O Cobra não teve vida fácil em competições, pois enfrentou
vários concorrentes de peso nos Estados Unidos e depois na
Europa. Carroll tinha como um dos objetivos a 24 Horas de Le
Mans, que ele já havia vencido em dupla com o inglês Roy
Salvadori num Aston Martin DBR 1/2, mas não queria correr com
seus carros lá antes de uma boa preparação. Enfrentou os
Ferraris 250 GTO e 275 LM,
os norte-americanos Chevrolet Corvette Stingray e Cheetah, o
alemão Porsche 904 e o inglês
Jaguar E-type entre os
mais poderosos.
Sua estreia se deu nas mãos do piloto Bill Krause na Três Horas
de Riverside, quintal de Carroll. O carro não terminou a
corrida, mas demonstrou um desempenho surpreendente, chegando a
ficar na frente por várias voltas. Ainda em 1962 disputou o Los
Angeles Time Grand Prix, o Bahamas Speed Week e o Nassau Tourist
Trophy. Mostrou muita potência, mas chassi e direção ainda
precisavam ser ajustados. Mudanças foram feitas na suspensão e
nos eixos e o carro ficou mais seguro e bem mais rápido. O motor
289 recebia quatro carburadores Weber e modificações na
refrigeração e os freios eram especiais.

Em fevereiro de 1963,
Ken Miles e Dave MacDonald chegavam em primeiro lugar em
Riverside. O texano ficou muito feliz vendo os Corvettes
chegando depois de sua criação. Poucos dias depois, três carros
foram inscritos na prova Daytona Continental na Flórida, mas
apenas um terminou, em quarto lugar, nas mãos de MacDonald. Em
março acontecia a 12 Horas de Sebring (foto acima), prova que
contava para o Campeonato Mundial de Endurance. Além de Miles e
MacDonald, a equipe contava com Phil Hill (campeão de Fórmula 1
em 1961) e Dan Gurney, que correra na F-1 e na Nascar
norte-americana.
Os Ferraris novamente ganharam, pois contavam com seis carros
muito bem preparados, mas o Cobra fez a volta mais rápida da
categoria GT e chegou em sexto lugar geral. Ainda não estava no
ponto para provas de longa duração. Vários componentes como
bomba de óleo e gasolina, radiadores de óleo e sistema de
arranque foram mais desenvolvidos. Os primeiros 125 exemplares
ficaram prontos em junho de 1963, graças também à ajuda da AC e
de um concessionário londrino do amigo Ed Hugues. Alguns
recebiam uma capota rígida que melhorava muito a aerodinâmica.
Atrás tinha alargadores nos para-lamas para acolher bem os pneus
de competição muito largos — 7,15-15 na frente e 9,50-15 atrás.
Algumas provas eram disputadas nos EUA, em Laguna Seca,
Riverside e outros circuitos importantes, e o Cobra vencia
várias em sua categoria. Em setembro Dan Gurney e Bob Johnson
eram consagrados ao vencer a 500 Quilômetros de Bridgehampton,
no estado de Nova York. A vitória foi coroada, pois Gurney foi o
primeiro piloto norte-americano a vencer uma corrida oficial da
FIA com um carro fabricado no país. Em dezembro do mesmo ano o
Cobra vencia o prestigiado USRRC (United States Road Racing
Championship, campeonato de corrida de rua dos EUA) e o
campeonato nacional de carros de produção do SCCA (Sports Car
Club of America), à frente do concorrente maior da General
Motors, o Corvette.
Em 1964 parceiros importantes se juntavam: John Willment, Alan
Mann e John Wyer, que deixava a Aston Martin por acreditar nos
carros do amigo Carroll. Era uma força-tarefa para conquistar Le
Mans, Goodwood (Inglaterra), Monza (Itália) e Nürburgring
(Alemanha). Fato interessante era que um dos carros inscritos
pela AC, o pilotado por Peter Bolton e Ninian Sanderson, tinha
como chefe de equipe o renomado piloto inglês Stirling Moss, que
já havia encostado o capacete, macacão e luvas. |

Todos os modelos, fossem de
série para as ruas ou para as pistas, eram identificados pela
sigla CSX e o número de chassi. Em março de 1964, no circuito de
Sebring, na Flórida, o modelo CSX2166 com motor 427 (acima),
estreante na categoria Protótipo, vencia pela primeira vez o
lendário Ferrari GTO. O Cobra foi para a Itália numa prova
famosa que parecia ser feita para ele. Não ganhou, mas não fez
feio: chegou em terceiro na Targa Florio atrás do Porsche 904 e
do Ferrari. Em junho de 1964, no famoso e venerado circuito de
Sarthe, onde se realiza a 24 Horas de Le Mans, o Cobra chegava
em quarto lugar geral e vencia na categoria GT, derrotando pela
primeira vez a Ferrari numa prova tão famosa e da FIA.
O projeto do cupê Cobra aerodinâmico (abaixo), também chamado de
Daytona, foi iniciado com o objetivo de alcançar mais de 200
milhas por hora (322 km/h) na famosa reta Hunaudières, com quase
seis quilômetros de extensão, do autódromo onde Le Mans é
disputada. Os 250 km/h já tinham sido vencidos pelos carros de
produção normal, mas não eram suficientes para as grandes retas
da prova francesa, da 12 Horas de Reims (também na França) ou de
Spa-Francorchamps, na Bélgica. O novo cupê tinha linhas muito
avançadas, com traços de Pete Brock e Ken Olshein,
recém-contratados pela empresa.

Os belos carros azuis,
que contornaram o regulamento ao aplicar nova carroceria ao
chassi do roadster 289, não terminaram o ano muito bem, com
acidentes e problemas mecânicos. Mas começaram melhor em
fevereiro de 1965, nas mãos de Jo Schesser e Harold Keck na
categoria GT. Em Daytona o Cobra venceu e, na Europa, a equipe
ganhava várias corridas importantes como em Monza e em Oulton
Park, na Inglaterra. Era campeã mundial, mas a ajuda dos
roadsters foi fundamental na conquista do título — e também a
retirada de Enzo Ferrari, sob alegação de que seu 250 LM não
havia sido homologado para a classe GT.
Em novembro de 1965 o Cobra 427 recebia a certificação da FIA
para disputar o campeonato de 1966, mas Henry Ford II deu
prioridade completa ao GT40,
muito mais moderno, potente e afinado para concorrer com os
potentes Ferraris e Porsches na Europa. Isso não impediu que
Shelby ficasse emocionado, contente e orgulhoso de ter cumprido
seu papel e ajudado de forma substancial a Ford nas competições
dos anos 60. Tanto na atuação do Cobra e no projeto do GT40
quanto nos Mustangs GT 350 e
GT 500, a assinatura de Carroll foi muito valiosa para a
empresa de Dearborn. |