Quem lê o manual do proprietário do automóvel? Bem poucos, sabe-se.
O fato é que, à medida em que os carros ganham recursos e funções, menos
motoristas conseguem tirar o verdadeiro proveito deles por pura falta de
leitura desse importante livrete que acompanha o veículo.
Há quem considere a leitura desnecessária, alegando: "Os comandos são
sempre iguais e eu aprendo facilmente a usar". Ledo engano. Além de
infinitas variações de formato, funcionamento e localização (leia
artigo a respeito), há recursos que ficam tão discretos que o
usuário nem percebe que o automóvel os possui.
O manual é tão desprestigiado que surgem até piadas a seu respeito. Como
esta charada: "O que é, o que é? No carro novo ninguém olha, ao vender
retira e no usado todo mundo pede?" Resposta: o manual, claro. O mais
curioso é que o comprador o quer no usado mais para valorizar o veículo
do que propriamente para o estudar. E por que quem vende sempre o retira
do carro é um mistério insolúvel.
Ou aquela outra... "Qual a melhor maneira de saber se numa residência há
ou não crianças?" É só olhar para o videocassete: se o relógio estiver
piscando, não-ajustado, é porque não tem...
Na atividade de avaliação de veículos não posso me dar a esse luxo.
Procuro sempre dar uma folheada no manual para conhecer o carro e
aprender a usar certos sistemas — isso, claro, quando o carro vem com o
livrete, o que muitas vezes, lamentavelmente, não acontece. Alguns casos
ocorridos com pessoas conhecidas ilustram bem a falta de conhecimento
por não se ler o manual.
Um foi com o porta-luvas superior do Stilo — o modelo possui dois, um
deles sem maçaneta, sendo aberto ao puxar a tampa pelas laterais. Um
conhecido insistia em reclamar que o porta-luvas era muito baixo. "Nem
dá para ver o que tem dentro. Você deveria citar isso em suas
avaliações", ele sugeria. Até que fui ver o carro e lhe mostrei o
segundo porta-luvas... Não mudou o fato de o inferior ser muito baixo,
mas ao menos ele descobriu um novo lugar para os documentos.
Outro item que às vezes "desaparece" é o computador de bordo. Se em um
Omega nacional ele ficava bem à vista, com o menu de funções impresso ao
lado do quadro de instrumentos, em alguns modelos ele alterna a
visualização com o relógio digital ou mesmo com o hodômetro, ficando um
tanto camuflado.
Resultado: após algumas semanas com seu Polo Comfortline, um amigo ainda
não sabia que o carro possuía o equipamento, embora se lembrasse de
tê-lo visto na relação de itens de série da versão. Só ao consultar o
manual soube que, ao comandar um botão na extremidade da alavanca do
limpador de pára-brisa, o computador alternava suas funções com o
mostrador do relógio.
Até aqui falamos de itens supérfluos e de conveniência. A coisa
realmente se complica quando a informação refere-se a itens de segurança
e recomendações de manutenção. Quantos motoristas sabem que devem manter
a pressão no pedal, em uma freada de emergência, quando o sistema
antitravamento (ABS) o faz trepidar?
Sem falar nas tarefas corriqueiras, como a verificação da pressão dos
pneus e a troca de óleo lubrificante. Não ler o manual e confiar no
"conselho do frentista" — que não sabe, nem poderia saber, essas
especificações de todos os automóveis — é o caminho para cometer erros
que podem custar caro.
Tudo isso ocorre com carros comuns, relativamente acessíveis, e com
pessoas que têm certo interesse nessa máquina fantástica que é o
automóvel. É de se imaginar o que acontece, portanto, com motoristas
desinteressados em veículos que se deparam com carros sofisticados e
cheios de recursos de difícil compreensão.
Só mesmo lendo o manual.
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