Nasce a Série F   Encerrada a guerra, em 1945, a economia americana vivia um tempo de prosperidade. Todos os fabricantes corriam para desenvolver novos automóveis que conquistassem os entusiasmados compradores, e não era diferente com a Ford e seus picapes. A liderança do segmento havia sido perdida para a GM, que acabou chegando ao mercado cerca de seis meses antes. Isso justificava um investimento de porte em busca da recuperação.

Em 1948 chegava a Série F, com capacidade de carga entre 500 e 1.000 kg, duas opções de entreeixos e motores de seis e oito cilindros

A linha 1948 trazia, enfim, a Série F, composta pelos modelos F-1 (com capacidade de 500 kg e distância entre eixos de 2,89 metros), F-2 (750 kg e 3,04 m) e F-3 (uma tonelada e o mesmo entreeixos). O menor era chamado realmente de picape, e os demais, de caminhões expressos. Os primeiros veículos saíam das fábricas de Highland Park (Michigan) e Richmond (Califórnia) em 27 de novembro de 1947, mas outras 13 unidades nos EUA e uma no Canadá participariam da produção mais tarde. Parece muito, mas se justificava pelas dificuldades de distribuição pelo país na época, que tornavam mais interessante a montagem regional.

Uma ampla campanha junto aos revendedores procurava despertar seu interesse pela novidade. Àquele tempo o mercado de utilitários era restrito a fazendeiros e empresas, que adquiriam veículos quase sem opcionais e resultavam em margens de lucros bem menores que as obtidas com automóveis de luxo. Assim, o material interno da Ford convidava-os com argumentos como "oportunidades de estatura inédita", "são tudo o que um vendedor de utilitários gostaria que eles fossem" e, claro, maiores comissões na venda.

"Moderno, diferente, o mais quente da história": uma forte campanha, tanto publicitária
quanto junto das concessionárias, procurava acender o interesse pela nova linha

O desenho arredondado do novo picape incluía uma cabine mais ampla, pára-brisa inteiriço e faróis integrados às formas da grade, de frisos largos horizontais. Curioso é notar que o mais baixo deles trazia um furo por onde se podia inserir uma manivela de partida — imagine ligar um V8 "no braço"... No interior, havia escolha entre câmbios de três marchas (com alavanca na coluna ou no assoalho) e quatro marchas no assoalho, mas ainda sem sincronizadores, o que exigia dupla-embreagem nas mudanças. Continua

Nas telas
Os picapes da Ford americana apareceram em vários filmes de sucesso daquele país. Em 1963 estreava It's a mad mad mad mad world, que no Brasil se chamou Deu a louca no mundo. Esta comédia de qualidade reuniu nomes famosos em papéis estratégicos: Spencer Tracy fez o papel do delegado Capitão Culpeper e em pontas apareciam Jerry Lewis e os Três Patetas. No princípio do filme, um sedã preto está em alta velocidade nas estradas do deserto de Nevada, quase na divisa com a Califórnia. Ultrapassa perigosamente cinco veículos e cai em um penhasco.

O motorista, antes de morrer, revela que existe um tesouro debaixo de um grande W. Os condutores dos automóveis ultrapassados ouvem e partem em velocidade pela sinuosa estrada. A primeira vitima do grupo é um picape Ford 1948 que vem em sentido contrário. Na caçamba havia a mudança de um pobre casal. O utilitário sai da pista e desce a ribanceira, perdendo toda a carga. Ótima comédia.

Na versão original de Gone in 60 seconds, de 1974, um caminhão-guincho Ford da época, com frente e cabine iguais às dos picapes Série F (inclusive os brasileiros), é usado pela gangue de ladrões para buscar carros acidentados no ferro-velho, que depois cedem as marcações de chassi para "esquentar" modelos roubados. Em certo momento o motorista trava uma boa perseguição com um carro de polícia, com o detalhe de que, atrelado ao guincho, está um Dodge Challenger! Apesar das manobras ousadas, é claro que o caminhão e o Dodge saem inteiros, enquanto o carro policial acidenta-se e abandona a perseguição... Esse filme inspirou a produção da versão de 2000, que no Brasil chamou-se 60 segundos.

Em Forrest Gump, de 1994, o genial Tom Hanks faz o papel do pitoresco "contador de histórias" de mesmo nome. Quando criança, usando aparelhos para sustentar as pernas, ele molestado por garotos que o perseguem de bicicleta. Na fase adulta e sem o aparato metálico, ele corre dos malvados, já adultos também, que estão a bordo de um picape verde da década de 1950.

Em As pontes de Madison (The bridges of Madison County), de 1995, Clint Eastwood é o fotografo Robert Kincaid, da famosa revista National Geographic. Ele percorre o estado de Iowa para registrar em sua máquina as belas pontes locais. E conhece a bela Meryl Streep, que faz o papel de uma pacata senhora chamada Francesca Johnson. Numa das cenas ela vai a seu encontro num picape branco modelo 1951. Belo filme.
Prisioneiro do Passado (Heaven's Prisoners), de 1996, com Alec Baldwin, Kelly Lynch, Mary Stuart Masterson, Eric Roberts e Teri Hatcher, é uma história que se passa no estado americano de Louisiana. Nos arredores de New Orleans, numa grande avenida, dentro de um bonde, há uma briga entre Alec, que interpreta um ex-policial Dave Robicheaux, e um malfeitor. O condutor perde o controle do veículo e bate violentamente, num cruzamento, num picape Ford de 1972.

No policial Risco Duplo (Double Jeopardy), com a bela Ashley Judd, Tommy Lee Jones e Bruce Greenwood, de 1999, Ashley, que faz o papel de Elizabeth Parsons, é mãe de um garoto de três anos. Logo no princípio ela é injustamente condenada pelo assassinato de seu marido Nicholas, embora o corpo nunca tenha sido encontrado. Na prisão, descobre que o marido tramou tudo com a amante para ficar com a fortuna do seguro de vida e resolve se vingar. Anos depois, consegue a condicional e conhece o policial Travis Lehman, interpretado pelo grande Lee Jones. Em sua busca pela verdade, perseguida por Travis, passa na casa de sua mãe. Esta, além de dinheiro, empresta um F-150 verde com capota branca, com caçamba longa, ano 1971, já um tanto surrada para ela seguir em busca de justiça. Numa pequena cidade, em investigações sobre o paradeiro do ex, ela tem que escapar, tira carros de sua trajetória e faz belas manobras. Bom filme.

O Justiceiro (The Punisher), de 2004, conta a história de um competente agente do FBI, Thomas Jane (Frank Castle), que arma uma emboscada para traficantes em um porto onde se trocam armas por drogas. Nesta morre o filho de Saint (John Travolta), que interpreta o chefe de uma organização criminosa. Em Porto Rico, o agente está com a família de férias e recebe a visita inesperada dos capangas de Saint. A mulher de Frank sai em disparada com o filho a bordo de um Blazer antigo, rebocando uma lancha, e é perseguida pelos capangas, que estão num Série F vermelho modelo 1996. As cenas são muito boas.

Os picapes também ganharam espaço na televisão brasileira com a novela América, da Rede Globo, em que vários personagens tentam cruzar a fronteira do México com os EUA ilegalmente. Diferentes gerações do F-150 podem ser vistas nas cenas que mostram os mentores da imigração clandestina.

por Francis Castaings

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