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Para a frente é que se anda

A Renault anuncia para 2007 a chegada de um carro acessível,
mas com tecnologia anterior à dos pequenos que já temos

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorParte da imprensa brasileira foi tomada pela euforia, nos últimos dias, do anúncio da futura produção brasileira de um novo Renault – o Logan, sedã de baixo custo hoje fabricado na Romênia pela Dacia e idealizado para países em desenvolvimento, ou nem isso. Há quem, partindo de cálculos mirabolantes com base no preço da versão romena, acredite que o modelo – fabricado em São José dos Pinhais, PR – custaria hoje menos de R$ 17 mil, mais barato que um Mille. O lançamento nacional está previsto para daqui a dois anos.

Por parte do BCWS, a notícia é vista com ressalvas. É claro que produtos de concepção recente e custo acessível são algo de que o mercado brasileiro precisa, pois nossos líderes de vendas têm cerca de uma década de projeto (o Celta, mais recente deles, não passa de uma reestilização para o Corsa original, lançado na Europa em 1993). Mas, por que o Logan?

Ainda que possa ser simpático aos olhos – como os sedãs Fiesta e Corsa de antiga geração –, o carrinho romeno está longe de ser moderno. Seu estilo externo e interno remete aos anos 1990, a mecânica é bastante simples, o processo de fabricação é tradicional. Com pouca eletrônica e recursos como parte dos vidros plana, produzi-lo sai barato. Isso, claro, enquanto feito com a mão-de-obra subvalorizada dos romenos.

Daí a acreditar que o Logan brasileiro custaria hoje menos que um Mille há um longo caminho. O modelo da Fiat tem 20 anos de praça, o que significa que é um projeto amortizado há muito tempo, além de recorrer a acabamento e tecnologia tão simples quanto possível. Um sedã de maior porte e quatro portas, resultado de grande investimento, chegar às ruas com preço menor que o do veterano Uno parece um sonho distante. Na última vez em que isso aconteceu, em 1990, o carro era o Lada Laika.

Em defesa da Renault, há o mérito de ter anunciado há pouco a fabricação local do novo Mégane Sedan, que pelo porte e padrão de tecnologia tem condições de se tornar o novo topo de linha brasileiro. Mas o que se esperava é que esse dinamismo, essa confiança na evolução do carro nacional se repetisse no segmento de entrada com a vinda da próxima geração do Clio. Em vez disso, chega o Logan – na linha 2007! – com a probabilidade de tomar seu lugar, pois o Clio foi lançado na Europa em 1998 e até lá já terá expirado seu ciclo de vida.

Que o exemplo da marca francesa não se torne um padrão é o desejo de muitos, que acompanham os automóveis mundo afora e querem ver nosso mercado rico em opções modernas como os dos países desenvolvidos. Como no velho ditado, para a frente é que se anda.

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Data de publicação: 2/10/04

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