Parte da imprensa
brasileira foi tomada pela euforia, nos últimos dias, do anúncio da
futura produção brasileira de um novo Renault – o Logan, sedã de baixo
custo hoje fabricado na Romênia pela Dacia e idealizado para países em
desenvolvimento, ou nem isso. Há quem, partindo de cálculos mirabolantes
com base no preço da versão romena, acredite que o modelo – fabricado em
São José dos Pinhais, PR – custaria hoje menos de R$ 17 mil, mais barato
que um Mille. O lançamento nacional está previsto para daqui a dois
anos.
Por parte do BCWS, a notícia é vista com ressalvas. É claro que
produtos de concepção recente e custo acessível são algo de que o
mercado brasileiro precisa, pois nossos líderes de vendas têm cerca de
uma década de projeto (o Celta, mais recente deles, não passa de uma
reestilização para o Corsa original, lançado na Europa em 1993). Mas,
por que o Logan?
Ainda que possa ser simpático aos olhos – como os sedãs Fiesta e Corsa
de antiga geração –, o carrinho romeno está longe de ser moderno. Seu
estilo externo e interno remete aos anos 1990, a mecânica é bastante
simples, o processo de fabricação é tradicional. Com pouca eletrônica e
recursos como parte dos vidros plana, produzi-lo sai barato. Isso,
claro, enquanto feito com a mão-de-obra subvalorizada dos romenos.
Daí a acreditar que o Logan brasileiro custaria hoje menos que um Mille
há um longo caminho. O modelo da Fiat tem 20 anos de praça, o que
significa que é um projeto amortizado há muito tempo, além de recorrer a
acabamento e tecnologia tão simples quanto possível. Um sedã de maior
porte e quatro portas, resultado de grande investimento, chegar às ruas
com preço menor que o do veterano Uno parece um sonho distante. Na
última vez em que isso aconteceu, em 1990, o carro era o Lada Laika.
Em defesa da Renault, há o mérito de ter anunciado há pouco a fabricação
local do novo Mégane Sedan, que pelo porte e padrão de tecnologia tem
condições de se tornar o novo topo de linha brasileiro. Mas o que se
esperava é que esse dinamismo, essa confiança na evolução do carro
nacional se repetisse no segmento de entrada com a vinda da próxima
geração do Clio. Em vez disso, chega o Logan – na linha 2007! – com a
probabilidade de tomar seu lugar, pois o Clio foi lançado na Europa em
1998 e até lá já terá expirado seu ciclo de vida.
Que o exemplo da marca francesa não se torne um padrão é o desejo de
muitos, que acompanham os automóveis mundo afora e querem ver nosso
mercado rico em opções modernas como os dos países desenvolvidos. Como
no velho ditado, para a frente é que se anda.
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