O pânico dos supercarros   Se o desempenho no mercado era excelente, nas estradas não durou muito, porém. Enquanto a Chrysler estudava a aplicação de um V8 americano ao Charger R/T, a opinião pública era mobilizada contra os automóveis de alta potência, a chamada supercar scare ou "pânico dos supercarros". Em uma entrevista com o Ministro dos Transportes Milton Morris, em junho de 1972, o jornalista Evan Green — editor de veículos do jornal The Sydney Morning Herald — alardeava que os três grandes fabricantes do país estavam preparando esportivos para alcançar 240 km/h. Justificando-se pelo risco à segurança do trânsito,  o governo decidiu interceder e reivindicar às empresas a suspensão dos projetos.

Diante das críticas populares e da reivindicação do governo, a Chrysler preferiu amansar o Charger, a começar pela versão E55, que saiu menos potente do que o pretendido; a série VJ da foto, em 1973, voltava a usar faróis circulares

Para a Chrysler, a solução para usar os motores importados foi amordaçá-los com um comando de válvulas "manso" e escapamento restritivo e adotar câmbio automático de série, o que resultou meses depois no Charger S/E E55. Anunciado como um cupê grã-turismo de luxo, da mesma categoria do Fairmont Hardtop e do Monaro LS, teve só 124 unidades produzidas. O V8 de 340 pol³ (5,6 litros) usava um carburador Carter de corpo quádruplo e rendia apenas 275 cv, menos que os E48 e E49 de seis cilindros — nos EUA, uma versão devidamente alimentada do 340 usada pelo Barracuda alcançava 340 cv. O E55 oferecia torque de sobra, é verdade (47 m.kgf), mas era 100 kg mais pesado que o E49 e assim acelerava de 0 a 96 km/h em 7,2 segundos.

A revista Sports Car World colocou-o lado a lado ao Fairmont XA com motor V8 351 e ao Monaro V8 350 e concluiu que o Charger oferecia "o melhor compromisso entre luxo e esportividade". Entre seus destaques estavam posição de dirigir, espaço no banco traseiro, comportamento dinâmico e a abundância de torque: "O motor é tão suave e silencioso que faz a aceleração parecer lenta. Mas pressionar o acelerador a, digamos, 110 km/h, produz um sólido empurrão para trás. Você pode realmente sentir o torque de caminhão. Mesmo o Monaro e o Falcon, com motores 10 pol³ maiores, parecem tímidos em comparação".

O restante da linha Valiant VJ: sedã, perua, cupê e picape, a partir da direita

A reação popular aos carros de alta potência continuava a fazer vítimas na série VJ, em 1973. Atendendo aos clamores, a Chrysler amansava as versões "quentes" E48, E49 e E55 do Charger (as siglas R/T e S/E eram abolidas) ao adotar comando de válvulas diferentes e menor taxa de compressão. Faróis circulares outra vez, novas lanternas e grade eram adotados em toda a linha Valiant, que mantinha apenas as versões básica, XL e 770. Como nos EUA e no Brasil, era adotado o Fuel Pacer, luz de aviso quando o motorista acelerasse a fundo, uma orientação para reduzir o consumo de combustível. Ainda que criticada pelos entusiastas, foi a VJ a série mais vendida na história do modelo, com 90.865 unidades em dois anos. Continua

Nas telas
Os Valiants apareceram em três filmes australianos bem conhecidos, que fizeram sucesso em todo o mundo. No primeiro da série Mad Max, de 1979, o protagonista Mel Gibson faz o papel de Max Rockatansky. Quando ele leva para consertar seu carro, um furgão Holden Panel Van, pode-se ver um Valiant de quatro portas com capô aberto à espera de conserto.

Na seqüência Mad Max 2 (The Road Warrior), em 1981, também com Gibson fazendo o mesmo papel, é a vez de um imponente Valiant Charger (acima) aparecer. Modificado, o automóvel chega a ser bizarro: grande altura em relação ao solo, pneus largos e de perfil alto, entrada de ar sobre o capô e sem faróis, mas com sinalizadores no teto. No mínimo interessante.

O outro filme é a comédia de 1986 Crocodilo Dundee (Crocodile Dundee), com Paul Hogan fazendo o papel de Michael J. "Crocodile" Dundee. Ele é um guia que leva os turistas para conhecer a Austrália selvagem e indomável. Enquanto as cenas se passam na terra do

canguru, podemos ver um Valiant Wayfarer de 1967 (acima), o picape derivado do sedã. Muito surrado, está em frente a um modesto hotel. O filme é uma comédia despretensiosa e com cenas engraçadas.

Em 1971 a Crawfords Productions produzia três seriados de TV semanais, um deles chamado Division 4, que se passava em uma delegacia de polícia suburbana. Como as polícias de Victoria usavam furgões (Panel Vans) modificados, chamados de "furgões divisionais", foi solicitado à Chrysler que fizesse um, com base no furgão Valiant da série VH, para uso na série. O veículo acabou aparecendo em vários outros seriados da empresa, como Homicide, Matlock Police e Bluey.

Francis Castaings

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