Suntuosidade germânica

Fundada pelo criador do Mercedes, a Maybach produziu
carros luxuosos e avançados nas décadas de 1920 e 1930

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Quando a DaimlerChrysler recolocou no mercado a marca Maybach, em 2002, não estava apenas lançando um concorrente à altura para a Rolls-Royce, hoje nas mãos da arqui-rival BMW: renascia ali um fabricante que, fundado pelo criador do primeiro Mercedes, representou um dos supra-sumos em automóveis nas décadas de 1920 e 1930.

O alemão Wilhelm Maybach (1846-1929), nascido em Heilbronn, mudou-se para Stuttgart e tornou-se órfão aos 10 anos. Aos cuidados de uma organização de caridade, estudou e aos 19 conheceu Gottlieb Daimler, de quem se fez quase um afilhado, até que Daimler morresse em 1900. Juntos trabalharam na fábrica de motores Deutz e, mais tarde, em um projeto conjunto de motor para carruagens. Em 1889 apresentavam um automóvel com motor de dois cilindros em "V". No ano seguinte, Gottlieb fundava com outros sócios a Daimler Motoren Gesellschaft ou DMG (Companhia de Motores Daimler). Maybach, nomeado engenheiro chefe mas excluído da diretoria, não ficou satisfeito e logo deixou a empresa, à qual voltaria cinco anos depois.

A fábrica da Maybach e um dirigível Zeppelin motorizado por ela: após a Primeira Guerra Mundial a empresa teve de abandonar os motores aeronáuticos, o que a incentivou a pensar em automóveis

Em 1900, um mês depois da morte de Daimler por problemas cardíacos, Emil Jellinek — representante Daimler em Nice, na França — pediu a Maybach e ao filho de Gottlieb, Paul, para desenhar um carro de alto desempenho para ser vendido aos ricaços da Riviera francesa. Como a empresa local Panhard detinha os direitos sobre o nome Daimler na França, Jellinek sugeriu que usassem no carro o nome de sua filha, Mercedes. Com motor de quatro cilindros em linha e 5,9 litros, o Mercedes 35 hp desenvolvia a potência de 35 cv a 950 rpm e atingia 75 km/h.

É pena que Maybach não tenha desfrutado o prestígio que o nome Mercedes conquistaria, pois adoeceu em 1903 e, após longa recuperação, deixou a empresa quatro anos mais tarde. Passou então a projetar motores aeronáuticos, de início em parceria com a Zeppelin. Em 1909 abriu em sociedade com essa empresa e com seu filho Karl (1879-1960) a Luftfahrzeug Motorenbau GmbH (Companhia de Motores de Avião Ltda.), depois renomeada Motorenbau Friedrichshafen. Em 1918, pai e filho assumiam o controle acionário da empresa e mudavam seu nome para Maybach Motorenbau GmbH. Mas, com a proibição de se construir aviões na Alemanha pelo Tratado de Versalhes, após a Primeira Guerra Mundial, a companhia teve de buscar alternativas.

O W3 (à esquerda), primeiro carro da Maybach, e o W5, ambos com motor de seis cilindros
em linha: começava a se estabelecer uma tradição de requinte e técnica apurada

Enquanto equipava navios e locomotivas, a Maybach começou a projetar automóveis. Em 1919 ficava pronto o W1 (Wagen, ou carro em alemão, número 1), o primeiro protótipo, baseado em um chassi Mercedes. Um acordo fracassado com a Trompenburg, que fabricava na Holanda o Spyker, deu o empurrão que faltava: a Maybach produziu 1.000 motores de seis cilindros em linha, 5.738 cm³ e 70 cv — o projeto W2 — para fornecer à empresa holandesa, que acabou não comprando nenhum. Os alemães, assim, resolveram usá-los em carros de sua própria fabricação para não ficar no prejuízo.

Karl então apresentou no Salão de Berlim de 1921 o Maybach W3. O modo de trabalho aprendido com o pai estava visível na técnica primorosa adotada no carro, destinado aos mais exigentes e abastados clientes — a começar pelas dimensões generosas, cerca de cinco metros de comprimento e 3,66 m de distância entre eixos. Como em outros modelos de luxo da época, a carroceria de cada unidade era construída especialmente conforme a preferência do comprador.
Continua

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Data de publicação: 29/9/07

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