Com 6 cv líquidos adicionais e câmbio de quatro marchas, o Gordini era mais ágil: "apenas" 28 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h

Gordini e 1093, mais potentes   Em julho de 1962 era lançado o Gordini, com motor mais forte. Comando de válvulas, válvulas, carburador, coletores de admissão e de escapamento e taxa de compressão diferentes o levavam a 32 cv a 5.200 rpm (40 cv brutos), com torque de 5,75 m.kgf a 3.800 rpm. O câmbio passava a ter quatro marchas — a primeira ainda sem sincronização — mas, como era comum ao tempo, a fábrica apenas substituíra a segunda por duas marchas, deixando a última (agora quarta) com a mesma relação de antes.

O objetivo, portanto, não era obter menores consumo e ruído em uso rodoviário com uma quarta longa, mas sim melhorar o aproveitamento da potência com o menor intervalo entre as relações de marcha. De fato, o Gordini era mais ágil: acelerava de 0 a 100 km/h em cerca de 28 segundos e alcançava mais de 120 km/h, com o que deixava facilmente o Fusca 1.200 para trás. Era também mais silencioso que o Volkswagen, para o que concorria a refrigeração a água, e permanecia econômico. Na suspensão, os amortecedores estavam mais firmes e os freios tinham lonas mais largas.

Saltando ou transpondo trilhos de ferrovia, o Gordini aparecia na propaganda
em cenas de ação, com o destaque à potência bruta de 40 cv "de emoção"

As duas marcas travavam curiosas guerras na publicidade, cada uma em defesa do sistema de arrefecimento que adotava (leia boxe abaixo). Em julho de 1962 o VW já custava 892 mil cruzeiros, mais que o Dauphine (783 mil) e também o Gordini (848 mil). A propaganda do novo Willys destacava os "40 hp de emoção", alusão à potência bruta, em imagens de ação como um salto e a travessia de um trecho alagado ou de trilhos de ferrovia. Apesar da imagem de valentia, os carros não tinham na durabilidade seu ponto alto: logo ganharam como apelido uma marca de leite em pó solúvel da época, Glória, cujo mote era "Desmancha sem bater"... Continua

Ar vs. água
A Willys e a Volkswagen travaram uma interessante guerra na propaganda em publicações especializadas. Cada uma tentava convencer o público de que suas soluções eram as melhores. Num anúncio do Fusca, chegava-se a dizer que "seria extremamente simples adotar quatro portas", mas que a empresa preferia não o fazer pela segurança das crianças que viajavam atrás — embora o Dauphine tivesse travas infantis nas portas. Sem dúvida, campanhas como essa foram responsáveis em boa parte pela rejeição brasileira às quatro portas até os anos 90, um caso único no mundo.

Mais que pelas portas, no entanto, Willys e VW discutiam sobre a refrigeração do motor. Os anúncios do Fusca destacavam sua simplicidade de manutenção, sem radiador e mangueiras d'água que pudessem dar problemas. Além disso, "o ar não ferve", lembrava a propaganda, em um tempo em que eram comuns carros parados nas subidas de serra, à espera de que o motor refrigerado a água esfriasse.
Uma das peças ironizava: "Até tu, Volkswagen?", ao mostrar um frentista abastecendo com água um reservatório sob o capô dianteiro. O texto então esclareceria que, graças àquele mecanismo de bomba e mangueiras, era possível... lavar o pára-brisa!

Por sua vez, a Willys argumentava: "Economia de água? O Gordini economiza o que é importante", referindo-se ao menor consumo de combustível. O resultado dessa curiosa briga já é conhecido: os pequenos Renaults acabaram três décadas antes do definitivo encerramento do Fusca, mas a refrigeração a água continua aí, em todos os carros — o último motor "a ar" foi aposentado na Kombi para a linha 2006.

Vale notar que a disputa não acontecia só aqui. Nos Estados Unidos, um anúncio do Dauphine alfinetava: "Há dois carros importados mais vendidos. Este é bonito. E tem quatro portas, não duas." Precisa-se dizer qual era o outro automóvel?
Nas telas

Em filmes franceses ou passados na França os pequenos Renaults aparecem muito. No ótimo Chocolate (Chocolat), realizado em 2000, com a belíssima Juliette Binoche, o competente Johnny Depp e Judi Dench, passado numa cidadezinha do interior da França, pode-se ver um Dauphine azul estacionado numa das ruelas perto da casa de chocolate fundada por ela. O carrinho (abaixo) está impecável.

Na continuação de Operação França (The French Connection II), de 1975, com interpretação excelente de Gene Hackman (Jimmy "Popeye" Doyle), nas cenas passadas no sul da França, em Marselha, aparece um Dauphine branco com faixas passando na rua. Não é melhor que o primeiro filme, mas vale a pena.

O modelo brasileiro surge em O Que É Isso, Companheiro?, de 1997, filme ambientado na década de 1960, que traz como protagonistas o americano Alan Arkin (Charles Burke Elbrick) e os brasileiros Fernanda Torres (Maria), Pedro Cardoso (Fernando/Paulo), Luiz Fernando Guimarães (Marcão) e Cláudia Abreu (Renée). O filme é sobre o golpe militar de 1964 e, após alguns anos de manifestações políticas, o Ato Constitucional nº 5, promulgado em dezembro de 1968, que acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis.

Vários estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade. Em 1969 militantes do MR-8 elaboram um plano para seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos, vivido por Alan Arkin, e trocá-lo por prisioneiros políticos. Renée aparece em várias cenas em um Gordini vermelho. É um filme brasileiro muito bom.

Na novela Celebridade (2003), da TV Globo, o Gordini teve participação importante no desenrolar das histórias de Lineu (Hugo Carvana) e Corina (Nívea Maria). Em sua juventude, Corina era disputada por dois amigos, Lineu e Hélio. A moça acabou se casando com Hélio por ele ter um Gordini preto (acima). Mas, como o mundo nas novelas sempre surpreende, Hélio perdeu todos os seus bens, inclusive o Gordini, e quem arrematou o carro foi o próprio Lineu, rico empresário do setor de comunicação, que o manteve impecável e estacionado na garagem do Grupo Vasconcelos. Imagine-se a cara de Corina quando descobriu o fato...

Na antiga novela Carinhoso, também da Globo, o ator Cláudio Cavalcanti fazia papel de um professor de inglês que possuía um Gordini, cujo apelido era Cacilda.

Francis Castaings / Thiago Mariz

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade