
O DS, lançado em 1955,
surpreendeu o mundo pelo desenho aerodinâmico e a eficiência da
suspensão


O 2CV em versão Sahara 4x4
com dois motores, de 1961, e simulando o brinquedo inglês Meccano de
armar

O motor rotativo Wankel do
GS Birotor de 1974: com potência de 107 cv, o carro chegava a 175
km/h


Bob Sharp, do Best Cars, ao
volante do 2CV e o DS 21 que ele dirigiu: carros que fizeram muito
pela Citroën |
O
motor de dois cilindros horizontais opostos arrefecido a ar, de 602 cm³
e 29 cv, dá a conta do recado quando o objetivo é transporte pessoal
econômico, graças ao peso de apenas 585 kg. É capaz de alcançar 115 km/h
e chega a fazer quase 20 km/l. Sua suspensão é bem macia e o carro
inclina-se bastante nas curvas, mas nada que represente perigo. E todo o
teto de lona abre-se para trás, proporcionando o grande prazer de
dirigir a céu aberto.
Seu comando de câmbio, estranho por sair do painel, com a alavanca
movendo-se longitudinalmente e girada para a seleção dos canais (R,
1ª/2ª, 3ª/4ª), cumpre bem o papel e também foi usado no
Renault R4 em 1961. Mas o mais
interessante é o freio de estacionamento mecânico, que age sobre as
rodas dianteiras e com acionamento a pedal. Como a trava pode ser
desligada, o pedal passa a retornar, tornando-o um excelente freio de
emergência.
O sucesso do 2CV reflete-se em seus 42 anos de produção (1948 a 1990) e
mais de cinco milhões de unidades fabricadas, inclusive na Argentina. O
carro dirigido era um Charleston 1985, versão especial lançada em 1980
que no ano seguinte se tornaria de série.
O DS
Se o 2CV é a
essência do automóvel, o DS pode ser classificado como a quintessência.
Lançado no Salão de Paris de 1955, estava realmente 20 anos à frente de
tudo o que existia — mesmo que lhe faltasse um motor à altura, pois
de início era
o mesmo quatro-cilindros de 1,9 litro do 11 Traction Avant, com potência
aumentada de 56 para 75 cv. Ainda era pouco para os 1.215 kg de peso e
menos ainda para o que suas linhas sugeriam.
Mas bastava alguns quilômetros ao volante para se esquecer da pouca
potência, diziam as revistas especializadas da época. Foi exatamente o
que pudemos sentir numa breve volta dentro da fábrica de Aulnay com uma
versão 21, de 2,2 litros e 109 cv, já posterior à remodelação de 1967. Os 4,7 metros de comprimento, com a descomunal
distância entre eixos de 3,13 m, produziram um interior dos mais amplos,
com espaço de limusine para os passageiros traseiros.
Como no "11", os assoalhos dianteiro e traseiro são rigorosamente
planos. Os bancos individuais na frente e inteiriço atrás parecem mais
poltronas, de tão macios e confortáveis. Foi um carro que marcou época,
com vários pioneirismos como freio a disco em carro de série, duplo
circuito de freio e fixação central de roda em carro de produção. Foi
talvez a maior expressão da rica engenharia automobilística francesa.
Rodando, a suspensão hidropneumática, mesmo sem os controles eletrônicos
de hoje, proporciona uma qualidade de rodagem e comportamento
inigualáveis, até para os padrões atuais. O volante de um só raio, um
dos traços característicos do modelo, comanda as rodas a um ângulo tal
que o diâmetro mínimo de curva é de somente 11 metros, o mesmo do Fusca,
apesar das dimensões do carro e da tração dianteira.
Dirigi-lo, mesmo pouco, foi uma experiência inesquecível. Do pedal de
freio, que é um mero botão grande no assoalho, ao comando hidráulico do
câmbio, mais a embreagem automática, a impressão que se tem é que o DS é
futuro, não passado.
Uma coisa é certa: o Conservatoire Citroën não é mesmo lugar para se
passar algumas horas. Seriam necessários vários dias — muitos — para
mergulhar em tanta história.
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