Preston Tucker, já em uma
apresentação do carro, e seu veículo militar: o desempenho assustou o
governo, mas a torre de tiro foi aproveitada
O desenho inicial previa um
carro bem mais avançado e digno do nome Torpedo; o anúncio fala em "o
mais comentado carro do mundo hoje" |
A
história automobilística mundial está recheada de casos obscuros onde as
teorias conspiratórias ganham forma. Mas talvez nenhuma seja tão latente
quanto a que enterrou um dos projetos mais interessantes dos Estados
Unidos: o Tucker Torpedo. Se o "sonho americano", como era chamado,
naufragou por conta de pessoas contrárias à sua realização ou pela
própria inviabilidade da ideia, é pouco provável que saibamos a
resposta. O fato é que o Tucker era uma afronta às três grandes
norte-americanas — Chevrolet, Ford e Chrysler — por possuir qualidades e
conceitos à frente de seu tempo.
Preston Thomas Tucker nasceu em 21 de setembro de 1903 na cidade de
Capac, estado de Michigan. Seu primeiro emprego já lhe dava contato com
o mundo automotivo, pois era contínuo na sede da Cadillac Motor Company.
Pouco depois mudou de ramo, trabalhando na polícia de Detroit, mas
depois de casado se tornou vendedor em uma concessionária de Memphis,
Tenessee, a Mitchel Dulian. Mais tarde passou a diretor comercial da
Pierce-Arrow e dono de uma concessionária Packard em Indianápolis. Em
1940 fundou em Ypsilanti, Michigan, a Tucker Aviation Corporation, que
fabricava tanques e canhões. Durante a Segunda Guerra Mundial, projetou
um carro de combate estreito e muito rápido, capaz de 185 km/h, para o
governo do país. O veículo não foi aprovado por ser veloz demais... mas
a cúpula de tiro que ele trazia sobre o teto foi usada em barcos e
aviões bombardeiros.
Foi após o fim do conflito que seus projetos começaram a ganhar forma.
Conta a história que, após a guerra, o presidente Franklin Roosevelt
proibiu que as grandes marcas comprassem as fábricas de armamentos
bélicos para impedir reserva de mercado. Nesse ínterim Tucker desejava
uma instalação oriunda da guerra para abrigar sua fábrica. Conseguiu a
locação de uma ex-unidade da Dodge, usada para fabricar motores de avião
durante o conflito. Com um local para construir seu sonho, o moderno
sedã — anunciado como "o carro do amanhã" — começava a nascer.
O projeto privilegiava a segurança e a eficiência, algo que não merecia
atenção nos outros carros da época. Deveria ser rápido, econômico e
seguro para seus ocupantes e os pedestres. A construção também era
diferente de tudo o que existia no mercado, já que o projeto original
previa teto de vidro, carroceria de plástico ou alumínio e o posto do
motorista no centro entre dois passageiros, solução ideal quanto à
distribuição de peso. O motor de seis cilindros seria arrefecido a ar,
haveria discos para os freios e os instrumentos ficariam todos atrás do
volante. Tudo isso por um valor acessível para o norte-americano da
época.
O famoso desenhista Alex Tremulis — autor dos ousados
Cords 810 e 812, de um roadster
sobre chassi Duesenberg e do conceito
Chrysler Thunderbolt, entre
outros — teve apenas seis dias para criar o desenho básico do Tucker, em
dezembro de 1946. Em março do ano seguinte Preston contratara o estúdio
nova-iorquino de J. Gordon Lippincott para um segundo modelo. Desta
versão saíram a frente e a traseira, unidas ao desenho de Tremulis. O
protótipo foi apelidado de Tin Goose, "ganso de lata". Em 19 de junho de
1947 o Tucker 48, como era chamado em referência ao ano-modelo, era
apresentado com toda pompa e circunstância. Milhares de pessoas se
reuniram na grande fábrica e no auditório principal para conhecer o
carro que prometia mudar a história da indústria. Contudo, a suspensão
impediu o veículo de se movimentar. Engenheiros se acotovelaram às
pressas para consertá-lo e, duas horas depois, Tucker subia as cortinas.
Continua
|