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Leia antes de usar

Edição n°. 151 - 31 de maio de 2003

Quem lê o manual do proprietário do automóvel? Bem poucos, sabe-se. O fato é que, à medida em que os carros ganham recursos e funções, menos motoristas conseguem tirar o verdadeiro proveito deles por pura falta de leitura desse importante livrete que acompanha o veículo.

Há quem considere a leitura desnecessária, alegando: "Os comandos são sempre iguais e eu aprendo facilmente a usar". Ledo engano. Além de infinitas variações de formato, funcionamento e localização (leia artigo a respeito), há recursos que ficam tão discretos que o usuário nem percebe que o automóvel os possui.

O manual é tão desprestigiado que surgem até piadas a seu respeito. Como esta charada: "O que é, o que é? No carro novo ninguém olha, ao vender retira e no usado todo mundo pede?" Resposta: o manual, claro. O mais curioso é que o comprador o quer no usado mais para valorizar o veículo do que propriamente para o estudar. E por que quem vende sempre o retira do carro é um mistério insolúvel.

Ou aquela outra... "Qual a melhor maneira de saber se numa residência há ou não crianças?" É só olhar para o videocassete: se o relógio estiver piscando, não-ajustado, é porque não tem...

Na atividade de avaliação de veículos não posso me dar a esse luxo. Procuro sempre dar uma folheada no manual para conhecer o carro e aprender a usar certos sistemas — isso, claro, quando o carro vem com o livrete, o que muitas vezes, lamentavelmente, não acontece. Alguns casos ocorridos com pessoas conhecidas ilustram bem a falta de conhecimento por não se ler o manual.

Um foi com o porta-luvas superior do Stilo — o modelo possui dois, um deles sem maçaneta, sendo aberto ao puxar a tampa pelas laterais. Um conhecido insistia em reclamar que o porta-luvas era muito baixo. "Nem dá para ver o que tem dentro. Você deveria citar isso em suas avaliações", ele sugeria. Até que fui ver o carro e lhe mostrei o segundo porta-luvas... Não mudou o fato de o inferior ser muito baixo, mas ao menos ele descobriu um novo lugar para os documentos.

Outro item que às vezes "desaparece" é o computador de bordo. Se em um Omega nacional ele ficava bem à vista, com o menu de funções impresso ao lado do quadro de instrumentos, em alguns modelos ele alterna a visualização com o relógio digital ou mesmo com o hodômetro, ficando um tanto camuflado.

Resultado: após algumas semanas com seu Polo Comfortline, um amigo ainda não sabia que o carro possuía o equipamento, embora se lembrasse de tê-lo visto na relação de itens de série da versão. Só ao consultar o manual soube que, ao comandar um botão na extremidade da alavanca do limpador de pára-brisa, o computador alternava suas funções com o mostrador do relógio.

Até aqui falamos de itens supérfluos e de conveniência. A coisa realmente se complica quando a informação refere-se a itens de segurança e recomendações de manutenção. Quantos motoristas sabem que devem manter a pressão no pedal, em uma freada de emergência, quando o sistema antitravamento (ABS) o faz trepidar?

Sem falar nas tarefas corriqueiras, como a verificação da pressão dos pneus e a troca de óleo lubrificante. Não ler o manual e confiar no "conselho do frentista" — que não sabe, nem poderia saber, essas especificações de todos os automóveis — é o caminho para cometer erros que podem custar caro.

Tudo isso ocorre com carros comuns, relativamente acessíveis, e com pessoas que têm certo interesse nessa máquina fantástica que é o automóvel. É de se imaginar o que acontece, portanto, com motoristas desinteressados em veículos que se deparam com carros sofisticados e cheios de recursos de difícil compreensão.

Só mesmo lendo o manual.

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