Foi mesmo um ano atípico, esse
que está quase acabando.
A começar por ser ano de novo governo, do qual havia dúvidas por parte
de muitos brasileiros. Muitos ainda se lembram da escalada do
dólar a partir de março do ano passado, que de R$ 2,30 bateu nos R$
4,00, desarrumando a casa em vários aspectos — como o reajuste das
tarifas públicas, algumas em patamar excessivo. A moeda americana
felizmente recuou para R$ 2,90 em números redondos e, o que é mais
importante, mantido o regime de livre flutuação.
O "espetáculo do crescimento" prometido pelo presidente Lula no meio do
ano não aconteceu. A economia cresceu menos de 1%, o que não é nada bom, mas o
quadro deve melhorar do ano que vem em diante. Afinal, urge dar emprego
a 10 milhões de pessoas, fato que, concretizado, alavanca por si só a
economia — qualquer economia. É mais gente consumindo e pagando imposto.
O setor que é foco do BCWS, o automóvel e sua indústria, passa
por momentos não propriamente difíceis, mas esquisitos. Desde 1997
estamos com o freio de mão puxado, em que o excesso de capacidade
instalada se recusa a sair de 40% e o mercado interno permanece magro,
com 1,4 milhão de unidades. É estranho por se tratar de um país que,
para se motorizar no nível da Argentina (cinco habitantes por veículo,
ante 8,5 aqui), precisaria hoje produzir 34 milhões de carros novos. A
três milhões por ano, seriam 11 anos. Dá para imaginar?
Um fato inusitado foi a redução de três pontos percentuais nas alíquotas
do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos dois primeiros
grupos de cilindrada, o que nos deixou mais perto do Primeiro Mundo —
não muito, porém. Há o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), estadual, e os sociais PIS (Programa de Integração
Social) e Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social),
além da famigerada CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira). Foi ano de reforma tributária, que de reforma não terá
nada. Seria melhor chamá-la de renomeação tributária.
Foi ano também de vários lançamentos interessantes, como os pequenos C3,
Fit e Fox, os utilitários derivados de automóveis EcoSport e Montana,
uma ampla renovação no picape Mitsubishi L200 e uma menos extensa no
Palio. Pena que as perspectivas para os próximos anos não sejam das
melhores: depois de escassearem opções no segmento de médio-grandes
nacionais, a tendência é de se defasarem também os médio-pequenos, como
o Golf, que não terá a quinta geração produzida aqui.
O ano marcou ainda a chegada dos motores flexíveis em combustível, com
três grandes indústrias de peças e componentes — Bosch, Delphi e Magneti
Marelli — se empenhando em suprir os fabricantes de automóveis. Também
em motores, a faixa de cilindrada de 1,25 a 1,4 litro mostrou disposição
para crescer, com a estréia de propulsores da GM (em reedição de 1996),
Honda e Citroën (leia Editorial).
Tudo isso seria coroado regiamente se tivéssemos o Salão Internacional
do Automóvel de São Paulo, mas sua realização é bienal e nos anos pares.
Um mercado como o nosso não justifica um evento anual?
O BCWS tem certeza de que 2004 será um ano bem melhor que 2003. E
deseja a todos os leitores e seus familiares um Natal muito feliz,
seguido de um Ano Novo repleto do melhor que a vida tem a oferecer.
|