Inovadores e aerodinâmicos: o Airflow ao lado do primeiro trem dentro do estilo streamline, o M-10000 da Union Pacific, também de 1934

"Compre o carro que continuará moderno por anos": o convincente argumento não levou muitos compradores a apostar nesse Chrysler

"Eu disse, 'Por que ser tão radical?', mas então entrei no carro": espaço bem aproveitado era outra vantagem do desenho lançado pelo Airflow

Quem conhece um pouco da história da Chrysler deve saber que esse princípio seria aplicado novamente em, pelo menos, duas ocasiões. Uma foi na estética Forward Look (algo como visual avançado) dos anos 50, do Chrysler 300 e do Plymouth Fury, entre outros; outra na Cab Forward (cabine avançada) dos 90, dos Chryslers Concorde e 300M, Dodge Intrepid e Eagle Vision. Essa configuração inovadora do Airflow levou seu motor 46 cm mais para frente e para cima do eixo, quando o usual era logo atrás. Isso liberou espaço para a cabine avançar rumo à dianteira, deixando o banco traseiro à frente do eixo de trás. As vantagens dessa solução iam bem além de aspectos visuais.
 
A distribuição de peso típica, mais concentrada atrás, foi invertida para 55% na dianteira. Somando-se à melhor estabilidade nas curvas pelo centro de gravidade mais próximo do solo, ao colocar os passageiros entre os eixos a arquitetura do Airflow permitiu que o banco traseiro pudesse ser fixado mais baixo no assoalho, aumentando o espaço para cabeça dos ocupantes. O que era a busca por uma nova estética e menor resistência ao ar em deslocamento acabou por trazer vantagens práticas ao Airflow. Evidentemente, o visual tinha uma importante função de vender inovação, o que para muitos pareceu — com razão — uma revolução. Se as linhas do Airflow tinham na aerodinâmica das aeronaves sua inspiração, em nada o modelo lembrava aviões, ainda que fosse fácil associar o perfil traseiro ao dos dirigíveis, tão em voga na época.
 
Era o estilo Art Déco — que proliferou na arquitetura e no desenho de mobília e utensílios domésticos, entre outras artes — que influenciou as partes mais específicas do carro, como dianteira e painel. O período entre guerras marcou nos Estados Unidos o auge dessa estética, que se caracterizava por linhas mais simples em contrapartida ao sinuoso e elaborado Art Nouveau. O Art Déco deixou de herança alguns dos mais famosos cartões postais do país. Entre eles estão os hotéis à beira-mar da Ocean Drive, em Miami Beach, Flórida, e os imponentes edifícios Empire State Building e Chrysler Building, de Nova York, este com para-choques de automóveis da marca nos arcos que formam seu ápice.
 
O primeiro protótipo do Airflow ficaria pronto do fim de 1932. Não só o projeto foi aprovado, como impressionou Walter P. Chrysler. Foi decidido que o modelo seria lançado no décimo aniversário da marca, em 1934. Havia rumores de que a General Motors preparava seu próprio carro aerodinâmico, o que fez a Chrysler apressar a etapa derradeira do desenvolvimento do projeto. O preço dessa decisão seria pago mais tarde. Ainda que não fosse um monobloco em si, o Airflow ganhou uma estrutura de gaiola em que era soldada a carroceria, um conjunto construído em aço mais forte que a combinação de carroceria sobre chassi usual na indústria, não raro com itens de madeira na estrutura do veículo. Outra decisão sobre o projeto é que ele seria vendido pelas divisões Chrysler e DeSoto. Dodge Airflow, só um caminhão (leia boxe).

Sob os holofotes de Nova York   Apresentado no Salão de Nova York em janeiro de 1934, o Airflow se sagrou um dos principais destaques. Enquanto a linha Chrysler era composta por ele e o tradicional Six, a linha De Soto se resumia ao ousado modelo aerodinâmico. O novo Chysler tinha faróis duplos na vertical, sendo os superiores maiores, enquanto o DeSoto Airflow trazia uma única lente ovalada e bem ressaltada. Continua

Walter P. Chrysler
Entre os executivos de Detroit, Walter Percy Chrysler foi uma das figuras mais conhecidas e carismáticas. É o nome dele que batiza o museu da Chrysler em Auburn Hills, Michigan. Mas, se desde que entrou no ramo automotivo sua influência era notada — ele foi o homem do ano da revista Time em janeiro de 1929 —, sua carreira começou nas ferrovias. Nascido em 1875 em Wamego, Kansas, filho de um imigrante alemão, Chrysler (na foto com um modelo que estudava as formas do Airflow) foi mecânico até alcançar a posição de gerente na American Locomotive Company. Em 1912 viria o convite de um executivo da General Motors para que ele chefiasse a produção na Buick.

Chrysler conseguiu reduzir custos sem abrir mão da qualidade, o que sempre é visto com bons olhos pela direção das empresas. Não foi exceção quando ele anunciou sua intenção de deixar a GM, cinco anos depois. William C. Durant, principal executivo da companhia na época, lhe ofereceu um polpudo salário e a direção geral da Buick. Mesmo aceitando, assim que venceu o contrato de três anos, Chrysler decidiu deixar a GM de vez por divergências de visão com Durant. Depois de passar pela Willys-Overland com outro astronômico salário para os padrões da época, o executivo adquiriu a Maxwell-Chalmers Corporation.
 
Em 1924 era lançado o primeiro carro da marca Chrysler, já desenvolvido por Carl Breer, Fred M. Zeder e Owen Skelton. Ele tinha freios com comando hidráulico nas quatro rodas e motor de alta taxa de compressão para a época. No ano seguinte, a Maxwell-Chalmers foi reorganizada como Chrysler Corporation. A divisão Maxwell desapareceria em 1926. Seguindo a filosofia da GM de dividir os carros produzidos em níveis de preço, dois anos mais tarde eram criadas as divisões Plymouth e De Soto. Ainda nesse ano a Dodge era adquirida pela nova companhia. Um marco dessa prosperidade latente dos anos 20 (que se esvairia com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929) foi o Chrysler Building daquele metrópole, inaugurado em 1930.

O Airflow foi o projeto mais visionário de Chrysler em seus anos no comando de sua empresa, mas já em 1936 ele passou a direção a outros executivos. Quatro anos depois, Walter P. Chrysler falecia. Seu legado até hoje merece manchetes de jornal. Faz décadas a Chrysler é um dos mais notórios símbolos do poderio da indústria norte-americana, com amplas implicações econômicas locais e globais. Há muito mais na Chrysler que a memória de seu criador.

Em escala
Em escala 1:32 são os Airflows 1936 da Motormint, de frotas como a do exército e a polícia, este com faróis de longo alcance na porta do motorista. Permitem abrir as quatro portas, o capô e o porta-malas.
A Signature Models fez um Airflow 1936 em escala 1:18, disponível em preto, prata, verde ou creme, e rico em detalhes. As quatro portas se abrem, assim como capô e o porta-malas com abertura externa.

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