A versão FIA do Cobra 289, preparada para correr, tinha para-lamas mais largos para abrigar pneus maiores (na foto um modelo 2003 da AC em alumínio polido)

A versão para rua também evoluía: além do motor de 4,75 litros e 275 cv, trazia novos freios, pneus, direção e diferencial autobloqueante

Adotado para competições, o motor de 7,0 litros e 425 cv chegou às ruas no Cobra 427 S/C depois que a FIA impediu sua entrada na pista

Mais motor   Em 1963 entrava em produção o Shelby Cobra 289, sem a sigla AC da empresa inglesa. Nessa primeira fase foram construídos 75 exemplares. O número designava o motor V8 de 289 pol³ ou 4,75 litros com alta taxa de compressão (11:1), 275 cv e 43,1 m.kgf. A lubrificação era feita por cárter seco. Sua velocidade final era de 230 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h exigia apenas 5,5 segundos. Era um dos carros mais rápidos da América, em pé de igualdade com os melhores europeus. Passava a ser equipado com diferencial autobloqueante Salisbury e freios Girling com pistões duplos e duplo circuito. Os pneus agora eram Dunlop SP Sport, em medida 165 HR 15, montados em belas rodas raiadas com fixação por cubo rápido. Importante mudança para melhor dirigibilidade era a direção por pinhão e cremalheira.

As linhas da versão de rua misturavam intimidação e sensualidade. Destaques eram o escapamento lateral e o bocal do tanque sobre a tampa do porta-malas. Na frente, junto à grade oblonga e cromada, havia uma peça tubular com mesmo desenho e garras fazendo o papel de para-choque. Atrás vinha um discreto para-choque cromado. Faziam ainda parte o para-brisa numa só peça e um retrovisor cônico, moda em esportivos da época. Realmente era um carro bonito. Por dentro exibia um painel completo com sete mostradores: velocímetro e conta-giros ao centro, marcadores de temperatura de água e óleo, amperímetro, nível de combustível e pressão do óleo ao centro. Os bancos confortáveis, mas sem regulagem de encosto, eram baseados no desenho dos de corrida. O volante tinha aro de madeira e três raios metálicos e a alavanca de marchas estava bem à mão. Não havia capota rígida ou de lona nem como opcional.

O carro já era produzido na Highway West Imperial, nos arredores da capital californiana. A carroceria estava apoiada sobre um chassi tubular com longarinas longitudinais, forte e rígido, que podia suportar mais potência. A distribuição de peso entre os eixos era ótima, 50% na frente e 50% atrás, mas apesar do equilíbrio seu comportamento era delicado. Havia muita força e por isso era fundamental estar em boas mãos, com experiência para controlar as bruscas saídas de traseira. Continua

Nas pistas
O Cobra não teve vida fácil em competições, pois enfrentou vários concorrentes de peso nos Estados Unidos e depois na Europa. Carroll tinha como um dos objetivos a 24 Horas de Le Mans, que ele já havia vencido em dupla com o inglês Roy Salvadori num Aston Martin DBR 1/2, mas não queria correr com seus carros lá antes de uma boa preparação. Enfrentou os Ferraris 250 GTO e 275 LM, os norte-americanos Chevrolet Corvette Stingray e Cheetah, o alemão Porsche 904 e o inglês Jaguar E-type entre os mais poderosos.

Sua estreia se deu nas mãos do piloto Bill Krause na Três Horas de Riverside, quintal de Carroll. O carro não terminou a corrida, mas demonstrou um desempenho surpreendente, chegando a ficar na frente por várias voltas. Ainda em 1962 disputou o Los Angeles Time Grand Prix, o Bahamas Speed Week e o Nassau Tourist Trophy. Mostrou muita potência, mas chassi e direção ainda precisavam ser ajustados. Mudanças foram feitas na suspensão e nos eixos e o carro ficou mais seguro e bem mais rápido. O motor 289 recebia quatro carburadores Weber e modificações na refrigeração e os freios eram especiais.

Em fevereiro de 1963, Ken Miles e Dave MacDonald chegavam em primeiro lugar em Riverside. O texano ficou muito feliz vendo os Corvettes chegando depois de sua criação. Poucos dias depois, três carros foram inscritos na prova Daytona Continental na Flórida, mas apenas um terminou, em quarto lugar, nas mãos de MacDonald. Em março acontecia a 12 Horas de Sebring (foto acima), prova que contava para o Campeonato Mundial de Endurance. Além de Miles e MacDonald, a equipe contava com Phil Hill (campeão de Fórmula 1 em 1961) e Dan Gurney, que correra na F-1 e na Nascar norte-americana.

Os Ferraris novamente ganharam, pois contavam com seis carros muito bem preparados, mas o Cobra fez a volta mais rápida da categoria GT e chegou em sexto lugar geral. Ainda não estava no ponto para provas de longa duração. Vários componentes como bomba de óleo e gasolina, radiadores de óleo e sistema de arranque foram mais desenvolvidos. Os primeiros 125 exemplares ficaram prontos em junho de 1963, graças também à ajuda da AC e de um concessionário londrino do amigo Ed Hugues. Alguns recebiam uma capota rígida que melhorava muito a aerodinâmica. Atrás tinha alargadores nos para-lamas para acolher bem os pneus de competição muito largos — 7,15-15 na frente e 9,50-15 atrás.

Algumas provas eram disputadas nos EUA, em Laguna Seca, Riverside e outros circuitos importantes, e o Cobra vencia várias em sua categoria. Em setembro Dan Gurney e Bob Johnson eram consagrados ao vencer a 500 Quilômetros de Bridgehampton, no estado de Nova York. A vitória foi coroada, pois Gurney foi o primeiro piloto norte-americano a vencer uma corrida oficial da FIA com um carro fabricado no país. Em dezembro do mesmo ano o Cobra vencia o prestigiado USRRC (United States Road Racing Championship, campeonato de corrida de rua dos EUA) e o campeonato nacional de carros de produção do SCCA (Sports Car Club of America), à frente do concorrente maior da General Motors, o Corvette.

Em 1964 parceiros importantes se juntavam: John Willment, Alan Mann e John Wyer, que deixava a Aston Martin por acreditar nos carros do amigo Carroll. Era uma força-tarefa para conquistar Le Mans, Goodwood (Inglaterra), Monza (Itália) e Nürburgring (Alemanha). Fato interessante era que um dos carros inscritos pela AC, o pilotado por Peter Bolton e Ninian Sanderson, tinha como chefe de equipe o renomado piloto inglês Stirling Moss, que já havia encostado o capacete, macacão e luvas.

Todos os modelos, fossem de série para as ruas ou para as pistas, eram identificados pela sigla CSX e o número de chassi. Em março de 1964, no circuito de Sebring, na Flórida, o modelo CSX2166 com motor 427 (acima), estreante na categoria Protótipo, vencia pela primeira vez o lendário Ferrari GTO. O Cobra foi para a Itália numa prova famosa que parecia ser feita para ele. Não ganhou, mas não fez feio: chegou em terceiro na Targa Florio atrás do Porsche 904 e do Ferrari. Em junho de 1964, no famoso e venerado circuito de Sarthe, onde se realiza a 24 Horas de Le Mans, o Cobra chegava em quarto lugar geral e vencia na categoria GT, derrotando pela primeira vez a Ferrari numa prova tão famosa e da FIA.

O projeto do cupê Cobra aerodinâmico (abaixo), também chamado de Daytona, foi iniciado com o objetivo de alcançar mais de 200 milhas por hora (322 km/h) na famosa reta Hunaudières, com quase seis quilômetros de extensão, do autódromo onde Le Mans é disputada. Os 250 km/h já tinham sido vencidos pelos carros de produção normal, mas não eram suficientes para as grandes retas da prova francesa, da 12 Horas de Reims (também na França) ou de Spa-Francorchamps, na Bélgica. O novo cupê tinha linhas muito avançadas, com traços de Pete Brock e Ken Olshein, recém-contratados pela empresa.

Os belos carros azuis, que contornaram o regulamento ao aplicar nova carroceria ao chassi do roadster 289, não terminaram o ano muito bem, com acidentes e problemas mecânicos. Mas começaram melhor em fevereiro de 1965, nas mãos de Jo Schesser e Harold Keck na categoria GT. Em Daytona o Cobra venceu e, na Europa, a equipe ganhava várias corridas importantes como em Monza e em Oulton Park, na Inglaterra. Era campeã mundial, mas a ajuda dos roadsters foi fundamental na conquista do título — e também a retirada de Enzo Ferrari, sob alegação de que seu 250 LM não havia sido homologado para a classe GT.

Em novembro de 1965 o Cobra 427 recebia a certificação da FIA para disputar o campeonato de 1966, mas Henry Ford II deu prioridade completa ao GT40, muito mais moderno, potente e afinado para concorrer com os potentes Ferraris e Porsches na Europa. Isso não impediu que Shelby ficasse emocionado, contente e orgulhoso de ter cumprido seu papel e ajudado de forma substancial a Ford nas competições dos anos 60. Tanto na atuação do Cobra e no projeto do GT40 quanto nos Mustangs GT 350 e GT 500, a assinatura de Carroll foi muito valiosa para a empresa de Dearborn.

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