Um ano atípico

Da economia aos lançamentos, 2003 teve bons e maus
momentos. E fica a esperança de um grande 2004

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorFoi mesmo um ano atípico, esse que está quase acabando.

A começar por ser ano de novo governo, do qual havia dúvidas por parte de muitos brasileiros. Muitos ainda se lembram da escalada do dólar a partir de março do ano passado, que de R$ 2,30 bateu nos R$ 4,00, desarrumando a casa em vários aspectos — como o reajuste das tarifas públicas, algumas em patamar excessivo. A moeda americana felizmente recuou para R$ 2,90 em números redondos e, o que é mais importante, mantido o regime de livre flutuação.

O "espetáculo do crescimento" prometido pelo presidente Lula no meio do ano não aconteceu. A economia cresceu menos de 1%, o que não é nada bom, mas o quadro deve melhorar do ano que vem em diante. Afinal, urge dar emprego a 10 milhões de pessoas, fato que, concretizado, alavanca por si só a economia — qualquer economia. É mais gente consumindo e pagando imposto.

O setor que é foco do BCWS, o automóvel e sua indústria, passa por momentos não propriamente difíceis, mas esquisitos. Desde 1997 estamos com o freio de mão puxado, em que o excesso de capacidade instalada se recusa a sair de 40% e o mercado interno permanece magro, com 1,4 milhão de unidades. É estranho por se tratar de um país que, para se motorizar no nível da Argentina (cinco habitantes por veículo, ante 8,5 aqui), precisaria hoje produzir 34 milhões de carros novos. A três milhões por ano, seriam 11 anos. Dá para imaginar?

Um fato inusitado foi a redução de três pontos percentuais nas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos dois primeiros grupos de cilindrada, o que nos deixou mais perto do Primeiro Mundo — não muito, porém. Há o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), estadual, e os sociais PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), além da famigerada CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Foi ano de reforma tributária, que de reforma não terá nada. Seria melhor chamá-la de renomeação tributária.

Foi ano também de vários lançamentos interessantes, como os pequenos C3, Fit e Fox, os utilitários derivados de automóveis EcoSport e Montana, uma ampla renovação no picape Mitsubishi L200 e uma menos extensa no Palio. Pena que as perspectivas para os próximos anos não sejam das melhores: depois de escassearem opções no segmento de médio-grandes nacionais, a tendência é de se defasarem também os médio-pequenos, como o Golf, que não terá a quinta geração produzida aqui.

O ano marcou ainda a chegada dos motores flexíveis em combustível, com três grandes indústrias de peças e componentes — Bosch, Delphi e Magneti Marelli — se empenhando em suprir os fabricantes de automóveis. Também em motores, a faixa de cilindrada de 1,25 a 1,4 litro mostrou disposição para crescer, com a estréia de propulsores da GM (em reedição de 1996), Honda e Citroën (leia Editorial).

Tudo isso seria coroado regiamente se tivéssemos o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, mas sua realização é bienal e nos anos pares. Um mercado como o nosso não justifica um evento anual?

O BCWS tem certeza de que 2004 será um ano bem melhor que 2003. E deseja a todos os leitores e seus familiares um Natal muito feliz, seguido de um Ano Novo repleto do melhor que a vida tem a oferecer.

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Data de publicação: 13/12/03

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