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Envelhecimento precoce

Modificações inesperadas de desenho ou de mecânica tornam
desatualizados carros com poucos meses de mercado

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorTodo proprietário de automóvel incomoda-se com a depreciação, a perda de valor inerente a um bem de consumo, sobretudo quando adquirido novo. Embora haja meios de atenuá-la, conforme a escolha de marca, modelo e até cor, existe um fator que é difícil de prever e atrapalha bastante: a renovação precoce do produto pelo fabricante.

A Ford lançou há pouco o Ranger 2005, com estilo reformulado, mas manteve o painel e o motor diesel já conhecidos. E não escondeu que logo em março – dentro de apenas sete meses – adotará novos instrumentos e um propulsor mais potente. É inevitável que os picapes "novos pela metade" sejam desvalorizados no futuro.

Não é a primeira vez em que isso acontece. Ainda me lembro bem da reação de donos de Monza ao chamado modelo "1985 e meio", ou Fase 2, lançado em abril daquele ano com evoluções de estilo e conforto. Foi a primeira vez que a indústria antecipou de tal forma a renovação de ano-modelo, o que hoje é comum. Pegos de surpresa com seus modelos 1985 Fase 1 ainda novíssimos, eles protestaram à General Motors e chegaram a reivindicar a aplicação das melhorias a seus automóveis, o que evidentemente não aconteceu.

Diversos casos semelhantes vieram desde então, envolvendo de reestilizações a trocas de motor, todas em momentos inesperados. Em 2002 a mesma GM substituiu o propulsor do Tracker menos de um ano após seu lançamento no Brasil. O modelo antigo – e submotorizado – tornou-se de imediato um "mico", como o mercado apelida os veículos de pouca aceitação.

No ano seguinte foi a vez de o Corsa Classic, o antigo, receber o motor VHC seis meses depois de lançado. Outra apunhalada em quem comprou uma "novidade" precocemente envelhecida. A GM repetiria a manobra no fim daquele ano, com intervalo ainda menor – três semanas: mal colocou no mercado a Meriva 2004, já a substituiu pela versão flexível em combustível, deixando possessos os que tenham adquirido o ano-modelo natimorto.

O problema não se limita, claro, à marca Chevrolet. A Fiat por duas vezes aplicou novos motores à linha Palio (o Fire 1,25 16V, em fevereiro de 2000, e o 1,8, três anos depois) quando faltava meio ano para uma ampla reestilização. Em contrapartida, depois de renovar seu estilo, em novembro passado, fez o inverso: trocou o motor 1,8 a gasolina pelo flexível em março último. É de se imaginar a situação de quem optou pelo "último lançamento" e viu seu carro desatualizado em cinco meses.

São muitos os casos. Na Volkswagen, o Sedã 1300 ficou seis meses com sistema de elétrico de seis volts e passou a 12 no mesmo ano-modelo 1967. Antes, o modelo 1966 recebera melhorias que seriam incorporadas no seguinte, ficando conhecido como "modelinho". O que dizer do Gol 1300, que em um ano passou a 1600? E o Santana, cujo motor 1,8-litro foi reformulado cerca de um ano depois de lançado?

A própria Ford também aprontou das suas antes do Ranger. O Corcel II, lançado em 1977 com câmbio de quatro marchas, meses depois foi oferecido com o de cinco. O Fiesta espanhol durou só um ano, substituído pelo nacional de estilo bem diferente. O Escort teve a grade modificada em meados de 1996, a seis meses do lançamento do modelo "Zetec" e seu novo estilo. E o mesmo Ranger, que chegou ao Brasil no final de 1994, ganhou poucos meses após um painel modernizado, tornando as primeiras unidades superadas em curto espaço de tempo. A exata situação que se repetirá agora, uma década mais tarde.

Claro, não é possível frear a evolução com o pretexto de evitar o envelhecimento precoce. Mas os fabricantes bem poderiam evitar certas medidas, que chegam a parecer improvisadas, em respeito ao consumidor. Muitas vezes, segurar um lançamento por pouco tempo mais pode ser o bastante para não criar uma situação incômoda – e que dói no bolso.

E quanto ao comprador, o que fazer? Como todo fabricante declara em sua publicidade que se reserva o direito de alterações sem prévio aviso, não cabe reparação de nenhuma espécie. A única solução é ficar atento a publicações como o BCWS, que procuram antecipar essas mudanças, e esperar o momento certo para comprar a melhor opção: o veículo já renovado, portanto com expectativa de se manter atual por mais tempo, ou a versão antiga, neste caso com um expressivo desconto.

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Data de publicação: 21/8/04

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