Por motivo que pode ser
classificado de pura especulação, o preço do petróleo disparou. Deu
mesmo a louca em quem quer que seja – produtores do Oriente Médio,
corretores das bolsas dos mercados do ouro negro de Nova York e Londres
–, pois numa análise fria não há motivo para essa doideira.
Do patamar de US$ 30 o barril, há pouco mais de um ano, há risco de se
chegar a US$ 50, o que certamente fará grandes estragos na economia
mundial. Se tomado o preço absurdo de US$ 12 o barril de 1973 e
atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos,
chega-se a US$ 50,70. Portanto, seria uma insanidade igual à daquela
época, quando os preços subiram 500% em menos de um mês – e os estragos
então foram inevitáveis.
A diferença para nós, brasileiros, é que agora estamos a cavaleiro, ou
seja, temos ótima produção de petróleo, que supre pouco mais de 90% de
nossas necessidades. Em meados dos anos 1970 o Brasil simplesmente não
tinha de onde tirar divisas para importar o produto.
Se nossa situação é confortável por um lado, por outro é inquietante. É
que o mundo financeiro global gira em torno de uma coisa chamada
commodities, ou seja, produtos primários negociados aberta e
internacionalmente em bolsas. O pior é que se sabe que tudo isso está na
mão de literalmente meia dúzia de pessoas, capazes de manipular medo e
apreensão para auferirem, em beneficio próprio. Os outros? Ora, que se
danem.
Nosso petróleo, assim, não é tão nosso quanto parece. Pelo motivo de ser
uma commodity, a Petrobrás atribui-lhe valor internacional para
fim de cálculo do preço dos derivados. E tome US$ 45 o barril na hora de
fazer as contas de quanto custará a gasolina, o diesel, o gás
engarrafado de cozinha, a nafta petroquímica, enfim, tudo de que
dependemos no dia-a-dia. Mesmo que quase todo o petróleo saia de nosso
território, em terra firme ou mar a dentro.
O impacto que tal nível de preço representa para a economia é muito
elevado. Logo teremos aumentos de preços em praticamente tudo o que se
produz e se transporta. Há uma ameaça visível à nossa porta.
Está na hora de o Brasil repensar toda essa questão. Como dono do
negócio, o governo, pela Petrobrás, tem o direito e o dever de
estabelecer o preço do petróleo que nos convém, não a uma meia dúzia de
espertalhões.
Antes que o leitor pense numa saída brilhante com o álcool produzido em
nosso solo, é preciso lembrar que, no estágio atual de tecnologia, ele
apenas substitui a gasolina. Isso quer dizer: não resolve nada.
Continuamos dependentes do petróleo estrangeiro para o diesel, graças a
um sistema de transporte de cargas essencialmente rodoviário.
Só donos de carros a álcool podem respirar aliviados – não se sabe por
quanto tempo, pois álcool também é commodity e nesta semana
abriram-se novas portas para exportar açúcar para a Comunidade Européia.
Em outras palavras, o álcool também pode passar por esse processo de
elevação brutal de preços. Tomara que isso não aconteça.
Estamos numa guerra de preços – para cima. E o governo não pode ficar
inerte quando há uma guerra contra o bolso de todos os brasileiros,
proprietários ou não de automóveis.
|