Sob as luzes dos holofotes

Um dos carros mais vistos no cinema, o Chevrolet Caprice atendeu
com conforto a seus mais fiéis usuários, os taxistas e policiais

Texto: Thiago Mariz - Fotos: divulgação

O primeiro Caprice, em 1965, era apenas uma variação do Impala sedã hardtop de quatro portas com detalhes de acabamento mais luxuosos

Um ano depois a linha ganhava a perua ("com preço ao modo Chevrolet", diz o anúncio) e o cupê com motor V8 de 6,5 litros e 329 cv

Ele nunca foi um ator famoso, tampouco concorreu ao Oscar. Protagonista? Quem dera. Mas com certeza esteve presente em centenas de filmes durante sua carreira. Os papéis muitas vezes eram secundários e discretos — ora como policial, ora como bandido. Até taxistas ele soube fazer com maestria. Mas talento é talento. O ator em questão é um carro, um modelo conhecido por muitos justamente por causa do cinema: o Chevrolet Caprice, maior e mais luxuoso sedã da marca nos Estados Unidos durante mais de 30 anos.

A história do Caprice começou na esteira de outro sucesso da Chevrolet, o Impala, em 1965. Tratava-se de uma versão mais luxuosa do sedã hardtop de quatro portas dessa linha, uma resposta ao sucesso do eterno rival — o Ford LTD, mais tarde renomeado Crown Victoria. A receita era uma suspensão mais firme e novo revestimento nos bancos, portas e carpete. Entravam também ornamentos em madeira no painel e nas portas, calotas integrais para as rodas e a opção de teto de vinil. A propaganda da época enaltecia o rodar suave e silencioso e o bom isolamento acústico. O nome da versão foi cunhado por Bob Lund, gerente de vendas da General Motors à época, depois de freqüentar um badalado restaurante assim denominado em Nova York.
 
O Caprice foi muito bem recebido durante seu primeiro ano de mercado. O desenho agradava em cheio ao seleto grupo que podia pagar mais por um carro grande, potente, luxuoso e, claro, ostensivo. Frente truncada com faróis circulares duplos de cada lado, grade horizontal com vários filetes e pára-choques envolventes também cromados eram seus cartões de visitas. Na lateral chamava atenção a ausência da coluna B, o que parecia alongar a silhueta. Por fim, uma leve ondulação — o estilo "garrafa de Coca-Cola" que tomou conta de inúmeros modelos na época — dava o caimento da traseira, que terminava em um espaçoso porta-malas. As rodas ostentavam calotas elegantes e os pneus ganhavam requinte com a faixa branca.

O lançamento da Chevrolet tinha comprimento de 5,42 metros e largura de 2,04 m. O entreeixos de 3,03 m garantia o conforto esperado na categoria. No interior as linhas retas predominavam. A escala do velocímetro era horizontal e o acabamento geral mostrava requinte e bom gosto. No console havia alguns instrumentos e uso extenso de apliques de madeira. Como era comum na corporação — e também nas demais marcas americanas —, o projeto do Caprice recebeu outros emblemas para ser vendido por diferentes divisões. Além do próprio Impala, a Buick teve o LeSabre, a Oldsmobile o 88, e a Pontiac, o Bonneville.
 
Em 1966, novas opções de carroceria ampliaram a família. O cupê hardtop tinha o mesmo teto do sedã quatro-portas, estratégia para se diferenciar do irmão Impala SS, que seguia o estilo fastback. Nesse ano o número de Caprices vendidos superou o de Impalas. Chegava também a perua, que trazia acabamento imitando madeira nas laterais da carroceria, algo muito apreciado naquele tempo. Esse Chevy quebrou um jejum, sendo o primeiro carro da divisão a oferecer uma perua desde 1954.
 
Por representar o grau máximo na linha Chevrolet, era lógico que o modelo fosse montado de série com um tradicional V8. Enquanto isso, equipamentos como câmbio automático, direção assistida, pneus com faixa branca e teto de vinil traziam um custo mais elevado, mas quase todos os Caprices saíam de fábrica com essa configuração. Curiosamente para um país que tanto aprecia a lei do menor esforço dentro de um automóvel, alguns poucos chegaram às ruas com um câmbio manual opcional de quatro marchas e o V8 Turbo Jet. Continua

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Data de publicação: 23/2/08

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