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Câmbio curto ou longo:
escolha sua torcida

Edição no. 106 - 8 de setembro de 2001

Entre os elementos de um automóvel mais comumente modificados na "regionalização", processo de adaptá-lo às condições de uso e preferências do consumidor de determinado país, que foi tema de nosso editorial anterior, a alteração das relações de transmissão é dos mais freqüentes.

Costuma-se afirmar que os brasileiros "gostam de arrancada", de agilidade, portanto de relações mais curtas, enquanto os europeus são claramente a favor de marchas mais longas, que impõem ao motor menos rotações para a mesma velocidade. Será verdade?

Dentro da equipe BCWS há pelo menos dois -- eu e Bob Sharp -- adeptos da transmissão longa, de preferência calculada para atingir a velocidade máxima em penúltima marcha. À última (quase sempre a quinta) caberia apenas manter o ritmo de viagem, com baixas rotações, consumo e nível de ruído mais reduzidos, conforto, durabilidade.

Dentro desta ótica, alguns modelos tornam-se muito agradáveis de dirigir, como o Ford Focus, tanto 1,8 quanto 2,0, ou o Mercedes A160 ano-modelo 2000. Com transmissão adequada ao gosto europeu, não passam de 3.000 rpm para se manter a 120 km/h, por exemplo. No entanto, são muitos os casos em que o fabricante acaba por encurtar a transmissão, antes ou depois do lançamento -- como ocorreu com o próprio A160 no modelo 2001.

Caso emblemático é o do Golf de 2,0 litros. Avaliei há alguns meses o Bora, seu "irmão" de três volumes importado do México. Lembro-me claramente de ter conversado com Bob, no primeiro dia com o automóvel: "As relações de marcha são muito curtas, há rotações sobrando nesse carro. Com certeza em seu país de origem, a Alemanha, o motorista não suporta tantas rotações". Aquele foi, para mim, um dos pontos críticos do carro -- um belo produto, por sinal.

Sobre transmissão curta, o piloto de carretera gaúcho Orlando Menegaz disse certa vez ao Bob, comentando determinada corrida, que "O carro estava tão curto que o motor parecia correr mais do que o carro". Uma descrição perfeita.

Voltando ao caso VW, não é que, pouco depois, a Volkswagen anuncia que o Golf 2,0 passa, no modelo 2002, a contar com as mesmas relações de marcha mais curtas do Bora?

A justificativa mais comum de quem critica o câmbio longo é a necessidade de reduzir uma marcha, ou mesmo duas, para retomadas de velocidade, subidas ou ultrapassagens em pista de mão dupla. Nada mais natural: se o motor trabalha em menor rotação em quinta, é claro que se precisará usar a quarta ou a terceira para ganhar potência.

Por outro lado, certos carros de câmbio longo podem ser dirigidos indefinidamente em quarta marcha na estrada -- o resultado será próximo ao do câmbio mais curto, só que com uma quinta "de reserva".

O Bob conta que, voltando de Córdoba, na Argentina, onde a equipe VW competiu num rali e venceu, fez a viagem até São Paulo no Santana da fábrica sem usar quinta uma única vez, pois tinha pressa -- foram 1.800 quilômetros de viagem. O Santana CD 1987 estava com câmbio "4+E", mandado colocar, pois desde o ano anterior já era produzido com câmbio curto.

Transmissões com marchas mais longas normalmente as têm mais espaçadas entre si, o que gera um ef