Mundo assustado

O preço do petróleo dispara. E agora?

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorPor motivo que pode ser classificado de pura especulação, o preço do petróleo disparou. Deu mesmo a louca em quem quer que seja – produtores do Oriente Médio, corretores das bolsas dos mercados do ouro negro de Nova York e Londres –, pois numa análise fria não há motivo para essa doideira.

Do patamar de US$ 30 o barril, há pouco mais de um ano, há risco de se chegar a US$ 50, o que certamente fará grandes estragos na economia mundial. Se tomado o preço absurdo de US$ 12 o barril de 1973 e atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos, chega-se a US$ 50,70. Portanto, seria uma insanidade igual à daquela época, quando os preços subiram 500% em menos de um mês – e os estragos então foram inevitáveis.

A diferença para nós, brasileiros, é que agora estamos a cavaleiro, ou seja, temos ótima produção de petróleo, que supre pouco mais de 90% de nossas necessidades. Em meados dos anos 1970 o Brasil simplesmente não tinha de onde tirar divisas para importar o produto.

Se nossa situação é confortável por um lado, por outro é inquietante. É que o mundo financeiro global gira em torno de uma coisa chamada commodities, ou seja, produtos primários negociados aberta e internacionalmente em bolsas. O pior é que se sabe que tudo isso está na mão de literalmente meia dúzia de pessoas, capazes de manipular medo e apreensão para auferirem, em beneficio próprio. Os outros? Ora, que se danem.

Nosso petróleo, assim, não é tão nosso quanto parece. Pelo motivo de ser uma commodity, a Petrobrás atribui-lhe valor internacional para fim de cálculo do preço dos derivados. E tome US$ 45 o barril na hora de fazer as contas de quanto custará a gasolina, o diesel, o gás engarrafado de cozinha, a nafta petroquímica, enfim, tudo de que dependemos no dia-a-dia. Mesmo que quase todo o petróleo saia de nosso território, em terra firme ou mar a dentro.

O impacto que tal nível de preço representa para a economia é muito elevado. Logo teremos aumentos de preços em praticamente tudo o que se produz e se transporta. Há uma ameaça visível à nossa porta.

Está na hora de o Brasil repensar toda essa questão. Como dono do negócio, o governo, pela Petrobrás, tem o direito e o dever de estabelecer o preço do petróleo que nos convém, não a uma meia dúzia de espertalhões.

Antes que o leitor pense numa saída brilhante com o álcool produzido em nosso solo, é preciso lembrar que, no estágio atual de tecnologia, ele apenas substitui a gasolina. Isso quer dizer: não resolve nada. Continuamos dependentes do petróleo estrangeiro para o diesel, graças a um sistema de transporte de cargas essencialmente rodoviário.

Só donos de carros a álcool podem respirar aliviados – não se sabe por quanto tempo, pois álcool também é commodity e nesta semana abriram-se novas portas para exportar açúcar para a Comunidade Européia. Em outras palavras, o álcool também pode passar por esse processo de elevação brutal de preços. Tomara que isso não aconteça.

Estamos numa guerra de preços – para cima. E o governo não pode ficar inerte quando há uma guerra contra o bolso de todos os brasileiros, proprietários ou não de automóveis.

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Data de publicação: 7/8/04

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