgart/Porsche, Toyota, Universo Online, Volkswagen, ZDL e de centenas de leitores e amigos. Nossos melhores votos de um grande 2005 a todos.

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Data de publicação: 8/1/05

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