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por Iran Cartaxo

Mercedes ML 230: utilitário se torna esportivo
com compressor e veneno aspirado


Há algum kit que aumente o torque em baixa rotações para o motor de quatro cilindros (2.300 cm3) que equipa a Mercedes-Benz ML 230 com câmbio manual? Para aumentar o torque em baixas rotações, o ideal seria um kit de compressor com correia, e não de turbocompressor (que é melhor para maiores rotações)?

Guilherme Almeida
guilherm@uol.com.br

Preparação de um caro veículo importado é sempre um desafio maior. São poucos os profissionais que se habilitam a alterar esses carros, e menos ainda as possibilidades de veneno disponíveis em nosso país. Claro que sempre se pode importar as peças da preparação, mas quando se trata de um modelo de uso fora de estrada, e ainda mais de lançamento relativamente recente, tudo fica ainda mais difícil -- mas nada que seja tão desanimador como pode parecer.

As curvas de potência (as mais altas) e de torque estimadas para o Mercedes ML 230 original, com remapeamento e coletor dimensionado (em verde) e com compressor de acionamento mecânico (em vermelho)

Esse motor é usado em automóveis da linha Mercedes, como CLK e SLK, equipado com um compressor de acionamento mecânico de fábrica. Por isso os europeus desenvolveram uma série de venenos para esse motor, mas a maioria das receitas visam a potência e não torque, como seria desejado em um fora-de-estrada. Mas maior potência sempre se traduz em maior torque, desde que não se eleve em demasia o regime de giros. Por isso a tarefa é procurar receitas que não alterem consideravelmente o regime de rotações.

O mais indicado é realmente um compressor mecânico. Um turbo de baixa inércia também resolveria, entregando força já em baixos giros, a exemplo dos Audis e VW 1,8 turbo. Mas seria tão difícil encontrar um profissional disposto a fazer esse serviço em seu carro, que pode nem ser viável tentar. Um compressor mecânico como o usado nos automóveis Mercedes seria o ideal, pois é um compressor já otimamente dimensionado, que roubará pouca potência para funcionar e se encaixará perfeitamente em seu motor.

A única dificuldade é encontrar um compressor destes a preço acessível. Uma opção seria encontrá-lo num desmanche, pois encomendar a uma autorizada provavelmente seria mais caro que trocar o próprio carro por um mais potente, como o ML 320 de 6 cilindros. Vale lembrar o risco de comprar componentes de carros roubados em desmanches, o que inclusive o enquadraria como receptador -- o que é crime. Exija sempre nota fiscal e examine o estabelecimento para certificar-se de sua idoneidade.

Para aplicar um compressor destes a seu motor não é necessário recorrer à troca completa do sistema de injeção para ajustar seu funcionamento ao novo equipamento. Uma caixa de gerenciamento adicional, ou uma injeção extra (deferente da caixa por possuir autoajuste), podem dar conta da regulagem de mistura e ponto de ignição necessária. São equipamentos conhecidos e usados com facilidade pelos melhores preparadores brasileiros, mesmo em modelos importados. O remapeamento seria uma alternativa para ajuste de mistura e ponto, mas será mais difícil, não de ser feito, mas de achar um profissional disposto a fazê-lo.

Conrtudo, seu motor não se tornará equivalente ao do SLK/CLK Kompressor, por exemplo, com a simples adição do superalimentador. Seu ML tem coletor de admissão, comando de válvulas e diversas peças próprias, que não seriam trocadas. O resultado da combinação destas peças e ajustes, já presentes em seu motor, com o compressor teria resultado semelhante a um motor de CLK Kompressor que tivesse sua "parte aspirada" preparada, ou seja, os regimes de giros seriam mais altos, mas os valores de torque e -- sobretudo -- potência seriam também mais elevados.

Isso fica bem claro quando se observa a simulação. O torque máximo passará a ocorrer a 3.800 rpm, e no SLK/CLK ele se dá a 2.500 rpm -- mas seu valor será 5,4 m.kgf maior. A potência terá maior impacto e será 34 cv maior que a do Kompressor de fábrica. Claro que se podem trocar estas outras peças para ter o torque a um regime mais baixo, mas o valor máximo seria reduzido.

Convém dizer que a taxa de compressão atual de seu motor o tornaria suscetível à detonação: 10,4:1, combinados com sobrealimentação, tornam um pouco difícil contornar o problema através de regulagem. O mais seguro seria reduzir a taxa em 1 ponto, usando uma junta especial ou trabalhando o coletor ou os pistões. Essa providência tornará acessível a um maior número de preparadores a regulagem de seu motor; caso contrário, poucos profissionais no país seriam capazes de regular seu carro para evitar a detonação e você seria obrigado a usar gasolina de alta octanagem, nem sempre disponível.

Ainda assim a taxa de compressão obtida com a redução de 1 ponto na original é mais alta que a usada pelo SLK/CLK Kompressor e ajudaria a aumentar a potência a torque atingidos, assim como reduziria o consumo e emissão de poluentes.

Cabe dizer que é imperativa a instalação de um intercooler junto a esse compressor para permitir uma melhor regulagem, o uso de uma taxa de compressão mais alta e melhores resultados de potência e torque, além de proteger o motor reduzindo o risco de detonação. Pode-se usar o original que é aplicado junto com esse compressor no SLK/CLK.

A pressão de sobrealimentação conseguida no coletor por esse compressor da Mercedes é originalmente baixa, e pode ser um pouco aumentada caso se opte por usar a mesma taxa de compressão do Kompressor de fábrica, de 8,8:1. Para elevar a pressão bastaria reduzir a relação de transmissão do acionamento do compressor, o que reduziria a vida útil do compressor (já que este trabalharia a rotação mais elevada), mas não em muito caso a elevação de pressão desejada também não seja muita. Com esse recurso a potência e torque conseguidos seriam ainda maiores.

Mas não se deve ignorar a dificuldade que seria encontrar um compressor destes e ainda achar um profissional disposto, com conhecimento e equipamentos suficientes para instalá-lo. Desta forma pode-se optar por uma preparação mais simples, envolvendo apenas um remapeamento ou procedimento equivalente, que pode ser conseguido com uma caixa ou injeção adicionais, e um coletor de escapamento dimensionado de boa qualidade.

O remapeamento visa a enriquecer um pouco a mistura, saindo da regulagem de melhor consumo e indo para a de maior potência. Isso se dá com um pequeno enriquecimento, que se for excessivo atrapalhará a queima e surtirá efeito contrário, além de prejudicar o sistema antipoluição. Claro que o consumo aumentará, mas não a níveis preocupantes. Com o remapeamento o ponto de ignição também será alterado, buscando o limite de detonação, o que aumentará o torque e potência e ajudará a conter um pouco o aumento de consumo.

O coletor de escapamento dimensionado aumentará um pouco os regimes de rotação, mas elevará um pouco o torque e potência e ajudará a aproveitar melhor o remapeamento -- que deverá ser feito só após a instalação do coletor dimensionado, para que seja adequado a este. Para conseguir um coletor assim basta encomendá-lo a uma empresa especializada em sua fabricação artesanal. No Brasil existem algumas que alcançam ótima qualidade.

Observe o desempenho simulado para ambas as preparações:

  Original Remapeamento e dimensionado Compressor mecânico
Potência máxima 150 cv 162 cv 227 cv
Rotação de potência máxima 5.400 rpm 5.600 rpm 5.400 rpm
Velocidade máxima 180 km/h 184 km/h 207 km/h
Rotação à velocidade máxima 4.855 rpm 4.980 rpm 5.575 rpm
Aceleração de 0 a 100 km/h 12,3 s 11,6 s 9,0 s
Torque máximo 22,4 m.kgf 23,3 m.kgf 33,9 m.kgf
Rotação de torque máximo 3.800 rpm 3.950 rpm 3.800 rpm
Aceleração longitudinal no interior do veículo 0,50 g 0,54 g 0,69 g
A margem de erro é de 5% (para cima ou para baixo), considerando-se instalação bem-feita. Calculamos a aceleração de 0 a 100 km/h e a aceleração longitudinal máxima (sentida no interior do automóvel) a partir da eficiência de transmissão de potência ao solo do carro original. Para atingir os resultados estimados pode ser necessária a recalibragem da suspensão, reforços no monobloco e/ou o emprego de pneus mais largos. A velocidade máxima estimada só será atingida com o ajuste recomendado da relação final de transmissão. Os resultados de velocidade são para velocidade real, sem considerar eventual erro do velocímetro. A rotação à velocidade máxima é calculada considerando a relação atual de transmissão.
Algoritmo de simulação de preparação de motores desenvolvido pelo consultor Iran Cartaxo, de Brasília, DF.
Com essa combinação simples de remapeamento e coletor dimensionado, os efeitos em seu motor já seriam sensíveis. Nem se fale então do resultado que seria sentido com o compressor, que pode ser observado na simulação. Outra solução simples, que poderia ser facilmente aplicada, é o sistema de injeção de óxido nitroso, o conhecido kit nitro. Mas sua aplicação não é a mais recomendada para uso em fora de estrada, por sua entrada brusca, limitando o controle sobre a força necessário em trilhas, e também pela pequena autonomia (tempo que pode ser usado até o esvaziamento do cilindro) do sistema.

O sistema de freios, rodas e pneus já está bem ajustado para qualquer das preparações simuladas, já que é usado na versão ML 320 de 218 cv, potência pouco inferior à do 230 com compressor adaptado. Por fim, é só tomar coragem, pôr a mão no bolso, implementar as modificações e depois sair para curtir o novo desempenho de seu utilitário esportivo, agora digno desta última palavra.


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