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Descendo a ladeira

Edição n°. 152 - 14 de junho de 2003

Sobressaltos eleitorais desfeitos, dólar em queda acentuada se avizinhando de R$ 2,80, ataque ao Iraque terminado, inexistência de armas químicas e biológicas de Sadam, Guarda Republicana que ninguém viu — e a vida energética do mundo e do Brasil vai voltando ao normal. Isto é, os combustíveis estão ficando mais baratos, para alívio geral: combustível influencia decisivamente no custo de vida, mesmo que os índices de inflação garantam que é quase nada.

Outro lado positivo do rescaldo da guerra é a retomada da produção de petróleo pelo Iraque daqui a alguns dias, que vem refrear os ânimos dos mercados de Nova York, Londres e Roterdã, os que mandam no preço. E, por que não, o amigo do presidente, o venezuelano Hugo Chávez, conseguindo que os poços de seu país voltem a jorrar o ouro negro, após mais de um ano de válvulas secas, ajuda bastante.

Se por um lado o panorama mundial é favorável, aqui dentro isso não está acontecendo. Ser necessário que o presidente de República venha a público declarar que revendedores de combustíveis estão abusando do preço, para que haja uma reação favorável ao consumidor, é um quadro que deveria pertencer ao passado. Mas foi exatamente o que aconteceu. E o pior (melhor) é que funcionou. Ao lado das palavras ameaçadoras da ministra de Minas e Energia Dilma Youssef, ao acenar trincando os dentes com uma “tabela de recomendação de preços dos derivados”, isso mostra que ainda temos um longo caminho pela frente.

E há mais: a questão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, nosso conhecido e íntimo ICMS, que deveria ser recolhido sobre o preço de comercialização no varejo, mas não é. Alguém lá em cima no planalto central inventou a moda da “base de cálculo”, que é o seguinte: em vez de aplicar a alíquota do imposto sobre o preço do litro na bomba, que é o princípio de todo imposto recolhido sobre o varejo, usa-se um preço hipotético de, digamos, R$ 2,15 o litro.

Se o consumidor pagou R$ 1,90, na verdade poderia ter pago menos, pois o dono do posto terá de recolher mais imposto do que se o cálculo do ICMS fosse “de verdade”. Enquanto isso, a legítima aspiração dos brasileiros que é a reforma tributária não sai do rascunho.

O rumo que as coisas estavam tomando era realmente preocupante, e a atual tendência de baixa dos preços dos combustíveis só vem beneficiar toda a economia. Que está precisando de um bom empurrão. As vendas da indústria automobilística estranhamente não decolaram como se esperava, e todo mundo está refazendo as projeções. De 1,5 milhão de unidades no mercado interno este ano, já caiu para 1,4. Já tem fábrica mandando todo mundo para casa. O que vai segurar realmente essa barra é a exportação, que em números redondos deve chegar a 300 mil veículos em 2003.

Por essas e outras é que o caminho de volta dos preços é mesmo bem-vindo. Que continue assim, descendo a ladeira.

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