Guy Zaninovich, restaurador especializado em Modelo T, dirige uma das quatro unidades construídas em 2003  para o evento do centenário da Ford

Tudor, de duas portas, e Fordor, com quatro, versões lançadas em 1923

O Roadster Pickup de 1925, primeiro Modelo T com caçamba de aço instalada na fábrica, inaugurou a longeva história dos picapes da Ford

Fazia anos que a concorrência vinha tentando imitar o sucesso do Modelo T. Essa reação ganhava força conforme o Ford envelhecia, sem acompanhar a evolução tecnológica, sendo até motivo de piada por conta disso. Os pára-lamas dianteiros, as saídas de ar laterais do capô em maior número e uma revisão do chassi foram tentativas de remediar a queda nas vendas. O preço do Runabout era reduzido ao nível mais baixo da história do T, 260 dólares, e ele podia vir de fábrica com caçamba de aço. Ou seja, começava ali a longa história dos picapes Ford.

Uma importante novidade marcou a linha 1926: a volta das cores, ainda que mantendo os pára-lamas pretos. Os Modelos T fechados também vinham com grade banhada em cromo; a partida elétrica já era item de série também nas versões abertas. No âmbito da produção, a semana de trabalho da companhia passava a ser de cinco dias. A Ford começava a falar sobre a intenção de tirar seu famoso e longevo produto de linha, embora negando que ele logo seria substituído. Desde aquela época não se podia dar muita confiança a declarações de um fabricante sobre o futuro de seus carros...

Se em 1924 a Ford tinha dois terços do mercado, em 1926 a participação já era de um terço. Edsel Ford tinha razão. Filho único de Henry e presidente da Lincoln desde a aquisição da marca em 1922, ele defendia a atualização do Modelo T havia tempo, mas seu pai relutava. Os Chevrolets e Dodges tinham motores de 30 cv, interiores mais requintados, freios com comando hidráulico e pedais de embreagem e acelerador, como os carros de hoje. Aos olhos do público, o Modelo T só era atraente pelo preço, mas estava ultrapassado, rústico demais para os anos 20. Em 1927, Henry Ford finalmente concordou com seu filho.

No dia 26 de maio, uma cerimônia marcou o encerramento oficial da produção do carro mais vendido do mundo. Nada menos que 15.007.033 unidades do Modelo T haviam sido fabricadas. Mais 477.748 foram concluídas pelas fábricas da Ford no mundo todo — no total, 15.484.781 exemplares. As unidades fabris pararam de funcionar até que o substituto do T, o novo Modelo A, começasse a ser produzido em 22 de dezembro. Levaria quatro décadas até que o Volkswagen Sedan conseguisse suplantar essa marca de vendagem. Mas não foi ele que tornou o carro um bem de milhões.

É possível dizer qual é o melhor carro já feito? O Ford Modelo T certamente não era, longe disso. Mas ele ainda é o mais importante. Se continuar sua produção perdeu o sentido, a era do automóvel acessível fabricado em massa iniciada por ele só se expandiu, fortaleceu, continua até hoje e assim deve se manter. Nenhum carro transformou o mundo de forma tão radical quanto o Modelo T, a mais exata tradução sobre quatro rodas do mais revolucionário dos séculos. Nunca antes ter a obra-prima de um visionário foi tão fácil para milhões de pessoas.

No mundo do automóvel, há 100 anos e provavelmente para sempre, o Ford T é o carro modelo.

Modelo T 2003
Em 2003, como parte das comemorações do centenário da marca, a Ford produziu mais seis unidades do Modelo T 1914 Touring para se somar às mais de 15 milhões concluídas quando o modelo ainda estava em linha. Eles foram fabricados artesanalmente a quatro mãos por Bill Leland, engenheiro do grupo de projetos avançados da Ford, e Guy Zaninovich, restaurador independente especialista em Modelo T. A dupla começou com pouco mais que um exemplar Touring bem restaurado de 1914.

Chapas da carroceria, cabeçote, eixos, magneto, carburador, freios, lâmpadas, rodas e outros itens vieram de fornecedores que há décadas ajudam a manter como nova a frota remanescente do Fordinho. Como os desenhos originais do projeto já haviam se esfacelado muito tempo antes, um bloco de motor de época passou por digitalização tridimensional, numa base aérea no estado de Utah, para que novos moldes fossem criados. Uma dupla de suecos, Sture Lundin e Sven Hansson, cuidou de toda a estrutura de madeira sob as chapas de metal da carroceria.

Nem tudo foi fielmente seguido nos seis exemplares, caso da partida elétrica, recurso que o Modelo T só teve a partir de 1919. Em vez do ferro fundido original, usou-se alumínio nos pistões e aço inoxidável nas válvulas, materiais mais duráveis e eficientes. Estima-se que ainda haja 300 mil exemplares de época no mundo.

Sem a economia de escala dos tempos em que o modelo era fabricado, calcula-se que cada exemplar tenha custado cerca de 25 mil dólares, o equivalente a um Mustang zero-quilômetro. Quatro das réplicas foram doadas para o Henry Ford Museum, em Dearborn, Michigan.

Ficha técnica
Modelo T Runabout (1912)
MOTOR - longitudinal, 4 cilindros em linha; comando no bloco, 2 válvulas por cilindro. Diâmetro e curso: 95 x 101,5 mm. Cilindrada: 2.896 cm3. Taxa de compressão: ND. Potência máxima: 20,2 cv a 1.600 rpm. Torque máximo: 11,4 m.kgf a 900 rpm. Carburador de corpo simples.
CÂMBIO - manual, 2 marchas; tração traseira.
FREIOS - cintas no câmbio.
SUSPENSÃO - dianteira e traseira, eixo rígido.
RODAS - 30 pol; pneus dianteiros, 3 x 30 pol; traseiros, 3,5 x 30 pol.
DIMENSÕES - comprimento, 3,40 m; entreeixos, 2,54 m; peso, 540 kg.
DESEMPENHO - velocidade máxima, 72 km/h.
Dados do fabricante; ND = não disponível

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