Sobressaltos eleitorais desfeitos, dólar em queda acentuada se
avizinhando de R$ 2,80, ataque ao Iraque terminado, inexistência de
armas químicas e biológicas de Sadam, Guarda Republicana que ninguém viu
— e a vida energética do mundo e do Brasil vai voltando ao normal. Isto
é, os combustíveis estão ficando mais baratos, para alívio geral:
combustível influencia decisivamente no custo de vida, mesmo que os
índices de inflação garantam que é quase nada.
Outro lado positivo do rescaldo da guerra é a retomada da produção de
petróleo pelo Iraque daqui a alguns dias, que vem refrear os ânimos dos
mercados de Nova York, Londres e Roterdã, os que mandam no preço. E, por
que não, o amigo do presidente, o venezuelano Hugo Chávez, conseguindo
que os poços de seu país voltem a jorrar o ouro negro, após mais de um
ano de válvulas secas, ajuda bastante.
Se por um lado o panorama mundial é favorável, aqui dentro isso não está
acontecendo. Ser necessário que o presidente de República venha a
público declarar que revendedores de combustíveis estão abusando do
preço, para que haja uma reação favorável ao consumidor, é um quadro que
deveria pertencer ao passado. Mas foi exatamente o que aconteceu. E o
pior (melhor) é que funcionou. Ao lado das palavras ameaçadoras da
ministra de Minas e Energia Dilma Youssef, ao acenar trincando os dentes
com uma “tabela de recomendação de preços dos derivados”, isso mostra
que ainda temos um longo caminho pela frente.
E há mais: a questão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços, nosso conhecido e íntimo ICMS, que deveria ser recolhido sobre
o preço de comercialização no varejo, mas não é. Alguém lá em cima no
planalto central inventou a moda da “base de cálculo”, que é o seguinte:
em vez de aplicar a alíquota do imposto sobre o preço do litro na bomba,
que é o princípio de todo imposto recolhido sobre o varejo, usa-se um
preço hipotético de, digamos, R$ 2,15 o litro.
Se o consumidor pagou R$ 1,90, na verdade poderia ter pago menos, pois o
dono do posto terá de recolher mais imposto do que se o cálculo do ICMS
fosse “de verdade”. Enquanto isso, a legítima aspiração dos brasileiros
que é a reforma tributária não sai do rascunho.
O rumo que as coisas estavam tomando era realmente preocupante, e a
atual tendência de baixa dos preços dos combustíveis só vem beneficiar
toda a economia. Que está precisando de um bom empurrão. As vendas da
indústria automobilística estranhamente não decolaram como se esperava,
e todo mundo está refazendo as projeções. De 1,5 milhão de unidades no
mercado interno este ano, já caiu para 1,4. Já tem fábrica mandando todo
mundo para casa. O que vai segurar realmente essa barra é a exportação,
que em números redondos deve chegar a 300 mil veículos em 2003.
Por essas e outras é que o caminho de volta dos preços é mesmo
bem-vindo. Que continue assim, descendo a ladeira.
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