O esportivo 1093 tinha motor preparado para render 42 cv, com um ruído característico, além de suspensão rebaixada e pneus radiais

Em 1964 chegava a versão esportiva, chamada como na Europa de 1093. O motor, de mesma cilindrada dos demais, adotava taxa de compressão de 9,2:1 em vez de 7,7:1 (o que exigia a gasolina de alta octanagem da época, a "azul"), carburador de corpo duplo progressivo a vácuo de 32 mm, novo comando de válvulas com maiores levantamento e duração e um escapamento menos restritivo. A potência subia para 42 cv a 5.800 rpm. A quarta e última marcha vinha mais curta, passando de 1,03:1 para 1,07:1. Além disso, a suspensão traseira era rebaixada para proporcionar cambagem menos positiva, com ganho em estabilidade, e os pneus eram Pirelli em medida métrica, uma tradição francesa: 145-380, em que o aro de 380 mm correspondia a pouco menos de 15 pol.

O grande charme do 1093 era o conta-giros mecânico marca Jaeger, francês, instalado no lugar do pequeno porta-luvas na extremidade esquerda do painel do Dauphine e do Gordini. Àquele tempo conta-giros era um instrumento raro. Não menos charmoso era o som característico do trem de válvulas, resultado do comando destinado a dar mais potência. Nem era preciso olhar o emblema de identificação na carroceria para saber que um 1093 estava por perto. Por esses requintes pagavam-se 9% mais que um Gordini e 19% acima do preço do Dauphine, em 1965.

O conta-giros era um dos charmes do 1093, que neste exemplar possui um volante
especial; como nos demais, era possível dar partida ao motor com a chave de roda

O Teimoso   Uma versão simplificada chegava também em 1964, para atender ao programa do carro econômico lançado pelo governo. O objetivo era contornar a recessão da economia, desde o início do governo militar, com redução de preços e um financiamento de quatro anos pela Caixa Econômica Federal a juros baixos. Surgiram então versões despojadas ao extremo do Volkswagen (chamada Pé-de-Boi), da perua DKW-Vemag Vemaguet (Pracinha), Simca Chambord (Profissional) e do Gordini, que foi batizada de Teimoso. Continua

Nas pistas
O Gordini e o 1093 (foto) estiveram em corridas de pista, ralis e reides da década de 1960. Na Europa, o maior feito foi o 1093 de Pierre Orsini e Jean Canonicci vencer o Tour de Corse de 1962, na França, em que 14 dos 23 veículos que terminaram a prova eram desse modelo. Georges Nicolas faturou com essa versão o Rali Safári no leste africano e, no mesmo ano, Gaston Perkins e Roberto Larghero venceram a 6 Horas de Buenos Aires. Suas participações no Rali de Monte Carlo também foram marcantes. Mesmo na neve não se intimidava.

Na França, em 1961, o serviço de competição da Renault era dirigido por François Landon. Ele tinha a incumbência de preparar um modelo para o Grupo A, para carros de turismo de série. Surgia assim o 1093 (leia no texto principal), um carrinho atraente e invocado. A vitória mais notável foi na Volta da Córsega, em novembro de 1962. Também brilhou em vários ralis regionais. Pilotos de renome debutaram no valente carro, como Jean-Pierre Nicolas, Gérard Larrousse, Claude Ballot-Léna, Henri Pescarolo e Guy Chasseuil. Entre 1962 e 1963 foram construídos 2.100 exemplares da versão.

Em tempos mais recentes, o Dauphine e seus derivados podem ser vistos em competições de carros antigos. Gérard Larrousse, que pilotou desde o 1093 até um Formula 1 na era turbo, disse sobre essa versão do sedã Renault que, "por causa da pouca aderência, era instável e gostava de pôr as rodas viradas para o céu", ou seja, capotava facilmente. "Devido a isso aprendia-se muito a dirigir neles."

No Brasil
Foi em 1962 que suas vitórias começaram por aqui. No Festival de Recordes em Interlagos e no Circuito de Araraquara, SP, Chico Landi e Toni Bianco venceram com o Gordini nº 21, com motor de 998 cm3. Em junho, na prova Quilômetro de Arrancada no Rio de Janeiro, outro 1º lugar. Em setembro, na 500 Quilômetros de Interlagos, a dupla Landi/Bianco ficava com o 5º na geral. Fechando o ano, em dezembro, na 500 Milhas de Porto Alegre, no Circuito da Cavalhada, a equipe de Luiz Antônio Greco obtinha o 3º lugar geral e o 1º na categoria 850 com dois Gordinis, um deles 1093.

No ano seguinte, na 12 Horas de Porto Alegre, o Gordini ficou com os três primeiros lugares na categoria 850 cm3. Poucos dias depois, em São Paulo, venceu a Prova de Estreantes no Prêmio II Aniversário da ACESP. Em agosto, em Araraquara, obteve novamente os três primeiros lugares na categoria de cilindrada. No mês seguinte levava os dois primeiros lugares em sua classe na 3 Horas de Interlagos. Na prova em homenagem ao grande Christian Heins, a 100 Milhas de Interlagos, outra vez com os dois primeiros lugares na categoria. Para fechar o ano, em novembro, na 1.500 Quilômetros de Interlagos, os dois primeiros lugares foram do 1093, seguidos por dois Gordinis.

Em 1964 o Nordeste viu o Gordini ficar com o 1º e 2º lugares na prova Circuito Força Livre, em Recife. Dois 1093 também fizeram a dobradinha em Brasília, em maio. Seu êxito cruzou a fronteira e foi ao Uruguai, em Rivera, vencer carros de maior cilindrada no Campeonato Sul Americano. No final do ano, naquele país, sagrou-se campeão na categoria. Durante a temporada de 1964, estabeleceu 133 recordes em Interlagos, sendo 54 locais, 54 nacionais e 25 internacionais. Na publicidade era anunciado que em 22 dias havia rodado o equivalente a uma volta ao mundo ou três anos de uso normal.

Com um 1093 o grande Émerson Fittipaldi venceu uma de suas primeiras provas, no circuito da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, na categoria Estreantes. Outros pilotos de renome nacional estiveram ao volante do carrinho, como Luiz Antônio Greco, Eduardo Scuracchio, Christian Heins, Wilson Fittipaldi Jr. e Francisco Lameirão.

Em 1965, dividindo um 1093, Luiz Pereira Bueno e José Carlos Pace venceram a 1.600 Quilômetros de Interlagos, uma das provas mais longas e importantes do calendário brasileiro. Foi heróico! Chegaram automóveis mais modernos, potentes e aerodinâmicos, mas o carrinho deixou sua marca. Na equipe Willys, com a pintura em amarelo com faixa verde (acima), e em outras particulares. Um fenômeno.

Francis Castaings

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