Em meados de 1996, faltando um ano ainda para o surgimento do Best
Cars Web Site, eu e Bob Sharp começávamos a trabalhar juntos na
revista Autoesporte. Certo dia Bob me contou, contrariado: havia sido
convidado a dirigir, nos Estados Unidos, o Plymouth Prowler, espécie de
hot rod dos tempos modernos (foto abaixo). "Isso é coisa para
garotos", insistia, embora tenha ido e feito o belo trabalho que sempre
teve por hábito fazer.
A conversa de sete anos atrás voltou à mente, há poucos dias, quando
conversávamos — eu e Bob, agora juntos no BCWS — sobre o mesmo
Prowler. "Adoraria ver aquele carro, com aquela suspensão de alumínio e
câmbio na traseira, vestido com outra roupa", provocou Bob, a que
retruquei: "Mas a roupa é o mais interessante do carro!"
Como se percebe, o conflito de gerações aplica-se também ao fascinante
mundo do automóvel. Estilos, acessórios e tendências que tanto atraem os
mais jovens podem desagradar aos mais velhos, e vice-versa. E os
exemplos são muitos.
Aos 28 anos, sou ávido por novidades em preparação de estilo — aquilo
que existe desde o Ford Modelo T, mas só agora ganhou as páginas de
muitas revistas renomeado tuning. Gosto de modelos de estilo
ousado, como o Focus hatch, e "retrô", como o Prowler e o PT
Cruiser, de sistemas de áudio potentes, de carros com painel moderno e
atraente aos olhos, de ter o conforto térmico e a relativa privacidade
da película escura nos vidros (um de meus carros foi um Kadett em que
até o revestimento do teto era preto, para contribuir com o
escurecimento do interior).
Vejo
com bons olhos ter freios antitravamento (ABS) e bolsas infláveis nos
carros que dirijo, pois toda evolução em prol da segurança é bem-vinda.
Acho prazeroso dirigir no fora-de-estrada, e lançamentos que incluem
esse tipo de avaliação estão entre meus prediletos. Não aprecio picapes
e utilitários esporte, mas sou aberto a variedades, como transformar uma
perua ou um picape em um modelo esportivo — o Maloo, da HSV australiana,
eleva meu batimento cardíaco.
Bob, aos 60 muito bem-vividos, não aprecia nada disso. Prefere
automóveis e peruas originais — coisa fina, mas original —, sistemas de
som moderados, e janelas sem películas. Nada de pneus muito largos,
porque aquaplanam mais facilmente. Dispensa freios ABS e bolsas
infláveis: “Quem sabe frear não precisa de ABS, e melhor que airbag
é não bater”, afirma, sério.
Nos painéis, vê meros sistemas de informação, que só precisam ser
funcionais. “Não tem nada a ver, painel de Boeing”, diz, brincando. De
modo algum teria um PT Cruiser, quanto mais um Prowler, além de criticar
o desenho da traseira do Focus, "muito liso". Não vê o menor sentido em
brincar de rodar fora do asfalto a 5 km/h com as quatro rodas
tracionando. Utilitários esporte ou de trabalho e picapes, para ele, não
passam de meros transportadores de carga, sem o menor apelo de qualquer
coisa.
Vale lembrar que Bob, como sabem os que o acompanham há tempos, está
longe do padrão de comportamento de muitos de seus contemporâneos. A
maioria deles, se dirigiu rápido uma vez na vida — “dei 140!” —,
abandonou esse hábito há décadas. Bob, vamos admitir, tem sido um
respeitador dos limites de velocidade, mas não há tanto tempo assim...
Além de ter sido piloto de competição por 24 anos.
Portanto, não se trata de comparar personalidades típicas de 28 e de 60
anos. O conflito de gerações é que é assim mesmo, e por causa dele
existem tantos modelos de automóveis. Mas o ideal — e todo fabricante
sabe disso — é atingir tal grau de equilíbrio que o carro possa agradar
a gregos e troianos, a Bobs e Fabrícios. Quando isso acontece, o sucesso
é garantido.
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