

Na Europa, onde a marca
VW-Porsche era mantida, o 914 de 2,0 litros com injeção tinha mais
potência (100 cv) e fazia de 0 a 100 em 10,5 s


A edição que comemorava 100 mil
unidades trazia defletor, novas rodas e cores chamativas nas versões
Bumblebee (em cima) e Creamsicle

Com motor de seis cilindros, 2,4
litros e 190 cv, o 916 pretendia ser um competidor para o Ferrari Dino,
mas ficou restrito a meras 11 unidades |
Do
outro lado do Atlântico o 914 levava o troféu de Carro Importado do Ano
da revista Motor Trend. Mais uma vez pela Road & Track, o
914/6 cravou 8,7 s para ir de 0 a 96 km/h. Contudo, pelo preço a revista
indicava gastar um pouco mais e optar pelo 911. "Pague os US$ 431 extras
pelo 911T de quatro marchas com sua carroceria maior, melhor acabamento,
anos extras de desenvolvimento, desempenho ligeiramente maior e dois
bancos a mais." Já para quem insistisse em um teto do tipo targa havia a
opção do 911T Targa por mais US$ 675. "O que sempre desejamos era um
verdadeiro Porsche mais perto de US$ 5.000, mas isso era pedir muito",
completava.
Pequenas
evoluções
O pacote opcional M471
era lançado em 1971 para a versão de seis cilindros. Incluía novo
desenho frontal com para-choque mais próximo do solo, saias laterais de
material plástico e rodas Fuchs de 6 x 15 pol, tudo para obter aparência
próxima à do 914/6 GT de competição (leia
boxe). Entre esse ano e o seguinte a empresa construía apenas 11
unidades do 916, assim chamado por receber um motor de seis cilindros,
2,4 litros e 190 cv emprestado pelo 911 — o 2,7 do Carrera também fora
cogitado. Apresentado no Salão de Paris de 1971, sua velocidade máxima
ficava em 230 km/h e a carroceria era modificada com para-lamas
alargados para abrigar pneus 185/70 R 15. Construído com base nas
especificações do mercado norte-americano, o 916 recebia teto fixo em
aço, discos ventilados para os freios das quatro rodas, câmbio todo novo
e ar-condicionado. Seria um Porsche nervoso, como a fábrica pretendia
com o fim de concorrer com o Ferrari
Dino, mas o projeto foi cancelado e não houve produção em série.
O motor de 1,7 litro era "estrangulado" nos EUA em 1973 para atender às
normas severas de emissões da Califórnia, ficando com 69 cv. Por isso um
novo 2,0-litros de quatro cilindros e origem VW, derivado do 1,7 do 914
mais simples, era lançado como opcional. Com 95 cv e 14,5 m.kgf (EUA) ou
100 cv e 16 m.kgf (Europa), estava inserido entre o básico e o
seis-cilindros e oferecia rodas de alumínio e console central com
relógio, voltímetro e termômetro do óleo. O novo quatro-cilindros
oferecia um desempenho mais compatível com a proposta do carro, igualado
ao do Triumph TR6: máxima de 190 km/h e 0-100 em 10,5 s na versão
europeia. Na suspensão, estabilizadores controlavam a rolagem em curvas.
A versão recebeu a identificação 2.0, ficando a outra como 914 1.7.
Ambas ofereciam na época dois pacotes de opcionais. O Appearance, ou
aparência, incluía volante esportivo, console com instrumentos e
cobertura de vinil na barra de proteção; o Performance, ou desempenho,
vinha com rodas de alumínio forjado, estabilizadores nas suspensões e
faróis com lâmpadas de halogênio.
O modelo para o mercado norte-americano recebia em 1974 para-choques
mais robustos, aptos a suportar pequenas batidas sem danos, com base em
uma nova lei federal. Já o motor de entrada agora era de 1,8 litro,
oriundo do VW 412 S. Retrabalhado nas câmaras de combustão, entre outras
modificações, o propulsor com dois carburadores entregava 85 cv na
versão europeia — a norte-americana, que trazia injeção, ficava em 76 cv
por causa das novas normas de emissões. Também nos EUA uma série
especial, a Limited Edition, trazia 1.000 exemplares diferenciados em
comemoração às 100 mil unidades produzidas. Com motor VW de 2,0 litros,
o carro recebia interior todo preto, rodas de alumínio e defletor
dianteiro Can Am, oferecido como acessório para qualquer versão nas
concessionárias. O padrão de cores Bumblebee consistia em um carro preto
com detalhes amarelos em várias partes da carroceria, como as faixas
laterais com o nome Porsche em grandes letras vazadas, e também nas
rodas. Já o esquema Creamsicle era branco e tinha os mesmos itens em um
vermelho alaranjado.
Depois de 118.978 unidades produzidas, sendo pouco mais de 3 mil com o
motor de seis cilindros, o Porsche 914 abria caminho nas linhas de
montagem para seu sucessor, o 924
de motor dianteiro — mais moderno, mas não menos polêmico. Se o acordo
de cavalheiros entre VW e Porsche fosse levado ao fim conforme
imaginado, talvez o modelo tivesse tido mais sucesso nas vendas. Ou não?
Como diria o engenheiro e editor Karl Ludvigsen, um dos maiores
conhecedores da marca de Stuttgart, o VW-Porsche nunca teve imagem ou
tradição: "Ao mesmo tempo em que era um VW e um Porsche, ele não era um
VW nem um Porsche". Mas o fato é que o 914 entra para a história como um
dos Porsches mais diferentes já criados. Que o digam seus fiéis
admiradores.
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