
"Compre o carro que continuará
moderno por anos": o convincente argumento não levou muitos compradores
a apostar nesse Chrysler

"Eu disse, 'Por que ser tão
radical?', mas então entrei no carro": espaço bem aproveitado era outra
vantagem do desenho lançado pelo Airflow |
Quem
conhece um pouco da história da Chrysler deve saber que esse princípio
seria aplicado novamente em, pelo menos, duas ocasiões. Uma foi na
estética Forward Look (algo como visual avançado) dos anos 50, do
Chrysler 300 e do
Plymouth Fury, entre outros; outra na Cab
Forward (cabine avançada) dos 90, dos Chryslers Concorde e 300M, Dodge
Intrepid e Eagle Vision. Essa configuração inovadora do Airflow levou
seu motor 46 cm mais para frente e para cima do eixo, quando o usual era
logo atrás. Isso liberou espaço para a cabine avançar rumo à dianteira,
deixando o banco traseiro à frente do eixo de trás. As vantagens dessa
solução iam bem além de aspectos visuais.
A distribuição de peso típica, mais concentrada atrás, foi invertida
para 55% na dianteira. Somando-se à melhor estabilidade nas curvas pelo
centro de gravidade mais próximo do
solo, ao colocar os passageiros entre os eixos a arquitetura do Airflow
permitiu que o banco traseiro pudesse ser fixado mais baixo no assoalho,
aumentando o espaço para cabeça dos ocupantes. O que era a busca por uma
nova estética e menor resistência ao ar em deslocamento acabou por
trazer vantagens práticas ao Airflow. Evidentemente, o visual tinha uma
importante função de vender inovação, o que para muitos pareceu — com
razão — uma revolução. Se as linhas do Airflow tinham na aerodinâmica
das aeronaves sua inspiração, em nada o modelo lembrava aviões, ainda
que fosse fácil associar o perfil traseiro ao dos dirigíveis, tão em
voga na época.
Era o estilo Art Déco — que proliferou na arquitetura e no desenho de
mobília e utensílios domésticos, entre outras artes — que influenciou as
partes mais específicas do carro, como dianteira e painel. O período
entre guerras marcou nos Estados Unidos o auge dessa estética, que se
caracterizava por linhas mais simples em contrapartida ao sinuoso e
elaborado Art Nouveau. O Art Déco deixou de herança alguns dos mais
famosos cartões postais do país. Entre eles estão os hotéis à beira-mar
da Ocean Drive, em Miami Beach, Flórida, e os imponentes edifícios
Empire State Building e Chrysler Building, de Nova York, este com
para-choques de automóveis da marca nos arcos que formam seu ápice.
O primeiro protótipo do Airflow ficaria pronto do fim de 1932. Não só o
projeto foi aprovado, como impressionou Walter P. Chrysler. Foi decidido
que o modelo seria lançado no décimo aniversário da marca, em 1934.
Havia rumores de que a General Motors preparava seu próprio carro
aerodinâmico, o que fez a Chrysler apressar a etapa derradeira do
desenvolvimento do projeto. O preço dessa decisão seria pago mais tarde.
Ainda que não fosse um monobloco em si,
o Airflow ganhou uma estrutura de gaiola em que era soldada a
carroceria, um conjunto construído em aço mais forte que a combinação de
carroceria sobre chassi usual na indústria, não raro com itens de
madeira na estrutura do veículo. Outra decisão sobre o projeto é que ele
seria vendido pelas divisões Chrysler e DeSoto.
Dodge Airflow, só um caminhão (leia
boxe).
Sob os
holofotes de Nova York
Apresentado no Salão de
Nova York em janeiro de 1934, o Airflow se sagrou um dos principais
destaques. Enquanto a linha Chrysler era composta por ele e o
tradicional Six, a linha De Soto se resumia ao ousado modelo
aerodinâmico. O novo Chysler tinha faróis duplos na vertical, sendo os
superiores maiores, enquanto o DeSoto Airflow trazia uma única lente
ovalada e bem ressaltada. Continua
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