O êxito foi instantâneo: ao fim daquele ano havia 1.800 compradores na lista de espera por um Charger. Para surpresa dos americanos, era ótima a aceitação às versões de seis cilindros, que andavam tão bem quanto os V8 da concorrência e ofereciam vantagens em consumo de combustível, custo de seguro e preço. Os que preferissem um Valiant de alto desempenho com quatro portas ainda dispunham do Pacer, que não mais existia na versão cupê. Com três Webers e 218 cv no motor 265, ele manteria o título de mais rápido sedã de seis cilindros do país por 17 anos até a chegada do Falcon XR6, em 1988.

O desempenho do Charger com quatro portas: era a proposta do VH Pacer, que seria o sedã de seis cilindros mais rápido da Austrália até 1988

O Charger foi um sucesso também nas ruas e nas pistas da Nova Zelândia (leia boxe abaixo), onde as estradas sinuosas permitiam aproveitar bem sua agilidade em curvas. Para a revista australiana Wheels, ele provava "que é possível ter uma carroceria desenhada com entusiasmo e ainda um carro muito prático para transportar cinco pessoas". E explicava: "Além de um belo visual e um interior confortável, tem um comportamento muito bom e seguro. Com uma vasta gama de versões e preços altamente competitivos, ele traz um tempero esportivo ao alcance de milhares de pessoas que nunca considerariam a compra de um carro de duas portas."

Logo surgia o Charger E49, com o mesmo 265 elevado a 302 cv, graças a mudanças em pistões, virabrequim, comando, válvulas, cabeçotes e carburação. Era praticamente um motor de competição apto ao uso em rua e, de quebra, trazia o primeiro câmbio de quatro marchas na linha. Freios dianteiros a disco ventilado, suspensão mais firme, rodas com tala de 7 pol, duas opções de relação de diferencial e painel com conta-giros e manômetro de óleo também eram aplicados. Quem desejasse estender sua jornada podia comprá-lo com um tanque de combustível maior, que reduzia em muito o espaço do porta-malas.

Mais "quente" dos Valiants, o Charger E49 fazia de 0 a 96 km/h em 6,1 segundos com o motor Hemi modificado para 302 cv: o seis-cilindros mais rápido do mundo na época

Com peso de 1.370 kg, o E49 seria por anos o modelo de seis cilindros mais rápido do mundo em aceleração: fez de 0 a 96 km/h em 6,1 segundos, de 0 a 160 km/h em 14,1 s e completou o quarto-de-milha em 14,4 s no teste da Wheels. Esse desempenho fabuloso, aliado à produção de apenas 149 unidades, fez com que hoje seja considerado um clássico entre os "carros musculosos" australianos. E, para orgulho dos entusiastas do país, era quase 100% nacionalizado, à exceção dos carburadores italianos — já os motores V8 do Falcon GT e do Monaro GTS eram importados dos EUA.

Como a Chrysler esperava, o sucesso do Charger pouco afetou as vendas do sedã Valiant. Apenas o Pacer cedeu alguma participação de mercado ao novo carro, que conseguiu sua maior fatia de público entre compradores de Holden e Ford. O investimento no cupê, que respondeu por modestos 10% do total aplicado à série VH, pode ser considerado uma das verbas mais bem gastas pela Chrysler em sua história.
Continua

Nas pistas
O Valiant Charger chegou a competir na famosa prova australiana Bathurst 500, mas não teve êxito — ironicamente, não por falta de desempenho ou confiabilidade, mas por problemas de freios. No entanto, teve atuação inesquecível em corridas na Nova Zelândia, país que foi seu principal mercado de exportação.

O representante local da Chrysler, a Todd Motors, importava prontos da Austrália os cupês e peruas e montava os sedãs mais luxuosos, com o que obteve uma imagem de requinte que o Valiant não conseguia no mercado de origem. Quando surgiu o VH Charger, porém, a Todd passou a também montá-lo na versão 770 Hemi de seis cilindros e 203 cv, o que foi feito entre 1971 e 1976. O sucesso foi tanto que o carro chegou a ser vendido com ágio de 20% no mercado paralelo.

Ao contrário da tímida experiência da Chrysler australiana em competições, a Todd decidiu patrocinar o Valiant e o Charger nas pistas, o que faria deste último o carro de produção em série mais vitorioso em corridas da Nova Zelândia. Esses modelos venceram por nada menos que nove anos, de 1970 a 1978, a 500 Milhas (depois 1.000 Quilômetros) de Benson & Hedges, no circuito de Pukekohe, prova tão importante no país quanto a de Bathurst para os australianos ou a de Indianápolis para os americanos.
O Valiant Regal 770 com motor V8 318 foi o vencedor nos dois primeiros anos, dando lugar em 1972 ao Charger 770 com o Hemi de seis cilindros e 265 pol3. Mesmo com menor cilindrada, o Charger superava o Regal V8, pois a robustez do Hemi fazia a diferença em corridas de longa duração. Em todos esses anos, poucas vezes um Charger deixou a prova por problemas no motor. Modelos de marcas consagradas como Holden Monaro, Ford Falcon, Jaguar XJ6 e Mazda RX2 ficavam para trás.

Leo Leonard (vencedor da B&H sete vezes, sendo quatro com Chryslers) e Jim Little foram os pilotos de maior destaque ao volante dos Valiants. Certa vez a Ford australiana enviou o notável Allan Moffatt, que vinha liderando as provas naquele país, e seu Falcon GT-HO com motor V8 351 para disputar com o Charger E49 de Leonard na Nova Zelândia. Pois o Chrysler foi mais rápido nas duas vezes em que eles se encontraram.

A carreira do Charger nas pistas neozelandesas durou até o início dos anos 80. Outras provas vencidas por ele ou pelo Valiant foram Golden 100 Pukekohe, Shell 100 Levin (1972), Glenvale 200 Bay Park, Splashe 200 Manfeild (1975) e Albert Autos 500 Manfeild (1977). A Todd Motors continuou a montar a linha Valiant até 1979, quando a substituiu por modelos trazidos da Austrália por mais dois anos.

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